quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Entenda o que são hedge funds e por que nem sempre eles significam alto risco

SÃO PAULO - A primeira impressão de muita gente sobre hedge funds é de que são "um tipo de investimento muito arriscado". Entretanto, a explicação pode não ser tão simples - e não necessariamente é tão pessimista assim, já que eles oferecem retornos significativos. Desconsiderando a queda dos mercados com a crise, um investimento de US$ 100 feito no início da década no S&P 500 Total Return Index valeria US$ 92,1 em setembro do ano passado. O mesmo investimento valeria US$ 172,1 em hedge funds.

  De maneira geral, hedge funds são fundos que buscam retornos absolutos explorando oportunidades de investimento, tendo como principal característica o fato de que não são sujeitos a boa parte das limitações e regulamentos impostos à maioria dos fundos disponíveis para investidores de varejo.

  Para especialistas na área, é mais fácil, na verdade, definir o que os hedge funds não são - isso porque esse tipo de fundo permite aplicações em qualquer tipo de mercado (doméstico e internacional), uso de alavancagem, operações long-short, derivativos, a arbitragem entre ativos ou mercados, investimentos em mercados emergentes, e aplicação de curto prazo em oportunidades (novas ofertas de ações, por exemplo), entre outras estratégias de investimento avançadas.

Gestão de risco
Os riscos são inerentes aos negócios, mas os hedge fuds procuram minimizar aqueles que não tragam retornos. Isto não acontece com todos os riscos - porque se todos os riscos fossem minimizados, os lucros também seriam. A estratégia é aceitar riscos onde os fundos esperam ser pagos por aceitar esses riscos, e minimizam riscos que não trazem recompensas. 

É importante mencionar que "hedging", em inglês, significa proteção ou, em outras palavras, uma tentativa de reduzir riscos. O nome "hedge funds" surgiu quando o fundo de investimentos de Alfred Winslow Jones foi denominado como "hedged" - o que significa que o fundo tentava minimizar os riscos de um bear market com posições vendidas, em uma matéria da Fortune sobre o assunto. "Há razões para acreditar que o melhor gestor de investimentos dos dias atuais é um senhor quieto e quase nunca fotografado que se chama Alfred Winslow Jones". A origem dos hedge funds, entretanto, também é atribuída a Keynes.

Mesmo com os riscos consideráveis - dependendo da habilidade do gestor, e do tipo de investimento feito pelo fundo (derivativos, por exemplo, podem significar um grau de risco mais elevado) - segundo os autores do livro AIMA'S Roadmap to Hedge Funds, lançado no final de 2008, o consenso entre os gestores de sucesso é que os hedge funds são uma maneira melhor de se gerenciar dinheiro do que os fundos tradicionais. "Segundo Warren Buffet, seria como voltar a ficar de mãos dadas num namoro", afirmam.

Isso porque, segundo eles, existe uma mudança da perspectiva de que o gerenciamento de investimentos é sobre gerenciamento de riscos, e não retornos. Com a nova percepção, gerenciamento ativo de capital significa que o gestor não somente tem a liberdade de encontrar e apostar em oportunidades de investimento, mas também a flexibilidade e autoridade para sair dessa oportunidade, depois que o relacionamento risco/ recompensa foi modificado.

Fundos "tudo menos"
Richard Bookstaber, um especialista em riscos, argumentou que hedge funds não podem ser claramente definidos - devido ao fato de que todas as análises, classificação e regulamentação são baseados no princípio de que esses fundos são uma entidade homogênea - o que eles não são, já que incluem todos os veículos de investimento possíveis, e todas as estratégias possíveis, menos os tradicionais.

Por isso, seria uma classe "tudo menos". "Analisar os hedge funds é como analisar história moderna excluindo, por exemplo, a França; ou como desenvolver regras de trânsito para todos os meios de transporte, desde pedestres até aviões comerciais, excluindo carros esporte, por exemplo", explica Bookstaber no livro AIMA'S Roadmap to Hedge Funds.

Os ativos estão concentrados em novas empresas - de acordo com dados da HFI, 390 empresas de hedge fund cuidam, cada uma, de mais de US$ 1 bilhão e, juntas, controlam 80% dos ativos globais nesse segmento. Os Estados Unidos são a localização preferida, com quase dois terços dos fundos. Os EUA também são responsáveis por quase dois terços dos ativos gerenciados - entretanto, a Europa e a Ásia têm ganhado importância.

Mais sobre as operações
Um dos fundadores da profissão de gestor de investimentos, Benjamin Graham, afirmou que uma operação de investimento é aquela que promete segurança de capital e retorno adequado - operações que não cumpram esses requisitos são especulativas. Essa garantia de capital é rara no mercado de investimentos - mas alguns hedge funds ainda garantem esse capital. O fundo recebe uma taxa de administração, além de uma taxa dos ganhos - que, caso o resultado seja negativo, significa arcar com parte das perdas.

Legalmente, os hedge funds são geralmente estabelecidos como parcerias de investimento privadas, abertas a um número limitado de investidores e que requerem um investimento inicial mínimo bastante alto - que pode girar em torno de US$ 1 milhão (que deve ser apenas uma parcela das aplicações totais do investidor, a título de diversificação). Como são destinados a investidores especializados, não existe uma grande regulamentação do setor.

A crise e o desempenho dos hedge funds
Até a crise, a indústria mundial de hedge funds vinha tendo uma expansão rápida desde 2000 - muito mais acelerada do que outros tipos de investimento. Apesar de não haver estimativas certas de qual a quantidade de capital gerenciado pelos hedge funds, estima-se que seja em torno de US$ 2,5 trilhões - mas mesmo entre entidades do setor, como Hedge Fund Research (HFR) e Hedge Fund Intelligence (HFI), as estimativas são discrepantes. Uma das razões para essa inconsistência nas informações é que não existe um órgão ao qual todos os fundos são obrigados a se reportar.

Foram injetados, em 2007, US$ 195 bilhões de dinheiro novo em hedge funds - principalmente com o avanço da participação de investidores institucionais e de investidores em geral, buscando construir ou aumentar sua alocação estratégica em hedge funds. O ano foi recorde em termos de fluxo de fundos para a indústria de hedge funds. Fundos de pensão, por exemplo, tiveram que começar a diversificar sua estratégia de investimento - e passaram a procurar alternativas, entre elas, os hedge funds.

Durante a crise de 2000-2002, enquanto os fundos long-only perderam pelo menos 50%, os retornos dos hedge funds foram positivos. Entretanto, com a crise atual, a situação foi diferente, e os hedge funds perderam mais patrimônio em 2008 do que em qualquer outro ano. Somente no ano passado, investidores retiraram cerca de US$ 155 bilhões dos hedge funds, dada a necessidade de cobrir posições em outros investimentos. Tal êxodo resultou na pior performance dessa classe de fundos de toda a série histórica, ao apontarem retornos na casa dos 21%.

As expectativas apontavam para um 2009 ainda pior - no início do ano, Huw van Steenis, analista da Morgan Stanley, afirmou que a expectativa era de que 37% do total do patrimônio líquido deveria ser perdido entre saques de cotistas e desvalorização dos ativos ao longo deste ano.

Contudo, com o forte rali visto nos mercados de renda variável, em julho os hedge funds atraíram US$ 10,6 bilhões, o terceiro mês consecutivo de captação positiva, segundo dados da consultoria Eurekahedge publicados em agosto. De acordo com o relatório, com esse crescimento de quase US$ 11 bilhões, a indústria de hedge funds chegou a US$ 1,35 trilhão, revela o relatório publicado mensalmente.


Fonte: Infomoney

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