quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Bolsa cria pregão paralelo para negociação de grandes lotes


Iniciativa visa evitar distorção nas cotações das ações no pregão; novo espaço deverá ser inaugurado em abril deste ano.
Uma espécie de pregão paralelo especificamente destinado a receber altos volumes de ações está previsto para começar a funcionar na bolsa no começo de abril.
Desenvolvida desde o ano passado, a Plataforma de Negociação de Grandes Lotes promete atender aos investidores que queiram se desfazer de quantias elevadas de um papel de uma só vez, sem provocar impacto sobre as cotações no pregão comum.
Os negócios ocorrerão separadamente, mas tão logo sejam fechados, terão todos os seus dados computados no volume geral da bolsa.
Sistemas do tipo são comuns nos mercados internacionais, sendo conhecidos como "block trading facilities". "Estamos submetendo um modelo tropicalizado à CVM [Comissão de Valores Mobiliários], adequado às regras brasileiras, que vai atender às necessidades de grandes clientes, como fundos de pensão", exemplifica o diretor presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.
As operações na plataforma não estarão disponíveis para qualquer ação, apenas para as mais líquidas. Cada lote terá de ser vendido e comprado integralmente, sem fracionamento.
As cotações pelas quais serão negociadas terão como referência os preços de mercado praticados no pregão comum. Aliás, é neste ponto - a precificação dos papéis - que está o maior desafio regulatório da bolsa.
"Estamos definindo qual será a referência: se a cotação no momento do negócio, de um minuto antes, depois...", explica Pinto. Tudo está sendo azeitado no detalhe para evitar abrir possibilidade de manipulação ou arbitragem de preços com o mercado à vista.
Será necessário estabelecer mudanças no regulamento de operações da bolsa, que ainda precisam ser aprovadas pelo regulador, lembra a Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM.
Grande lote
Também está em definição o que será considerado um grande lote. Na Bolsa de Nova York, um bloco é formado por mais de 10 mil ações ou qualquer quantia de papéis que valha a partir de US$ 200 mil.
Na de Londres (LSE), são elegíveis à negociação no mecanismo de grandes lotes quantias de ações a partir de 50 ou 75 vezes, o chamado "tamanho normal de mercado", que pode ser de 1 mil ou 2 mil ações, dependendo do papel.
Uma das mais recentes bolsas a inaugurar um sistema do tipo, em junho do ano passado, foi a da Austrália (ASX), onde o valor mínimo por ordem é de 1 milhão de dólares locais.
Analistas avaliam que a criação do pregão de grandes lotes pode ter como fundo também uma possível intenção da bolsa de "repatriar" recursos negociados na forma de American Depositary Receipts (ADRs), recibos de ações de empresas brasileiras operados nos Estados Unidos.
Haveria investidores que optam por operar lá fora por terem acesso a mecanismos de grandes lotes nas chamadas "dark pools", sistemas alternativos de negociação no balcão.
Pinto faz questão de ressaltar que o projeto da bolsa nada tem em comum com as "dark pools" americanas, carentes de transparência para os investidores. "Nosso modelo será diferenciado."
Fonte: Valor

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