quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Para Advent, é hora de vender no Brasil

De frente para uma multidão de novos gestores e investidores de fundos de "private equity" que preparam-se para despejar bilhões de dólares no Brasil, Patrice Etlin, principal sócio da Advent International, surpreendeu a plateia de um seminário ontem ao dizer que não é hora de comprar empresas brasileiras. "O Brasil passa por ciclos de compra e de venda de ativos. Agora, na minha opinião, é hora desse segundo movimento", disse durante um evento sobre private equity em São Paulo.
Antes do comentário, Patricia Dinneen, mediadora do painel e gestora da Siguler Guff, que está montando um escritório para investir no Brasil, avisou a plateia: "preparem-se porque um comentário controverso virá".
A avaliação da Advent, segundo Etlin, deriva dos preços das empresas brasileiras, que estariam muito elevados. "É uma questão de retorno, que está caindo. É em um país que passa por ciclos", disse.
Com um fundo de US$ 1,65 bilhão para a América Latina captado em abril do ano passado, a Advent agora analisa oportunidades em outros países da região, como Peru, Bolívia, Colômbia e Argentina, onde já está abrindo escritórios. Companhias argentinas de setores que não sejam afetados por inflação e que não carreguem algum risco político, por exemplo, estão no radar da Advent.
Neste ano, a Advent já anunciou a venda parcial de pelo menos duas empresas que tem em seu portfólio. Em janeiro, a gestora reduziu sua participação na Cetip de 16% para 10%, o que rendeu R$ 370 milhões. A International Meal Company, (IMC) do setor de varejo de alimentos, também fará uma oferta de ações em bolsa que deve incluir, além da captação de novos recursos pela empresa, a venda de parte da posição que a Advent possui, hoje de 75%.
Apesar disso, no mês passado, a Advent comprou 50% do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) por R$ 835 milhões, o que marcou a maior transação do fundo no Brasil desde sua chegada ao país em 1997. Foi o primeiro negócio do fundo V. "Mas não veremos no fundo novo o Brasil representando dois terços do valor investido como aconteceu com o fundo anterior", afirmou Etlin.
Diversos gestores têm alertado para a alta dos preços dos ativos no Brasil. Com um cenário recente de maior vigor econômico, muitas gestoras estão em busca de negócios no país. A combinação desses dois fatores tem resultado em preços mais elevados.
"Consideramos que os valores hoje ainda estão atraentes, mas não sabemos como os preços vão se comportar em 2012", diz Fernando Borges, gestor do Carlyle, que começou a investir no Brasil no ano passado e foi o fundo mais ativo. "Apesar de ser difícil encontrar barganhas hoje em dia, os preços de empresas continuam muito mais atraentes que em outros países emergentes e mercados mais desenvolvidos."
Para Antonio Bonchristiano, sócio da GP, o importante é lembrar que o país tem um histórico de ciclos de alta e de baixa da economia. "Fazer investimentos alavancados, por exemplo, é algo complicado porque a dívida pode acabar de um tamanho não esperado. Também não se pode esquecer que, por causa dos ciclos, o gestor não vende uma empresa quando quer. E sim quando pode. São lições que aprendemos", disse o sócio da GP, que teve problemas na San Antonio e na Magnesita por causa de dívidas contraídas. A gestora prevê desembolsar US$ 400 milhões em aquisições neste ano.
Na plateia, estavam diversos executivos da indústria de private equity que pretendem estrear no país, como Silver Lake, e a gestora HarbourVest, com US$ 22 bilhões de capital comprometido.
Fonte: Valor

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