quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Goldman ensina como ganhar na crise


Um estrategista de peso do Goldman Sachs Group Inc. traçou um cenário particularmente sombrio para a economia aos clientes de fundos de hedge do banco e deu sugestões de como esses operadores podem tirar vantagem da crise financeira na Europa.
No relatório de 54 páginas enviado para centenas de clientes institucionais do Goldman e publicado em 16 de agosto, Alan Brazil - um estrategista do Goldman que faz parte da mesa de operações do banco - argumenta que serão necessários pelo menos US$ 1 trilhão em capital para recuperar os bancos europeus; que as pequenas empresas nos Estados Unidos, um motor para as contratações no passado, ainda estão se arrastando; e que o crescimento da China pode não ser sustentável.
Entre as sugestões de Brazil para fazer aplicações baseadas nessa análise pessimista: uma opção de investimento sofisticada que permita apostar na queda do euro, e uma aplicação de desvalorização através de um índice de contratos de seguro para o crédito de ações financeiras europeias. O relatório também inclui algumas informações detalhadas sobre as instituições financeiras europeias e esclarece a profundidade dos problemas na Europa, nos EUA e na China.
Um porta-voz do Goldman Sachs disse: "Para o seu conhecimento, as instituições financeiras publicam relatórios sugerindo estratégias para atender às necessidades dos clientes. Se os clientes quiserem fazer hedge de exposições existentes ou assumir posições de compra ou de venda, nosso objetivo é ajudá-los a superar os desafios apresentados pelo mercado." Por meio do porta-voz, Brazil, que tem 57 anos, não quis comentar.
O relatório é divulgado num momento em que o Goldman e seus principais concorrentes disputam negócios nas áreas de consultoria e de banco de investimento na Europa. Na quarta-feira, o Goldman Sachs e outros dois grandes bancos realizaram uma conferência em Londres na qual o secretário de Economia da Espanha, José Manuel Campa, planejava detalhar as medidas de austeridade fiscal do governo espanhol e apresentar o modelo do país para os investidores, segundo um convite ao qual o "Wall Street Journal" teve acesso. O Goldman tem posição de liderança entre os bancos nas operações de vendas de títulos de dívida soberana da Espanha.
As firmas de Wall Street já tentaram vender sugestões de investimento para fundos de hegde que seriam recompensadas em tempos de crise no passado. Antes da crise financeira de 2008, o Goldman e outros grandes bancos de Wall Street aconselharam seus clientes com apostas na desvalorização do mercado imobiliário envolvendo swaps de crédito - os chamados CDS, semelhantes a contratos de seguro cujo preço sobe quando cai o valor dos ativos em que eles se baseiam - criados pela instituição. O Goldman às vezes foi a parte que apostava na queda, mesmo quando estava vendendo para clientes posições de aposta na alta.
As ideias de negociação do relatório publicadas pelo estrategista Alan Brazil, no entanto, são diferentes dos produtos atrelados às hipotecas vendidos pelo Goldman, porque esses últimos envolvem produtos financeiros que já existem, como opções e índices. Como um "formador de mercado" nos produtos listados no relatório do estrategista, o Goldman está oferecendo unir as alternativas de investimento descritas pelo banco. Quando o Goldman conduz esse tipo de operação, o banco embolsa comissões mais altas do que as operações com ações, que rendem apenas alguns centavos por ação. As posições de investimento do Goldman poderiam, talvez, se beneficiar caso os fundos de hedge e outros clientes façam apostas baseadas no relatório. O Goldman diz em negrito no começo do relatório que outros operadores do banco, ou "empregados do Goldman" podem já ter feito investimentos com base no relatório.
Claro que o estrategista do Goldman não está sozinho em sua visão sombria sobre a Europa: as apostas pessimistas para o mercado europeu predominam em Wall Street. Brazil também não está ligado aos instrumentos financeiros mencionados no relatório. Por exemplo, a unidade de Pesquisa e Estratégia em Commodities e Economia Global do Goldman divulgou um relatório sobre câmbio em julho que menciona as perspectivas de apostas numa queda do euro em relação ao dólar e ao franco suíço. Outros bancos de investimento têm estrategistas que fornecem dicas de investimento para fundos de hedge.
