segunda-feira, 21 de junho de 2010

Oferta da Petrobras dita ranking global

A oferta de ações da Petrobras, prevista para movimentar mais de US$ 50 bilhões e ser a maior do mundo, vai colocar nas primeiras posições dos disputados rankings globais de renda variável os bancos que vão atuar como coordenadores, vendendo e fazendo toda a assessoria financeira da transação.
Bancos nacionais, como o Itaú BBABradesco BBI e Banco do Brasil, que geralmente não aparecem nos rankings mundiais de emissões de ações mais tradicionais, de imediato ficarão entre os dez primeiros colocados. O espanhol Santander, que estava fora dos principais rankings neste ano, também sobe. Os americanos Morgan Stanley,Bank of America Merrill Lynch e Citi, que já vinham bem colocados, passam às primeiras posições.
Valor usou como base para simular o impacto da transação da Petrobras os rankings da Thomson Reuters de emissão de ações e títulos vinculados a ações até o dia 9 de junho obtido por meio de um banco. Conforme os critérios normalmente usados pela Thomson Reuters, foram contabilizados US$ 50 bilhões para cada um dos bancos participantes como coordenadores na transação da Petrobras.
Também foram incluídos os US$ 5 bilhões estimados da emissão de ações do Banco do Brasil, prevista para acontecer em breve, para cada um dos líderes: BB, Bank of America Merrill Lynch, BTG Pactual, Citi e J.P. Morgan.
Outros US$ 20 bilhões foram incluídos para os coordenadores da emissão do chinês Agricultural Bank of China (ABC): Goldman Sachs, J.P. Morgan, Macquarie Group,Deutsche Bank e Morgan Stanley. Inicialmente prevista para girar US$ 30 bilhões, a emissão do ABC hoje está estimada em algo próximo a US$ 20 bilhões, podendo até cair.
É possível perceber que, das três maiores emissões de ações do momento -BB, Petrobras e ABC-, o Morgan Stanley é o único que está presente como coordenador em todas. Sua posição no ranking da Thomson Reuters, que até o dia 9 de junho era o terceiro lugar, com US$ 18,5 bilhões, sobe para o primeiro lugar, com US$ 89,8 bilhões.
O Bank of America Merrill Lynch, que lidera a transação da Petrobras e do BB, passa para o posto número dois no ranking simulado pelo Valor, com US$ 72,7 bilhões, em relação aos US$ 17,7 bilhões efetivamente feitos até o dia 9, o que lhe conferia o quarto lugar.
O Citi, também presente nas transações do BB e da Petrobras, assume na simulação a terceira posição, com US$ 68 bilhões, na comparação com a sexta posição antes, com US$ 12,4 bilhões. Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander vêm em seguida, com as respectivas quarta, quinta, sexta e sétima posições. Eles não estavam presentes no ranking anterior da Thomson Reuters. Por isso o Valor incluiu na tabela as transações que esses bancos mais o Safra e o Banco Votorantim haviam realizado para emissores brasileiros no mercado interno neste ano até agora.
É importante notar que outras transações grandes poderão modificar o ranking global até o final do ano, mas os banqueiros não acreditam que nenhuma venha a ter o peso da emissão de ações da Petrobras. A empresa brasileira deve tirar a posição do Banco Industrial e Comercial da China, que captou US$ 22 bilhões em 2006 no que foi até agora a maior emissão de ações do mundo.
Outros bancos da China também estão se preparando para levantar capital, como o Bank of Communications, o quinto maior em ativos. A estimativa é que ele emita US$ 4,8 bilhões. Com os Estados Unidos, a Europa e o Japão com crescimento lento no seu Produto Interno Bruto, é cada vez maior a importância dos emergentes nos rankings globais.
Os banqueiros de investimento consideram os rankings uma importante ferramenta de venda para clientes, além de usá-los para referência diante da concorrência e internamente, para avaliar a disputa por mandatos relevantes.
É comum no mercado os banqueiros exercerem pressão para obter destaque nessas tabelas.
Tanto o ranking da Thomson quanto o também muito usado Dealogic têm como critério atribuir a cada banco o volume total da transação, independentemente da fatia de ações efetivamente vendida pela instituição. Essa característica rende críticas a esses rankings, porque eles não refletem a receita em comissões de fato auferida. No Brasil, o ranking da Anbima tem como critério creditar a cada banco apenas o percentual da emissão vendida por ele.
Transações grandes, em geral, envolvem comissões menores aos bancos participantes. Mas os valores absolutos obtidos muitas vezes são compensadores, além do ganho de posição nos rankings. No caso da Petrobras, a comissão ainda não foi divulgada. Supondo algo em torno de 1%, o bolo de receita ficaria em torno de meio bilhão de dólares.
As ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), em geral, são mais rentáveis do que as emissões de empresas já listadas. As empresas menores e mais desconhecidas pagam percentuais maiores do que as maiores e mais conhecidas. A transação do BB vai garantir uma comissão de apenas 0,5% aos bancos líderes, em comparação com o 0,74% pago pelo banco em 2006 e o 0,86% de 2007. Na média, essas comissões são de 3%. O mercado estima que a Petrobras pagará acima do Banco do Brasil. A emissão inicial de ações do Santander Brasil, no ano passado, envolveu 1,6% de comissão. AVale pagou 0,97% e a Gerdau 1%, por exemplo.
Fonte: Valor

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