quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Entrada da Bats pode incluir Brasil na rota das fusões


Consultoria financeira americana Solaris enxerga a chegada da Bats Global Markets ao mercado de capitais brasileiro como primeiro passo para o processo de fusão de bolsas na América Latina.
Lá fora, a Deutsche Börse de Frankfurt e a Nyse Euronext (Paris, Nova York, Bruxelas e Amsterdã) fecharam um acordo para formar o maior operador de bolsas do mundo.
O anúncio na última terça-feira (15/2) da possível entrada da Bats Global Markets no cenário nacional a partir de sua parceria com a gestora brasileira Claritas e, com isso, uma difusão do mercado de capitais do Brasil, não é vista por todos como um contrassenso diante do movimento de fusão nas bolsas internacionais.
Um dos que não compartilha desta opinião é Timothy Ghriskey, diretor executivo de investimentos da Solaris Asset Management, consultoria independente situada em Nova York nos Estados Unidos. Para ele, não há qualquer diferença substancial entre o momento vivido no mercado internacional e o cenário pintado hoje no mercado de capitais brasileiro.
"Não vejo muitas diferenças entre os mercados. As grandes companhias hoje são globais e as bolsas estão começando a refletir essa realidade internacionalizada da economia", aponta o executivo.
"As grandes empresas no mundo acabam tendo mais operações fora de seus países originais que efetivamente nos territórios onde nasceram. Esse processo é natural e inevitável para qualquer empresa, assim como para as bolsas de valores."
Ghriskey destaca que a razão fundamental para a fusão entre a Deutsche Börse de Frankfurt e a Nyse Euronext está na intenção dos Estados Unidos em facilitar o acesso aos investimentos.
Trata-se de uma questão de tempo para que outras bolsas se unam em todo o mundo. "A entrada da Bats no Brasil pode ser o primeiro de próximos passos desse movimento de globalização", sinaliza.
Para ele, o Brasil é o "mais óbvio" dos próximos mercados a entrar em ritmo de fusão. "Me surpreenderia se o seu país levasse mais que cinco anos para ter todo seu mercado fundido em um só. Tudo tem acontecido muito rápido nesse cenário e na América Latina não vai ser diferente", explica.
Sua aposta está essencialmente baseada na dimensão do mercado nacional. Atualmente a BM&FBovespa trabalha com a ousada meta de passar de cerca de 600 mil para cinco milhões de investidores nos próximos anos. Somente no ano passado, a instituição movimentou R$ 1,602 trilhão no mercado de renda variável.
"O mercado brasileiro é um dos maiores do seu grupo. Não sei quem vai ser o primeiro ou o segundo dos países emergentes a entrar no fluxo das fusões, mas tenho clareza que no que tange ao mercado de capitais, o Brasil é o mais avançado de todos os seus pares", aponta Ghrisky que vê a economia brasileira "muito à frente" da chinesa em termos de modernidade, organização e grau de internacionalização.
América Latina
No entanto, o especialista não aposta em uma fusão latino-americana de bolsas devido aos problemas políticos que a união entre países como Chile, Argentina e Uruguai poderia causar. "A diversidade entre esses países é muito grande não acredito em uma união dessas bolsas", avalia.
Por outro lado, o tamanho da bolsa resultante das fusões que podem ocorrer no território brasileiro deve provocar uma forte migração de investimentos da região para o mercado nacional. "Um mercado, no caso o brasileiro, será fortemente dominante na América do Sul, mas os outros devem continuar existindo".
Contraponto
Na outra linha de raciocínio, há quem entenda a chegada da Bats como uma afronta aos altos custos que tanto prejudicam os grandes investidores na BM&FBovespa. Em sua condição de grande operadora de mercados em níveis internacionais, a Bats já mostrou nos Estados Unidos toda sua capacidade de atuação.
"Ela já está atuando de forma independente da Nasdaq e tem se destacado muito no mercado americano", aponta Luiz Antonio Fernandes Silva, professor do Curso de Administração das Faculdades Integradas Rio Branco e especialista em investimentos.
Esse sucesso se deve à alta capacidade da bolsa de trabalhar com tecnologias de ponta, alta velocidade e preço altamente competitivo, principalmente se comparada à BM&FBovespa, que vem sofrendo críticas pelos seus altos custos de operação e de custódia. "Com certeza oferecerão melhores condições em termos de preços, o que é atualmente a grande queixa dos investidores", explica Silva.
Além disso, a questão tecnológica tem sido mencionada como um importante diferencial da Bats Global Markets, uma vez que o tempo necessário para liquidação das operações também é alvo de reclamação dos operadores nacionais.
"Se você avaliar do ponto de vista da operação mesmo, as ações da BM&FBovespa nunca superaram o valor aplicado na sua abertura de capital", avalia o professor. "É uma empresa que tem se desenvolvido pouco e tem sido administrada com uma certa acomodação pela falta de concorrência".

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