quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Fundo da GWI tem rombo de R$ 22,7 milhões com Marfrig


Além de perder todo o dinheiro aplicado, os investidores do fundo GWI Private podem ter de cobrir um rombo de R$ 22,7 milhões. Esse valor equivale ao patrimônio negativo do fundo, conforme os dados informados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no dia 12 de agosto. Em duas semanas, o patrimônio do fundo passou de R$ 180 milhões credor para esse prejuízo, que pode crescer ou diminuir de acordo com o comportamento dos ativos que sobraram na carteira, principalmente as ações da Marfrig.
O GWI Private, que exigia aplicação mínima de R$ 10 milhões, tem seis cotistas. Ele é o pior caso entre as nove carteiras geridas pela GWI, que foram fechadas para resgates no dia 12 pelo administrador, o banco BNY Mellon, e aguardam agora uma assembleia dos cotistas para decidir se trocam de gestor, encerram o fundo ou continuam com a GWI.
Os demais fundos da gestora não estão com patrimônio negativo, mas as perdas são pesadas, especialmente o GWI Leverage, um fundo de ações alavancado que apresentava até dia 12 perda de 83,44%. Trata-se do maior fundo da casa, com cerca de 500 cotistas. Um fundo imobiliário não foi atingido pelas medidas.
Especialistas apontam dois fatores para a sinuca em que a GWI, do coreano Mu Hak You, se meteu: a forte concentração em ações de uma empresa com prejuízos e a feroz alavancagem das operações no mercado a termo - no qual o investidor se compromete a comprar ou vender um papel por determinado preço em determinada data.
Um analista lembra que a Marfrig fechou o semestre com prejuízos e tinha elevado endividamento, o que não impediu a GWI de adquirir o equivalente a 6% do capital da empresa. Além disso, a gestora ampliou sua posição com compras a termo do papel. "Marfrig chegou a ser o quarto papel mais negociado no mercado a termo, enquanto no mercado à vista estava no 90º lugar em volume, ou seja, havia um descasamento enorme entre o termo e a liquidez da ação", diz um especialista que pediu para não ter seu nome citado.
Esse descasamento se tornou uma armadilha para o GWI quando, na crise, outros gestores, sabendo da posição enorme de Marfrig que a casa tinha, passaram a alugar e vender o papel, derrubando seu preço. O volume de Marfrig disparou em agosto, enquanto seu preço despencava.
A queda das ações fez as corretoras e a bolsa exigirem mais margens de garantia para as operações a termo, e a GWI acabou em um beco sem saída: não podia vender Marfrig, pois o preço despencara, e também não podia vender as outras ações, pois elas estavam dadas em garantia das margens das operações a termo.
Na opinião de um gestor, outros investidores especuladores aproveitaram a concentração da GWI em Marfrig para derrubar o papel e provocar o que o mercado chama de "long squeeze", obrigando o gestor a cobrir suas posições a termo. Para isso, ele teria de antecipar as compras a termo de Marfrig, mas não conseguiu, pois não podia vender os outros papéis por causa das margens. "Ele ficou num 'corner', sem saída", afirma esse gestor. Em apenas um dia, o papel caiu de R$ 12 para R$ 9. "Como a GWI tinha se comprometido no termo a pagar R$ 12, R$ 13 daqui 60 dias, as corretoras chamaram margem para cobrir o prejuízo."
Esse processo teria levado o GWI a ficar sem dinheiro para cobrir as margens de garantia nas corretoras, que tiveram de socorrer a gestora emprestando dinheiro. Esse valor voltará para as corretoras à medida que as posições forem reduzidas e o pânico do mercado passar. Mas a perda dos fundos vai depender do futuro da Marfrig.
Para um especialista em fundos, a gestora foi no mínimo imprudente. "O regulamento do fundo permitia concentrar as aplicações em um papel e fazer alavancagem, mas eles concentraram demais em um papel pouco líquido e de uma empresa com prejuízo, eles escolheram mal o papel."
Valor procurou a GWI, que não quis se pronunciar.
Fonte: Valor

Nenhum comentário:

Postar um comentário