quarta-feira, 20 de outubro de 2010

IOF cria receio de mais restrições

O novo aumento de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros assustou investidores, que passaram a acreditar que o governo está mesmo disposto a impedir uma valorização maior do real e pode vir a anunciar outras medidas, se necessário, aumentando a volatilidade do mercado. Ao impactar as transações no mercado futuro, a nova medida ajuda ainda a limitar a alavancagem de fundos de hedge. Mas, segundo analistas ouvidos pelo Valor, a tendência de fortalecimento do real permanece.
Há um consenso, no entanto, que sem a atuação do Ministério da Fazenda o dólar estaria abaixo dos R$ 1,60. Ontem, fechou em alta de 1,26%, a R$ 1,687, em um dia no qual a moeda americana se valorizou no mundo todo por causa do aumento de juros promovido na China.
A elevação do IOF impactou fortemente o mercado de juros de longo prazo, pois os fundos estrangeiros, os afetados com o imposto maior, são os maiores compradores de papéis do Tesouro de prazo mais longo e também são fortemente atuantes no mercado futuro de juros. Os contratos para vencimento em janeiro de 2017 projetaram taxas de 11,61% ao ano para os Depósitos Interfinanceiros, alta de 0,26 ponto percentual no dia.
"Com os termos de troca favoráveis, uma política fiscal frouxa e um contínuo interesse dos investidores no Brasil, acreditamos que a moeda vai continuar forte ainda por algum tempo", diz John Welch, estrategista-chefe para mercados emergentes do Macquarie Capital. Ele lembra que o Fed, o banco central americano, vai injetar mais dólares na economia com a compra de títulos públicos, o que deve ser anunciado em sua reunião de novembro.
Para o estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, o mercado ainda está "digerindo" a nova rodada de aumento do IOF "e nossa interpretação é de que as incertezas regulatórias estão se ampliando, levando a spreads maiores e maior volatilidade entre os preços internos e externos para comprar qualquer tipo de ativo no Brasil". Ele sugere o desmonte de posições compradas nos juros prefixados longos, dada a forte presença dos investidores estrangeiros nesse mercado.
Agora, além de pagar 6% no câmbio para investimentos em títulos de renda fixa, e não mais 4%, os estrangeiros também vão pagar 6%, e não mais 0,38%, no câmbio fechado para depósitos de garantias nos mercados futuros da BM&FBovespa. Só ficam de fora da taxação os depósitos de garantias feitos por meio de fiança bancária.
A fiança bancária custa de 0,5% a 2% do valor garantido ao ano, dependendo do risco de crédito do cliente (fundo), segundo especialista de tesouraria de um banco. Assim, acaba sendo mais barata que o IOF para o investidor do fundo de hedge, de curto prazo. Por isso, a demanda por fiança para depósito de garantias na BM&FBovespa tende a crescer e esse tipo de crédito pode ficar mais caro.
Gestor de um grande fundo de hedge nacional explica que a maioria dos fundos quantitativos - operados por computadores com base em parâmetros matemáticos estabelecidos pelo gestor - externos usam fiança bancária e por isso não serão afetados, a não ser se acontecer um aumento de custo dessa garantia.
Segundo a Link Investimentos, os investidores estrangeiros (no segmento de derivativos) representavam em setembro 21,8% do total na BM&FBovespa, sendo que 5,7% eram esses fundos quantitativos (de alta frequência). Dados da bolsa mostram que as cartas de fiança representavam 3% dos R$ 85 bilhões em garantias depositadas, em relação aos 88% em títulos públicos. Os estrangeiros tinham antes do IOF maior cerca de R$ 20 bilhões em garantias depositadas.

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