O cineasta Walter Salles, ao comentar “Diários de Motocicleta” – filme sobre a juventude do guerrilheiro Che Guevara –, disse que o público se identifica com uma história quando o mito se parece com o cidadão comum. A princípio, as estratégias de investimento de Warren Buffett estariam ao alcance de todos. Talvez isso, combinado com o excelente retorno de seu portfólio, ajude a explicar o fascínio pelo investidor americano. Mas quais são suas estratégias? Sua tática é universal? Funciona no Brasil?
Recente
artigo de Gustavo Ballvé
, publicado na edição de agosto da revista
ValorInveste, teve bastante repercussão. Foi um dos mais lidos no portal do
Valor. Como o artigo enfocou mais na biografia de Buffett, trato neste espaço de algumas características de seus investimentos, suas estratégias.
Observando seus investimentos, percebe-se que Buffett avalia alguns pontos antes de comprar uma companhia como: (i) elevado potencial de valorização do ativo comparando-se seu valor de mercado ao valor econômico ou justo; (ii) administração transparente e comprometida com o negócio e (iii) atividades econômicas simples e compreensíveis. Essa última estratégia é considerada a responsável por mantê-lo afastado dos investimentos em tecnologia do início da década de 2000, o que acabou sendo benéfico com o estouro da bolha da internet.
Recentemente, com a queda das ações do setor financeiro, Buffett anunciou a aquisição de ações do Bank of America. Esse pequeno investimento corrobora suas máximas. Com a desvalorização das ações, segundo seu entendimento, os papéis teriam ficado atrativos comparando a cotação em bolsa com o preço que considera justo. Em seu discurso, ele ressalta a qualidade da administração. E, por fim, apesar das recentes inovações financeiras, a atividade bancária, em especial a focada no varejo, continua sendo um negócio tradicional.
Buffett tenta entrar em companhias quando essas estão passando por problemas temporários, mas cujos fundamentos de longo prazo se mantêm intactos. Se ele estivesse no Brasil, não estaria comprando as depreciadas ações de Itaú e Bradesco?
A estratégia adotada por Buffett não é a recomendada pelos livros textos de finanças. Ele não gosta de diversificar seus investimentos, contrariando a teoria do portfólio de Markowitz, que diz que a diversificação de uma carteira é benéfica para melhorar a relação risco-retorno.
Mais, o investidor adota uma estratégia de longo prazo para suas aplicações. Compra e mantém o ativo. Coitada da corretora que presta serviço para ele! Seu investimento mais longevo – a “holding” Berkshire Hathaway – foi adquirido no início da década de 60. Como comentei no post “
A importância dos resultados trimestrais”, não acho que os gestores brasileiros de ações, em regra, tenham uma estratégia de longo prazo. Algumas razões explicam essa postura: a alta inflação em anos anteriores
, a competitiva taxa de juros
e o ainda púbere mercado acionário brasileiro.
Buffett também não olha os índices de mercado, como o Ibovespa ou o IbrX no caso brasileiro. Segundo ele, gestores que ficam observando os índices evitam riscos e, com isso, perdem rentabilidade.
Outra característica interessante. Ele não gosta de teses de investimento cujo crescimento de uma companhia é baseado em aquisições. Comentamos essa estratégia no post “A
polêmica de uma carta de gestão - parte II”. Ele prefere que os lucros sejam distribuídos aos acionistas por intermédio de dividendos ou da recompra de ações pela própria companhia.
A partir de 2004, várias companhias abertas têm adotado a estratégia de crescimento baseada em aquisições, entre elas Dasa, Hypermarcas, Anhanguera Educacional, Brasil Brokers, Brasil Insurance. Segundo Buffett, quando uma companhia gera caixa excedente, ela deve investir o necessário e a diferença deve ser retornada ao acionista. Ele considera que o uso do caixa é um bom teste para o administrador. Muitas vezes, na ânsia de expandir sua atuação, acaba fazendo aquisições que não trazem retorno.
Existem muitas frases marcantes de Buffett tiradas de entrevistas ou relatórios de investimento. Seguem algumas:
Sobre investimentos: “Regra número 1: nunca perca dinheiro. Regra número 2: nunca esqueça a regra número 1”. “Se princípios tornaram-se ultrapassados, eles não eram princípios”.
Sobre a diversificação da carteira: “Diversificação é a proteção contra a ignorância. Faz muito pouco sentido para aqueles que sabem o que fazem”.
Sobre sua estratégia de investimento: “Ações são simples. Tudo que você tem que fazer é comprar ações de um grande negócio por menos do que ele vale, com administradores com reputação ilibada e capacidade”.
Sobre inflação: “Aplico em ações mesmo em tempos de alta inflação. Parte por hábito e parte porque ações significam negócios e administrar negócios é mais interessante do que ter ouro ou terras. Além disso, ações são provavelmente ainda a melhor opção entre todas as alternativas numa era de inflação”.
Sobre a teoria do mercado eficiente: Essa teoria prega que os preços das ações já refletem as informações disponíveis, logo seria impossível um investidor superar a média de mercado. “Eu seria um mendigo de rua com uma lata se o mercado fosse sempre eficiente”.
Sobre investimento de longo prazo: “Eu compro ações assumindo que o mercado pudesse fechar no dia seguinte e não reabrisse pelos próximos cinco anos”. “O futuro nunca é claro; você paga um preço alto pela ação quando há consenso. A incerteza geralmente é o amigo do comprador de ações de longo prazo”.
Sobre administração: “Você deve investir em negócios que mesmo um tolo pode administrar, porque um dia algum tolo estará no comando”.
A bibliografia sobre Warren Buffett é vasta. A biografia mais conhecida é “A Bola de Neve”, de Alice Schroeder. Entre os livros citados como importantes para a formação de Buffett, destacam-se: “O Investidor Inteligente”, de Benjamin Graham, e “Common Stocks and Uncommon Profits”, de Philip Fischer.
Este post foi baseado em outras duas obras de estudiosos do investidor. O primeiro é “Warrem Buffett – Estratégias de Investimento do Maior Investidor do Mundo”, de Robert Hagstrom Jr., e “Warren Buffett Speaks – Wit and Wisdom from the World’s Gratest Investor”, de Janet Lowe.
Até o próximo post. Valeu.