O relatório, divulgado pelo grupo de Estratégia de Fundos de Hedge da divisão de títulos, dá acesso às sugestões de investimento que serão criadas para os fundos de hedge por estrategistas como Brazil, que fazem parte da mesa de operações do Goldman, e não da equipe de pesquisa.
Tais estrategistas sentam lado a lado com os operadores que executam as negociações para os clientes. Ao contrário de analistas das divisões de pesquisa das empresas - que supostamente devem ficar isolados das informações sobre as atividades dos clientes da firma - esses estrategistas das mesas de operação têm uma visão privilegiada do vaivém das apostas de investimento dos clientes.
Eles podem ver se existe um forte interesse entre os fundos de hedge em assumir posições com apostas de baixa para um determinado setor e observam os volumes de negociação secarem ou explodirem. O ponto de vista deles é alimentado mais por informações, frequentemente confidenciais, sobre os clientes do que por opiniões de analistas, fazendo com que suas sugestões sejam altamente valorizadas pelos operadores.
O próprio relatório observa que as informações ali contidas não são consideradas como pesquisa pelo Goldman. "Esse material não se trata de consultoria independente e não é um produto da [unidade] de Pesquisa de Investimento Global", destaca. Gestores de fundos de hedge são aconselhados a não repassar os relatórios de Brazil, e cada página tem o nome do cliente de fundo de hedge. Não está claro se algum cliente fez aplicações baseadas nessas sugestões.
O relatório de Brazil traz uma linguagem e detalhes sobre os problemas do mercado que normalmente não aparecem em materiais de pesquisa para o público. Os fundos de hedge devem se preparar para tempos difíceis, ele sugere. "Lá vamos nós outra vez", diz ele no relatório, em meio a vários gráficos mostrando estatísticas negativas semelhantes aos vistos em 2008. Brazil escreve: "Resolver um problema de dívida com mais dívida não resolveu o problema atual. Nos EUA, a alta da dívida do Tesouro financiou o consumo, mas não teve impacto sobre a criação de empregos. Os EUA podem continuar a depreciar a moeda de base mundial?", pergunta.
Brazil dá detalhes sobre os financiamentos de 77 instituições financeiras da Europa, identificando alguns que são especialmente alavancados. Esses detalhes são valiosos para investidores que estão buscando aplicações com apostas em quedas por meio de swaps de crédito para bancos europeus.
Para os investidores que querem fazer uma aposta mais ampla contra as instituições financeiras europeias, Brazil sugere comprar um contrato de swap de crédito de cinco anos atrelado a um índice, que reflete a nota de crédito de várias empresas europeias. Cerca de 20% dos componentes do índice, o "iTraxx Europe series 9", são bancos e seguradoras, diz Brazil.
Ele recomenda ainda uma opção de seis meses que permite apostar contra o euro em relação ao fraco suíço. O euro "pode se desvalorizar se pacotes de socorro financeiro adicionais ou medidas de estímulo forem aprovadas pelos governos europeus", escreve. (Colaborou Sara Schaefer Muñoz.)
Fonte: Valor

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Especialista alerta para "ameaça dos algoritmos"


BBC - 23/08/2011
Serviços inteligentes
Um especialista em algoritmos alertou para as consequências da influência cada vez maior dos sistemas de códigos operacionais em diversos aspectos da vida das pessoas.
Em uma palestra durante a conferência TED no mês de julho, na Escócia, o americano Kevin Slavin disse que "a matemática que os computadores usam para decidir as coisas" está se infiltrando em diferentes áreas as nossas vidas.
Slavin disse que os "serviços inteligentes" oferecidos por lojas de internet - que calculam livros e filmes nos quais o cliente pode estar interessado -, por sites como o Facebook e pelos mecanismos de busca como o Google comprovam que operações computacionais complexas e invisíveis controlam cada vez mais a relação das pessoas com o mundo eletrônico.
Como exemplos, ele citou um "robô-faxineiro" que mapeia a melhor maneira de realizar os afazeres domésticos e os algoritmos que estão gradualmente controlando os negócios em Wall Street e o mercado financeiro.
