sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Elite dos multimercados

O investidor que confiou em um grupo seleto de gestores de fundos multimercados e long/short no ano passado não tem do que reclamar. Muitos conseguiram retornos acima de 10%, superando o CDI, de 9,75% no ano. Mas há casos de ganhos maiores, de 16% e até 18% no ano, mostrando que os gestores conseguiram encontrar os caminhos do lucro em um ano em que o Índice Bovespa ficou perto de zero.
Por ironia, a maioria dos bem-sucedidos conseguiu tirar proveito da péssima fase da Petrobras, transformando a queda de mais de 20% das ações da estatal no ano passado em lucro para o investidor. Também aproveitaram a alta da inflação e seus efeitos nos títulos do governo.
Estudo feito pela Economática para o Valor mostra as carteiras com a maior rentabilidade entre os multimercados e long/shorts no ano passado. O levantamento levou em conta fundos com patrimônio acima de R$ 100 milhões voltados para pessoas físicas e com mais de dois anos. Dos 95 fundos selecionados, cerca de 60, ou 63%, superam o CDI.
No estudo, chama a atenção a grande quantidade de gestores independentes entre os melhores resultados, o que mostra que eles continuam representando uma opção de diversificação fora dos grandes bancos. Chama a atenção também que muitos desses gestores independentes são novatos, revelando uma nova geração de talentos a ser acompanhada pelos investidores.
É o caso da Equitas Investimentos, cujo fundo Equity Hedge fechou 2010 com rendimento de 11,34%. "O grosso desse fundo são estratégias long/short e de volatilidade, mas tudo com ações", explica o sócio e gestor Felipe Zaghen. Filho do ex-diretor do Banco Central Paolo Zaghen, Felipe fundou a Equitas em 2004 com o sócio Luis Felipe Teixeira do Amaral, inicialmente como gestora de fundos de participações em empresas, ou private equity. Desde 2007, porém, a casa passou a se concentrar exclusivamente em multimercados.
A carteira ganhou muito no ano passado com arbitragens de pares de ações ou carteiras contra carteiras, explica Zaghen. E o principal tema foi comprar ações ligadas ao consumo doméstico enquanto o mundo ainda estava em crise. "Sabíamos que as empresas seriam beneficiadas pelo aumento da renda e pelo crescimento do país, como varejo, consumo e construção", afirma. Do lado vendido (apostando na queda), ficaram as ações ligadas a commodities, prejudicadas pela incerteza internacional. Não foi, porém, uma estratégia única, lembra Zaghen. "Foi preciso trocar os papéis e ajustar as carteiras ao longo do ano com a evolução do cenário".
O Equitas Equity Hedge é o maior e mais antigo fundo da casa, que têm R$ 800 milhões sob gestão. Outro fundo com a mesma estratégia, mas com uma dose a mais de risco, o Zênite, fechou 2010 com ganho de 16,15% "Mas é um fundo mais novo, criado em agosto de 2009", diz. Por conta das limitações dos mercados, a Equitas restringiu as novas aplicações no Equity Hedge a R$ 200 mil por cliente. A aplicação mínima é de R$ 25 mil.
Outra característica das novatas na gestão é a ausência de medalhões. Em lugar de destacar nomes de ex-executivos do Banco Central ou de bancos, as novas gestoras privilegiam as decisões colegiadas. "Todas as estratégias são definidas por um comitê formado pelos sócios e gestores", diz Eduardo Bodra, sócio responsável pela gestão da Advis Investimentos.
Uma curiosidade é que o estrategista e responsável pela gestão da Advis, Alexandre De Zagottis, veio da área empresarial, apesar de ter iniciado a carreira no mercado financeiro. Ele comandou a área financeira da empresa da família, a Droga Raia, de 2002 a 2008, quando juntou-se à Advis.
A gestora tem três fundos entre os melhores da pesquisa: o Enduro, com 16,97%, é o melhor entre os multimercados multiestratégia. O macro Delta acumulou ganho de 12,15% e o Advis Macro, de 10,5%. Bodra explica que o Delta e o Macro são carteiras globais, que investem no mundo todo com visão de longo prazo. Já o Enduro, o mais antigo, se concentra em aplicações de curtíssimo prazo no Brasil. Nenhum deles, porém, aplica em bolsa.
A gestora já havia chamado a atenção dos investidores em 2009, quando o fundo Enduro rendeu 31,68% e o Delta, 19,74%. Isso fez o patrimônio da Advis disparar, de R$ 400 milhões no início de 2010 para R$ 2,2 bilhões hoje. O projeto da Advis é ampliar sua atuação para renda variável e, para isso, trouxe Julio Marote do BNP Paribas para criar dois fundos no ano passado, um long/short e um equity hedge.
A aposta em setores de seguros, construção e shoppings, além de Cosan, OGX, Vale e consumo, foi o que proporcionou boa parte do retorno de 14,66% do Perfin Long Short, o melhor da categoria direcional, explica o gestor e sócio da Perfin Investimentos, Ralph Gustavo Rosenbeng. A gestora, criada em 2003, foi reestruturada em 2007 com a entrada de Rosenberg e outros herdeiros de famílias tradicionais como Ermírio de Moraes, Skaf e Paolucci. O Perfin Long Short surgiu no mesmo ano.
Também tiveram destaque aplicações em consumo e saúde, como Le Lis Blanc, Guararapes, Dufry e Dasa, além de infraestrutura, como EcoRodovias. Rosenberg explica que o fundo não é muito concentrado, e tem hoje 35 empresas no portfólio, 25 compradas e 10 vendidas. A maior posição hoje é Itaú e Vale. "Cosan e OGX também são grandes", diz o gestor. O fundo está vendido em Santander e também em Índice Bovespa futuro. "Usamos muito o índice para ficar vendidos; de 40% a 80% da nossa posição vendida é no Ibovespa", afirma Rosenberg. Com isso, o fundo consegue manter um rendimento alto com uma volatilidade baixa, em torno de 1% ao ano, afirma o gestor.
Para Rosenberg, a incerteza com o cenário externo não permite construir cenários de longo prazo. "Mas os incentivos à economia nos EUA vão continuar impulsionando o crescimento do país e isso vai beneficiar as commodities e o Brasil", diz. O problema é o aumento da inflação nos emergentes, que deve levar ao aumento dos juros no Brasil. "Estamos revisando nosso cenário para empresas mais endividadas, ou que não conseguem repassar o aumento dos insumos", diz. Rosenberg diz que gosta de bancos, apesar das restrições do Banco Central ao crédito, commodities, como aço - com Gerdau -, e infraestrutura.
Fonte: Valor

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