quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cresce adesão a planos de opções


Já não se trata mais de uma nova tendência. O uso de planos de opções como parte da remuneração de executivos está disseminado, em especial entre as companhias que abriram capital após 2004. Estudo realizado pelo BTG Pactual mostra que praticamente 80% das companhias do Novo Mercado adotam essa ferramenta. O levantamento avaliou 104 empresas e 80 delas concedem opções de ações a seus principais executivos.
Os analistas Carlos Sequeira e Antonio Junqueira, autores da pesquisa, destacam que o fato é positivo, pois a função principal dos planos é alinhar o interesse dos administradores ao dos acionistas. Além disso, segundo eles, de forma geral, os planos brasileiros "são muito bons".
No Brasil, a adoção de planos de opções é recente. Antes da retomada da atividade do mercado e das aberturas de capital, pouquíssimas empresas usavam essa ferramenta. Em geral, eram companhias geridas pela GP Investimentos ou com algum fundo de participação atuante na gestão.
Nos Estados Unidos, essa forma de remuneração já deu muita dor de cabeça ao mercado. Foi um dos combustíveis das fraudes contábeis, pois os executivos estavam preocupados em gerar lucros de curto prazo e puxar as ações na bolsa para colocar no bolso quantia significativa de dinheiro. Depois, houve a fraude das datas de concessão dos planos ("back dating"), em que as companhias e os executivos escolhiam posteriormente o pior momento de preço em bolsa como data oficial de concessão do plano, de forma a maximizar o ganho do administrador.
Na avaliação de Sequeira e Junqueira, os planos adotados no Brasil são bons justamente por conta dos mecanismos que visam controlar a agressividade do executivo no curto prazo, alinhando o interesse com o longo prazo.
De acordo com o levantamento do BTG Pactual, em mais de metade das empresas que possuem essa ferramenta o exercício ocorre num prazo entre três e cinco anos, considerado por eles suficiente para gerir riscos.
Outro resultado da pesquisa considerado como positivo pelos analistas é o fato de os planos representarem, em 86% dos casos, um potencial de diluição dos acionistas apenas entre 3% e 5% do capital total.
Segundo Christian Pereira, consultor sênior da Mercer, o mais comum é que os planos compreendam entre 3% e 6% do capital da empresa. Apesar disso, reconhece que em alguns casos, em que o valor de mercado da companhia não é tão grande, o percentual acaba sendo maior. "Se não for assim a empresa não remunera como gostaria. Seria melhor não dar."
A pesquisa mostra que no Novo Mercado há apenas oito empresas em que os planos de opção envolvem fatia consideravelmente maior que 5%. O maior dos planos é o daTarpon, que pode alcançar até 25% do capital. Em seguida, aparece o da Tempo Participações, com 12% .
Segundo Felipe Rebelli, líder na América Latina da área de talentos e recompensas daTowers Watson, no exterior, como as empresas possuem esses planos há mais tempo, eles costumam representar entre 10% a 15% do capital entre as indústrias, chegando a 20% no setor financeiro.
Gilberto Mifano, presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e ex-presidente do conselho de administração da BM&FBovespa, acredita que os planos de opções são uma ferramenta positiva de alinhamento de interesses. "Pelo menos, esse é o objetivo principal e original." No entanto, destaca que equilibrar os interesses com essa ferramenta é praticamente uma "arte".
Na opinião de Marcio Brito, analista da Jardim Botânico Investimentos, gestora carioca focada em governança, os planos de opção são um componente importante de um bom pacote de remuneração de executivos, que deve conter ainda uma parcela fixa razoável e bônus, sendo as parcelas variáveis atreladas a metas adequadas e bem planejadas para o momento da companhia. Na opinião do especialista, contudo, melhor do que planos de opções são planos de ações, em que o executivo adquire os papéis da companhia.
A diferença principal entre os dois é que no plano de opção o executivo só exerce os papéis se tiver certeza de que terá ganho, ou seja, se o valor em bolsa estiver superior ao preço pelo qual tem direito sobre as opções. Sendo assim, pode deixar de ganhar, mas não tem risco de perder se o valor da companhia diminuir. Já no plano de ação, citado por Brito, o executivo passa a correr exatamente o mesmo risco que os demais acionistas, podendo perder com a desvalorização dos papéis na bolsa.
Ponto polêmico dos planos de opção é o preço pelo qual os papéis são concedidos aos executivos. Sequeira e Junqueira apontam que 45% preveem desconto sobre a cotação em bolsa (ou a média de um período), 39% estão atrelados ao preço no pregão, mas sem desconto, e 16% não estão claramente definido. Na visão dos analistas, o desconto é um estímulo importante, caso contrário pode não haver incentivo para o executivo.
Mifano, do IBGC, acredita que o melhor seria não atribuir desconto. Na avaliação dele, a concessão de um desconto e a quase garantia de ganho acabam não estimulando o administrador a elevar o valor no mercado. "Fica parecendo um bônus."
Na visão do consultor da Mercer, on mais recomendado é que o preço de exercício da opção seja determinado com base na média pondera das ações, sem ajuste. "Se há o desconto, pode ser porque a empresa também não confia que a ação vá subir tanto." Ele pondera, entretanto, que o desconto permite que se dê o mesmo valor para o executivo, com uma diluição menor dos demais acionistas.

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