"Estamos escrevendo coisas que não podemos mais ler", alertou o especialista. "Nós criamos algo ilegível e perdemos a noção do que realmente está acontecendo no mundo que criamos", disse ele.
Livro milionário
De acordo com Slavin, o caso recente de erro nos algoritmos usados pela livraria online Amazon é um dos principais exemplos do caos que pode ser instalado quando um código se torna inteligente o suficiente para operar sem a intervenção humana.
No início do ano, o algoritmo que regula os preços da loja de livros pareceu entrar em guerra consigo mesmo.
Os valores dos produtos começaram a aumentar em competição uns com os outros e um dos livros, The Making of a Fly (A construção de uma mosca, em tradução livre) - um livro sobre a biologia molecular de uma mosca - chegou a custar US$ 23,6 milhões (R$ 37,7 milhões).
Slavin afirma que, na medida que os códigos matemáticos se tornam mais sofisticados, eles se infiltram até mesmo em nossas preferências e decidem que produtos culturais estarão disponíveis para nós.
Decidindo as vidas virtuais
A empresa britânica Epagogix está levando este conceito a sua conclusão lógica e usando algoritmos para prever o que faz com que um filme seja um sucesso de bilheteria.
O sistema usa uma série de medidas - o roteiro, a trama, os atores, as locações - e os cruza com as bilheterias de outros filmes similares para prever quanto dinheiro o novo produto irá ganhar.
De acordo com o diretor-executivo da empresa, Nick Meaney, o código "ajudou estúdios a tomarem decisões sobre fazer ou não fazer um filme".
No caso de um dos projetos - para o qual foi estipulado um custo de produção de 180 milhões de libras (R$ 473 bilhões) - o algoritmo estimou que o filme ganharia somente cerca de 30 milhões de libras nas bilheterias, o que significava que não valia a pena fazê-lo.
No entanto, Meaney diz que o papel dos algoritmos na indústria cinematográfica não é tão grande.
"Filmes são feitos por diversas razões e dizer que nós ditamos que filmes são feitos nos dá mais influência do que temos", disse.
Negócios automáticos
De acordo com Kevin Slavin, até 70% das transações de Wall Street hoje são conduzidas por algoritmos, no que é chamado de "caixa-preta" ou "algo-negócio".
Isso significa que, além de negociantes especializados, banqueiros e corretores agora empregam também milhares de matemáticos e físicos.
Mas Slavin diz que, mesmo com o auxílio de técnicos e especialistas, um algoritmo fora de controle foi o responsável pela chamada "quebra-relâmpago" do dia 6 de maio de 2010, em que uma queda de cinco minutos nas bolsas de valores causou um caos momentâneo.
Um negociador que agiu de má-fé foi considerado o culpado pela queda de 10% no índice Dow Jones mas, na realidade, a culpa era do programa de computador que ele estava usando.
O algoritmo vendeu 75 mil ações com um valor de 2,6 bilhões de libras em somente 20 minutos, fazendo com que outros sistemas de negociação rápida fizessem o mesmo.
A partir deste episódio, os reguladores foram forçados a introduzir mecanismos que interrompem as negociações se as máquinas começarem a se comportar de modo incorreto.
Para Slavin, na medida que os algoritmos expandem sua influência para além das máquinas, é chegada a hora de saber exatamente o que eles sabem e se ainda há tempo de domá-los.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Intermec amplia produção no Brasil


A americana Intermec está ampliando o número de produtos de seu portfólio fabricados no Brasil. Entre os principais equipamentos oferecidos pela companhia estão os coletores fixos e móveis usados na captura e transmissão de dados em segmentos como transporte, logística e serviços de campo. Além desses dispositivos, a empresa atua com sistemas e tecnologias de identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês).
Nos últimos 18 meses, a companhia investiu cerca de US$ 5 milhões para adaptar as instalações de sua fábrica em Itajubá, Minas Gerais, à nova estratégia. Com o aporte, a produção local - em operação desde 2005 - passará das atuais duas linhas de coletores para quatro famílias de equipamentos, até o fim do ano.
