segunda-feira, 5 de julho de 2010

RiskOffice fornecerá cotações para gestores

RiskOffice, consultoria de risco controlada desde 2008 pela Algorithmics Ventures (AlgoVentures), prepara-se para expandir suas operações no Brasil criando, neste mês, uma empresa que fornecerá cotações de ativos para gestores de recursos, fundos e investidores. O grupo já faz isso no México, por meio da empresa Valor de Mercado, ouValmer. Além disso, a AlgoVentures vai tornar a RiskOffice uma multinacional de consultoria de riscos para clientes não financeiros, inaugurando filiais inicialmente no México e em Nova York.
A proposta é criar a Valmer Brasil para replicar no país o modelo de "price vendor", afirma Marcos Jacobsen, presidente da AlgoVentures e da RiskOffice. No México, seguradoras, gestores e fundos precisam, por lei, atualizar o valor dos ativos de suas carteiras, ou seja, marcá-los a mercado, usando os dados de uma empresa independente, auditada pelo banco central e pela comissão de valores mobiliários local.
A Valmer domina 75% do mercado de cotações mexicano, divulgando 20 mil preços de ativos para mais de 300 clientes, diz Jacobsen. Outros quatro países latino-americanos - República Dominicana, Panamá, Colômbia e Chile - estudam adotar o mesmo sistema de marcação a mercado.
No Brasil, onde a marcação a mercado é obrigatória para os fundos, os dados são fornecidos de forma pulverizada por várias entidades, como BM&FBovespa, Cetip, Associação Brasileira das Instituições do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima) e o próprio Banco Central. "Mas todos têm o viés das instituições financeiras", observa Jacobsen, que foi presidente da Associação Brasileira das Instituições do Mercado (Andima) quando era executivo do Banco Bamerindus.
A proposta da Valmer é não ter esse viés e usar padrões e metodologias internacionais de cálculo dos preços, "até porque muitos investidores são estrangeiros", acrescenta ele. A AlgoVentures pretende negociar parcerias na Valmer com as bolsas, a Cetip e a Anbima, e a empresa poderá abrir seu capital no futuro, como no México.
Na prática, a RiskOffice já faz esse levantamento de preços para os clientes. Ao acessar os dados das carteiras de investimentos e empréstimos, a consultoria calcula os valores dos ativos e cruza os resultados para checar a atuação dos gestores de várias instituições. "Hoje já calculamos quatro milhões de operações por mês e temos metodologia para calcular o preço de 50 mil ativos no Brasil."
A AlgoVentures, com sede em Londres, é subsidiária da Algorithmics Inc, maior fornecedora de software de análise de risco do mundo. Como o nome diz, os programas usam modelos matemáticos de algoritmos para calcular riscos em bancos, corretoras gestoras e empresas. "Pouca gente sabe, mas a Algorithmics começou no Brasil, com um projeto de avaliação de risco chamado Brasil Watch", diz Jacobsen, que é presidente da AlgoVentures mundial e veio para o Brasil assumir o projeto da RiskOffice.
A Algorithmics, porém, só vende o software. Cada cliente o usa da maneira que quiser. A proposta da AlgoVentures é tornar a RiskOffice a responsável pelos serviços mundiais de consultoria do grupo, complementando o software da empresa-mãe. A diferença fundamental é que a RiskOffice emite opinião, e não apenas relatórios, explica Jacobsen.
Hoje a RiskOffice é a maior empresa de avaliação de risco do Brasil, com 350 clientes - nenhum deles banco ou instituição financeira, para evitar conflitos de interesse. No total, a empresa segue 105 políticas de risco, atende 200 fundos de pensão, um número não informado de "family offices" e tem sob consultoria R$ 195 bilhões em ativos. A empresa ajuda na gestão de outros R$ 75 bilhões de dívidas de empresas. São calculadas 2 mil carteiras de fundos por semana e emitidos 100 mil relatórios por mês.
O Brasil foi escolhido pela Algorithmics Inc. para ser o desenvolvedor dos sistemas de consultoria, assim como a Alemanha concentra os modelos de risco de crédito e o Canadá, os de mercado. Nesse ponto, as crises brasileiras ajudaram a desenvolver uma agilidade para resolver problemas, observa Jacobsen.
A posição mais ativa da consultoria tem seus prós e contras. Recentemente, ao avaliar as operações com opções de uma empresa, a RiskOffice descobriu que havia um erro nas contas do banco de R$ 20 milhões a favor do cliente.
Jacobsen lembra que, antes da crise de setembro de 2008, a RiskOffice emitiu parecer para uma empresa sobre uma operação de derivativos cambiais com opções. "Dissemos à empresa que ela não era banco para fazer aquele tipo de operação especulativa e que a garantia do negócio era a própria companhia, que poderia ter de ser vendida para pagar o débito", diz. A empresa rompeu o contrato com a RiskOffice e manteve o contrato que, como previra a consultoria, quase a levou à falência.
Jacobsen rebate as críticas de alguns economistas a respeito da incapacidade dos modelos de risco de prevenir a crise de 2008. "Os modelos não fracassaram", afirma. Primeiro, o risco é um fator subjetivo. "Mas as pessoas querem um modelo só de preço-justo para ativos muito diferentes, como imobiliários ou de mercado de capitais", diz. Outro problema é que os métodos contábeis usados pelas empresas se baseiam em avaliar os preços no passado, enquanto o risco é preço futuro. "E os modelos matemáticos em si não são a solução, quem perdeu foi quem acreditou cegamente nos modelos, e não deveria", diz. Segundo ele, nos modelos de risco, a única certeza de acerto é no 1% que pode dar errado, o resto é probabilidade.
Fonte: Valor

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