quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Na SAP, novo desafio é levar sistemas complexos ao celular

O interesse do consumidor pelos smartphones e computadores em forma de prancheta - os tablets - provocou uma corrida das grandes companhias de software para lançar sistemas e programas que rodem nesses dispositivos. A lista inclui Apple, Microsoft, Google e SAP. SAP?!
Sim, aparelhos portáteis parecem lugares improváveis para softwares de gestão, conhecidos por sua complexidade, mas é para essa direção, a da chamada computação móvel, que o grupo alemão se encaminha. E para não deixar dúvidas, diz Jim Hagemann Snabe, coexecutivo-chefe da companhia, em rápida visita ao Brasil esta semana: "O DNA do futuro da SAP está aí."
A explosão dos smartphones é inegável, mas até agora tem sido impulsionada principalmente pelo interesse do usuário em coisas que pouco têm a ver com produtividade, como disputar joguinhos e assistir a vídeos on-line, diz Snabe. "No escritório, aliás, elas talvez diminuam a produtividade", comenta o executivo, com um sorriso.
A ambição da SAP é fazer com que atividades de trabalho aparentemente só possíveis no computador de mesa, sob o escudo das redes internas das empresas, passem a ser feitas também via celular, tablet ou notebook.
"Quando você viaja pela sua empresa, na volta tem de entrar em seu computador e preencher um formulário com todos os gastos feitos. Não seria mais fácil deduzir as contas à medida que elas são pagas, por um único clique no celular e a partir de um sistema conectado a uma bandeira de cartão de crédito?", exemplifica Snabe. "É isso que queremos proporcionar."
Esse novo mundo começou a ganhar forma concreta na SAP em junho, quando a companhia adquiriu a americana Sybase, focada no mercado de aplicações móveis, em um negócio de US$ 5,8 bilhões. A Sybase continuará a funcionar como uma unidade independente e com gestão própria - inclusive no Brasil, onde tem subsidiária -, mas seus programas já podem ser conjugados aos da SAP.
O passo principal, no entanto, será dado em maio, quando a SAP pretende lançar os primeiros produtos integrados - que vão dispensar o trabalho adicional de combiná-los, como ocorre hoje -, durante o Sapphire, seu evento mundial, previsto para ocorrer em Orlando, na Flórida.
A expectativa da SAP sobre a receptividade dos produtos no Brasil é grande. No ano passado, a subsidiária brasileira garantiu a aprovação de um plano para triplicar os negócios - de valor não revelado - até 2014. A atenção da companhia recai sobre os investimentos em infraestrutura, uma necessidade reforçada pelo sinal verde recebido pelo Brasil para sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
"Às vezes nem nos damos conta de quanto alguns setores precisam de informação móvel", diz Luís César Spalding Verdi, presidente da SAP no Brasil. A lista, afirma o executivo, inclui desde a indústria de construção civil - que ganhou relevância nos resultados da companhia nos últimos anos - até a manutenção de aeronaves.
Com a computação móvel, a SAP quer superar uma fase difícil e dar início a uma nova etapa de crescimento rápido. As más notícias começaram em 2007, quando o processo de sucessão de comando passou a apresentar problemas, ao mesmo tempo em que a arquirrival Oracle iniciou um processo judicial acusando uma subsidiária da SAP de roubar segredos.
"Do ponto de vista da liderança, a incerteza acabou", diz Snabe. Junto com Bill McDermott, ele assumiu o cargo de coexecutivo-chefe em fevereiro do ano passado, com a saída de Leo Apotheker, que ocupou a posição menos de um ano.
É a partir dessa estabilidade que a companhia planeja fundamentar sua rota de crescimento. E ela passa longe do caminho escolhido pela Oracle. Enquanto a rival adquiriu negócios em vários setores - incluindo a fabricação de grandes computadores, com a compra da Sun Microsystems -, a SAP se manteve fixa nos programas de gestão, que controlam atividades como vendas, recursos humanos etc.
É uma atitude deliberada da SAP, diz Snabe. Na concepção do executivo, com a computação em nuvem - pela qual os softwares e as informações das empresas podem ser acessados à distância, a partir de computadores localizados em centros de dados - não faz sentido tentar tornar-se um provedor único de todas essas partes. "Acreditamos que essa é fundamentalmente a direção errada", afirma.
Na briga judicial com a Oracle, a SAP foi condenada, nos Estados Unidos, a pagar uma multa de US$ 1,3 bilhão. O valor ainda precisa ser ratificado pelo juiz. Dependendo do desenrolar da história, a SAP pode entrar com recurso. "Por enquanto, não sabemos nada", diz Snabe.
O executivo diz estar tranquilo, porém, quanto à imagem da empresa frente aos clientes. No quarto trimestre, a SAP registrou números preliminares superiores às projeções de mercado, com crescimento de 27% na receita de software e serviços, para US$ 4,34 bilhões. O faturamento total do ano foi de US$ 16 bilhões, bem acima dos US$ 12,5 bilhões previstos por analistas consultados pela Thomson Reuters. "O desempenho mostra que perdemos no tribunal, mas vencemos no mercado", afirma Snabe.
Fonte: Valor

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