A partir deste mês, entra em operação a primeira nova linha, que produzirá os coletores de dados CK3, voltados à gestão de estoques, chão de fábrica, armazéns e varejo.
Em entrevista ao Valor, Patrick Byrne, executivo-chefe da Intermec, afirma que o pano de fundo para esses investimentos é o ritmo de crescimento mais acentuado da América Latina - e especialmente do mercado brasileiro - dentro da companhia. "O Brasil é uma das nossas cinco principais operações ", observa ele.
Em 2010, a Intermec registrou uma receita de US$ 679 milhões, ante os US$ 658 milhões de 2009. O crescimento no Brasil foi de 20%, comparado a um avanço de 9% na América do Norte e de 15% na região da Europa, Oriente Médio e África. No segundo trimestre, a companhia faturou US$ 221,1 milhões, alta de 37% frente ao mesmo intervalo de 2009. Impulsionada pelos números do Brasil, a América Latina reportou o melhor resultado mundial, com crescimento de 77% no período. "A estimativa é crescer 30% no mercado brasileiro em 2011", diz o executivo.
Segundo Carlos Conti, diretor-geral da Intermec para a América do Sul, a projeção é fechar 2011 com 15 mil equipamentos fabricados no país, um aumento de 30% na produção local. "Temos planos de exportar parte desses coletores para os países do Mercosul", afirma Conti. A fábrica de Itajubá começou a atender também o mercado argentino neste ano.
Como parte das estratégias para o Brasil, a Intermec passou a oferecer no país, desde o início do mês, um pacote de serviços e software de gestão remota em tempo real para os coletores de dados de seus clientes. Conti explica que a partir do centro de serviços localizado em Itajubá é possível baixar atualizações nos programas, além de antecipar e solucionar eventuais problemas nos dispositivos.
Depois dos Estados Unidos e do México, o Brasil é a terceira operação da companhia a contar com um centro de gestão remota. O serviço já cobre aproximadamente 4 mil dispositivos dos clientes Hypermarcas, Elma Chips e Marfrig no país. A base total instalada da Intermec no mercado local é de 150 mil equipamentos.
Para Byrne, as iniciativas que vêm sendo implantadas no Brasil vão permitir que a Intermec aprimore o atendimento aos clientes brasileiros e responda com mais rapidez às demandas do mercado nacional. A ideia de reforçar a oferta local vai ao encontro da estratégia global da empresa de ampliar seu foco para uma combinação de equipamentos, softwares e serviços, explica o executivo. "A proposta é ser um provedor de ponta a ponta, e agora temos uma operação completa no Brasil para encaixar outros produtos, além dos coletores".
Conti acrescenta que a companhia planeja expandir o número de distribuidores e revendas, bem como ampliar esses acordos para regiões como o Nordeste. Os atuais 120 parceiros, em média, mais concentrados no Sudeste, respondem por 80% das vendas da empresa no país.
Ao mesmo tempo, o diretor afirma que a Intermec está buscando diversificar sua base atual de 2 mil clientes, mais da metade deles companhias de grande porte. "Por conta da adequação à nota fiscal eletrônica e da necessidade de maior controle em seus processos, as pequenas e médias empresas também estão no nosso radar", diz Conti.
Fonte: Valor

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Fundo da GWI tem rombo de R$ 22,7 milhões com Marfrig


Além de perder todo o dinheiro aplicado, os investidores do fundo GWI Private podem ter de cobrir um rombo de R$ 22,7 milhões. Esse valor equivale ao patrimônio negativo do fundo, conforme os dados informados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no dia 12 de agosto. Em duas semanas, o patrimônio do fundo passou de R$ 180 milhões credor para esse prejuízo, que pode crescer ou diminuir de acordo com o comportamento dos ativos que sobraram na carteira, principalmente as ações da Marfrig.
O GWI Private, que exigia aplicação mínima de R$ 10 milhões, tem seis cotistas. Ele é o pior caso entre as nove carteiras geridas pela GWI, que foram fechadas para resgates no dia 12 pelo administrador, o banco BNY Mellon, e aguardam agora uma assembleia dos cotistas para decidir se trocam de gestor, encerram o fundo ou continuam com a GWI.
Os demais fundos da gestora não estão com patrimônio negativo, mas as perdas são pesadas, especialmente o GWI Leverage, um fundo de ações alavancado que apresentava até dia 12 perda de 83,44%. Trata-se do maior fundo da casa, com cerca de 500 cotistas. Um fundo imobiliário não foi atingido pelas medidas.
Especialistas apontam dois fatores para a sinuca em que a GWI, do coreano Mu Hak You, se meteu: a forte concentração em ações de uma empresa com prejuízos e a feroz alavancagem das operações no mercado a termo - no qual o investidor se compromete a comprar ou vender um papel por determinado preço em determinada data.
Um analista lembra que a Marfrig fechou o semestre com prejuízos e tinha elevado endividamento, o que não impediu a GWI de adquirir o equivalente a 6% do capital da empresa. Além disso, a gestora ampliou sua posição com compras a termo do papel. "Marfrig chegou a ser o quarto papel mais negociado no mercado a termo, enquanto no mercado à vista estava no 90º lugar em volume, ou seja, havia um descasamento enorme entre o termo e a liquidez da ação", diz um especialista que pediu para não ter seu nome citado.
Esse descasamento se tornou uma armadilha para o GWI quando, na crise, outros gestores, sabendo da posição enorme de Marfrig que a casa tinha, passaram a alugar e vender o papel, derrubando seu preço. O volume de Marfrig disparou em agosto, enquanto seu preço despencava.
A queda das ações fez as corretoras e a bolsa exigirem mais margens de garantia para as operações a termo, e a GWI acabou em um beco sem saída: não podia vender Marfrig, pois o preço despencara, e também não podia vender as outras ações, pois elas estavam dadas em garantia das margens das operações a termo.
Na opinião de um gestor, outros investidores especuladores aproveitaram a concentração da GWI em Marfrig para derrubar o papel e provocar o que o mercado chama de "long squeeze", obrigando o gestor a cobrir suas posições a termo. Para isso, ele teria de antecipar as compras a termo de Marfrig, mas não conseguiu, pois não podia vender os outros papéis por causa das margens. "Ele ficou num 'corner', sem saída", afirma esse gestor. Em apenas um dia, o papel caiu de R$ 12 para R$ 9. "Como a GWI tinha se comprometido no termo a pagar R$ 12, R$ 13 daqui 60 dias, as corretoras chamaram margem para cobrir o prejuízo."
Esse processo teria levado o GWI a ficar sem dinheiro para cobrir as margens de garantia nas corretoras, que tiveram de socorrer a gestora emprestando dinheiro. Esse valor voltará para as corretoras à medida que as posições forem reduzidas e o pânico do mercado passar. Mas a perda dos fundos vai depender do futuro da Marfrig.
Para um especialista em fundos, a gestora foi no mínimo imprudente. "O regulamento do fundo permitia concentrar as aplicações em um papel e fazer alavancagem, mas eles concentraram demais em um papel pouco líquido e de uma empresa com prejuízo, eles escolheram mal o papel."
Valor procurou a GWI, que não quis se pronunciar.
Fonte: Valor

Blefe comanda jogo por patentes


Em meio às guerras de patentes que assolam o setor de "smartphones", de crescimento acelerado, tornou-se moda gabar-se da pura e simples força dos números.
Segundo essa maneira de pensar, quanto mais invenções certificadas uma empresa puder citar em sua defesa, maiores serão suas oportunidades de rechaçar um processo judicial ou de montar um contra-ataque que lhe proporcione uma vitória de virada sobre o adversário.
Visto dessa perspectiva, o acordo firmado pelo Google esta semana, de pagar US$ 12,5 bilhões pela compra da Motorola Mobility, dona de uma das maiores carteiras de patentes do setor de comunicações por telefonia celular, foi amplamente aclamado entre seus aliados do universo da telefonia celular como uma medida defensiva indispensável.
Mas o poder de dissuasão de qualquer conjunto de patentes depende tanto da natureza quanto da qualidade das patentes em si e da posição competitiva específica da empresa que as detém, além da estratégia judicial que adota, segundo especialistas em propriedade intelectual.
Isso transforma a investida do Google por patentes, essencialmente, num jogo de blefe, com resultados difíceis de avaliar. Como destaca uma arquirrival do Google, se as patentes da Motorola foram fator de dissuasão suficiente para impedir tanto a Microsoft quanto a Apple de desfechar ataques judiciais contra a fabricante de aparelhos de mão, por que seu controle pelo Google faria alguma diferença?
De sua parte, os fabricantes de aparelhos de mão ativados pelo sistema operacional Android, do Google, esperam ansiosamente que a empresa de buscas venha em seu socorro.
No choque entre os universos da telefonia celular e dos PCs, resultante da ascensão dos "smartphones", surgiram duas rivais na esfera da propriedade intelectual.
De um lado está a Microsoft, que começou a acumular patentes mais de uma década atrás, depois de mudar sua estratégia judicial, e a Apple, que vem se empenhando em aumentar sua própria carteira de patentes, mais recentemente ao capitanear uma oferta bem-sucedida de compra, por US$ 4,5 bilhões, de patentes da Nortel, a falida fabricante canadense.
No que se refere à propriedade intelectual em telefonia celular, a Motorola é uma potência tradicional. Seu bem-sucedido ataque judicial desfechado quando a Nokia estreou no setor levou a empresa finlandesa a prometer construir seu próprio arsenal de patentes.
Fabricantes asiáticas como a Samsung e a HTC, ao lado de recém-chegadas como o Google, cujo histórico mais abreviado o deixou com um número menor de patentes, foram relegadas ao esquecimento.
Com poucos elementos aos quais recorrer, a HTC fechou um acordo de concessão de licença com a Microsoft, no ano passado, que garante à empresa de software US$ 5 por aparelho - uma concessão que passou a ser vista como um precedente pernicioso por empresas do universo do Android.
Agora, a Microsoft está tentando obter US$ 12,50 por aparelho junto a outros fabricantes, segundo um analista do Citigroup, enquanto outras companhias do setor dizem que ela pressionou a Samsung a pagar US$ 15 por aparelho. Com a disparada das vendas do Android - que deverão alcançar 430 milhões ao ano em 2015, segundo o IDC -, esse valor pode totalizar uma taxa considerável por uso de propriedade intelectual.
É difícil avaliar se a propriedade das patentes da Motorola pelo Google vá alterar negociações desse tipo.
A empresa terá condições de emprestar determinadas patentes a aliados, permitindo-lhes usá-las para combater processos judiciais de adversários, ou como fator de barganha para obter melhores condições de licenciamento.
A carteira da Motorola tem duas falhas potenciais, segundo especialistas que estudaram as patentes. A propriedade intelectual está concentrada nos EUA e, em menor grau, na Europa, disse David Martin, presidente do conselho de administração da M. Cam, que assessora empresas no uso de suas patentes. Isso rebaixa seu valor nos mercados mundiais de produtos.
Uma segunda fragilidade é que muitas das patentes da Motorola estão em áreas em que várias outras empresas têm patentes concorrentes, e uma análise dos autos dos processos mostra que as patentes muitas vezes não mencionam essa tecnologia concorrente.
Isso pode se revelar uma falha fundamental, disse Janal Kalis, advogado de propriedade intelectual nos EUA: "Deixar de citar o 'estado anterior da técnica' é uma sentença de morte para uma patente."
Outras interrogações dizem respeito à maneira pela qual o Google tentará fazer valer as patentes da Motorola. A empresa rejeitou o licenciamento, preferindo distribuir sua tecnologia e ganhar dinheiro com os anúncios, mas no futuro se achará na condição de ter de fiscalizar o cumprimento de seus direitos, disse Al Hilwa, do IDC.
Este mês, David Drummond, diretor jurídico do Google, acusou a Microsoft, a Apple e outras de "travar uma guerra armada de patentes fictícias" - inclusive as vendidas pela Nortel. Mas, como destacou a Microsoft no bate-boca que se seguiu, o Google tentou comprar o mesmo conjunto de patentes para fortalecer sua própria estratégia judicial.
Com os fabricantes contando com isso para rechaçar os ataques judiciais, podem restar poucas alternativas ao Google senão deixar de lado seus escrúpulos e jogar sujo. (Tradução de Rachel Warszawski)
Fonte: Valor

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Perda de valor de bancos no exterior inquieta o governo


As ações dos grandes bancos europeus e americanos estão derretendo. As perdas, ontem, foram drásticas, houve ameaça de corrida bancária na França e reflexos nas maiores instituições financeiras do mundo. Consideradas indicadores que antecipam as tendências dos mercados, sobretudo das bolsas, as ações dos bancos estão sendo acompanhadas com lupa por especialistas do governo brasileiro.
Desvalorizações sistemáticas podem levar à contração da oferta de crédito externo. Na crise de 2008, os financiamentos externos ao Brasil secaram tanto no interbancário quanto no crédito para o comércio exterior.
Se isso se repetir, levará a uma depreciação do real, com consequências boas e ruins. Pelo lado positivo, a queda da demanda por commodities brasileiras seria compensada por uma desvalorização cambial. Pelo negativo, o câmbio deixaria de contribuir para o controle da inflação e haveria perda de poder aquisitivo dos salários. No início de dezembro de 2008, o dólar, que chegou em agosto a R$ 1,55, estava cotado a R$ 2,49.
Depois que a agência de rating Standard & Poor's reclassificou o risco americano de AAA para AA+, a França, até poucos dias atrás considerada reduto razoavelmente seguro, passou a ser o segundo país da lista sob risco de rebaixamento. Ontem, a S&P negou que esteja planejando retirar o grau de investimento triplo A, mas as ações do Société Générale caíram 14,74% (44,85% no ano) e as do BNP Paribas, 9,47% (25,20% desde janeiro).
Desde a semana passada o governo brasileiro já acompanhava a França com preocupação. O spread dos títulos públicos de dez anos do governo francês frente aos do governo alemão estão no maior valor dos últimos 15 anos, com 90 pontos-base de diferença. Para a Espanha a distância é mais gritante: de 350 pontos.
O temor de forte desaceleração da economia ou recessão global leva os bancos a diminuírem as operações de crédito, com consequente redução dos lucros, e induz o investidor a fugir de aplicações voláteis. Nos Estados Unidos, as ações dos bancos também tiveram quedas expressivas. As do Bank of America, o maior banco americano, caíram 10,92%, as do Citigroup, 10,47% e as do Goldman Sachs, 10,1%. No ano, as ações dessas instituições registram perdas de 49,17%, 39,74% e 33,89% respectivamente, segundo levantamento do Valor Data.
Fonte: Valor

Com bolsa em baixa, fundos de pensão vão às compras

Enquanto outros investidores corriam para vender ações numa reação automática à crise, os fundos de pensão aproveitaram a volatilidade que tomou conta dos mercados indo às compras para fortalecer suas carteiras. Petros, Valia, Funcef e Real Grandeza, quatro das maiores fundações do país, que somam um patrimônio de R$ 120 bilhões, estão no mercado. Nos três pregões mais agudos da crise, só a Real Grandeza, fundação de previdência dos funcionários de Furnas, gastou R$ 300 milhões com aquisição de papéis de empresas de primeira linha, como Petrobras e Vale.
"Estávamos abaixo da nossa alocação estratégica na parte de bolsa, então aproveitamos esse momento para poder fazer compras", disse Eduardo Henrique Garcia, diretor de investimentos do fundo de pensão. Antes de ir às compras, a carteira de renda variável da Real Grandeza correspondia a 14% dos R$ 8,9 bilhões do seu patrimônio. A operação realizada desde a semana passada elevou essa fatia para perto dos 18% apontados pela alocação estratégica delineada pela própria fundação.
A Valia, dos funcionários da Vale, está analisando as boas oportunidades para recompor o portfólio. Com a baixa da bolsa, a fundação, com patrimônio de R$ 14 bilhões, sendo 25% investidos em ações, teve sua carteira de renda variável encolhida em 15%.
"Mesmo com essa queda, nossa carteira de ações está acima do Ibovespa, que caiu 28% no ano. Até agora estamos fazendo pequenos ajustes em relação ao índice. Ainda não fizemos nenhuma compra grande, mas estamos avaliando o mercado. A fundação da Vale tem em sua carteira empresas sólidas que passam tranquilas por essa turbulência", disse Lott.
A Petros, dos empregados da Petrobras, com patrimônio de R$ 51 bilhões, tem 40% deste valor aplicado em papéis de empresas e planeja até ampliar um pouco esse percentual. Luís Carlos Afonso, presidente da Petros, pretende aproveitar o momento de baixa da bolsa para construir novas participações ou aumentar as que já detém em empresas de primeiríssima linha. "Estamos apostando no crescimento da nossa carteira de participações e várias empresas que hoje têm preços convidativos estão no nosso radar. Não pretendemos vender nenhuma dessas participações. Em caso de necessidade, temos a carteira de giro que é mais defensiva e funciona como um complemento de liquidez".
A partir da crise de 2008, segundo Afonso, a Petros adotou dois tratamentos diferenciados para sua carteira de renda variável: um portfólio de giro, com ações que podem ser negociadas facilmente, e outro de participações, mais estratégico. "De 2008 para cá, crescemos muito em renda variável, de 23% para 34%, em 2009, e agora estamos em 40%".
Para a Funcef, que tem R$ 44 bilhões em ativos e aplica 33% na bolsa, o colchão de liquidez vem da renda fixa, que responde por 75% do patrimônio. Demostenes Marques, diretor de investimentos da fundação, disse que esse colchão tem liquidez para fazer frente às obrigações da casa por dois anos, sem ter de "realizar perdas com ações". Por isso, quando a crise se acentuou, no final da semana passada, a direção da Funcef tomou a decisão de ir às compras, que iniciou logo no primeiro pregão desta semana.
Marques não revela o montante que destinou para o que chama de "reentrada", mas a orientação para as aquisições, dessa vez, é bem diversa do habitual. Em vez de 80% ou 90% referenciados em um índice, só a metade vai seguir esse parâmetro. Com a outra, a fundação vai em busca de papéis que, na pressa de sair da bolsa, outros investidores deixaram depreciados demais.
"Tem algumas oportunidades que ficaram evidentes", disse Marques. Segundo ele, a Funcef trabalha com o que chama de "carteira de retorno absoluto", composta por 12 ações escolhidas pelos analistas da próprio fundo de pensão, conforme os fundamentos das empresas. Além desse grupo, há ainda papéis de alta liquidez que a Funcef considera terem sido muito castigados, apesar da boa saúde financeira das empresas. Algumas dessas companhias, segundo Marques, talvez saiam até melhor posicionadas da crise, em relação aos seus competidores.
A avaliação é parecida com a feita pelo presidente da Petros. Para Afonso, o mercado de ações local, por ser de alta liquidez, paga o preço da volatilidade internacional. "Quando comparada ao resto do mundo, a bolsa brasileira é a que tem a maior queda. Não vejo razões objetivas para isso. Nossas empresas estão muito baratas, estão até recomprando suas ações. O preço dos papéis de algumas, até da primeira linha, está muito abaixo do que de fato vale".
Os gestores dessas fundações acreditam que a irracionalidade verificada nos últimos pregões decorre da entrada e saída do capital estrangeiro da bolsa. No momento da baixa, mecanismos de "stop loss" (limitação de perdas) são acionados automaticamente e desfazem carteiras muitas vezes montadas criteriosamente, abrindo mão de ações de alta qualidade a um preço baixo. A corrida do capital em direção aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, mesmo após o rebaixamento, é apontada como uma das causas para a revoada da BM&F Bovespa.
Na visão dos fundos de pensão, grandes investidores de longo prazo, esta não será nem a primeira, nem a última crise. "A crise lá fora é diferente da de 2008", avalia o presidente da Petros. A expectativa dele é que, se agora a bolsa sofre com a revoada do capital especulativo, mais tarde, com provável desaceleração das economias desenvolvidas, o Brasil pode se tornar um destino atraente para capitais de investimento de melhor qualidade.
Fonte: Valor