quarta-feira, 3 de março de 2010

No rastro da OGX


Está marcada para 19 de março a estreia da quinta empresa do grupo EBX, de Eike Batista, na Bovespa: a companhia de construção naval para a indústria de petróleoOSX. A operação tem potencial para ser a maior já feita pelo empresário e até superar a oferta da OGX, que somou R$ 6,7 bilhões em junho de 2008. A captação de recursos pela OSX deve variar de R$ 5,5 bilhões a R$ 9,9 bilhões, conforme o intervalo de preço sugerido para as ações.
A OSX nasce na esteira da necessidade de investimentos da OGX, outra empresa do grupo, em unidades de exploração e produção de petróleo. Mas a companhia pretende também conseguir atender a estatal Petrobras com o pré-sal.
Ao mercado, por enquanto, a OSX tem a oferecer como garantia de demanda por seus produtos um contrato de cooperação estratégica com a OGX em que as companhias se comprometem a dar prioridade uma a outra.
A OGX, dona de 29 blocos de petróleo e gás em fase de pesquisa, prevê a necessidade de 48 unidades de exploração e produção nos próximos dez anos, com custo estimado de US$ 30 bilhões.
Diante dessa cifra, Batista, reconhecido por sua capacidade de alavancar oportunidades, viu aí o caminho para mais um megaempreendimento.
Assim, sua investida no ramo de petróleo rendeu duas companhias: a OGX e a OSX. A primeira é avaliada hoje em R$ 51,8 bilhões. Já a OSX, conforme o preço resultante da oferta, deve chegar à bolsa valendo entre R$ 13,6 bilhões e R$ 20,8 bilhões. Mas já é fato que deverá ser a segunda maior companhia do empresário.
Sem contar a OSX, as companhias de Eike Batista já captaram cerca de R$ 10 bilhões na bolsa - a mineradora MMX, a empresa de energia MPX e a OGX fizeram oferta de ações. Todas as quatro empresas abertas, incluindo a de logística LLX, valiam ontem, juntas, mais de R$ 68 bilhões - sendo R$ 43 bilhões de propriedade da EBX.
A capacidade de gerar valor - conhecida há apenas cinco anos - é tratada na apresentação da OSX como um diferencial de sucesso do grupo. No entanto, vale lembrar que boa parte dos projetos do empresário ainda não saiu do papel, pois são de longo prazo, ou ainda não alcançou grande escala.
Como as demais empresas do grupo, a OSX chegará à Bovespa em fase pré-operacional. Seu balanço de 2009 não tem nada além de um prejuízo de R$ 33,4 milhões, resultado de despesas de R$ 10,6 milhões e provisão para passivo descoberto de R$ 25,9 milhões. A companhia tinha ao fim de dezembro um patrimônio líquido de R$ 28,4 milhões e uma dívida de R$ 628 milhões. Por ainda não ter atividade, a oferta será aberta só aos investidores qualificados e a aplicação mínima é de R$ 300 mil.
A ideia é que a OSX produza as unidades que serão usadas pela OGX, que no lugar de gastar para comprar as unidades terá um contrato semelhante a um leasing com a empresa "irmã". Com isso, como é de praxe na indústria de petróleo, equilibra o fluxo de caixa entre a produção de petróleo e a despesa de sua exploração.
O objetivo da OSX é levantar, pelo menos, R$ 6,5 bilhões com a oferta. O preço médio do intervalo sugerido para as ações - R$ 1.000,00 a R$ 1.333,33 - resultaria na captação de R$ 6,1 bilhões.
O dinheiro obtido com a oferta inicial de ações, porém, seria apenas a formação de uma base de capital a partir da qual a empresa pode se alavancar, já que a necessidade de recursos para um projeto como o pretendido pela OSX é substancialmente maior.
Só a construção do estaleiro projetado pela empresa em Santa Catarina deve demandar US$ 1,7 bilhão. As primeiras 30 unidades de exploração a serem feitas exigirão mais US$ 16,5 bilhões.
Do que for levantado com a oferta, R$ 302,5 milhões vão para a construção do estaleiro e a maior parte, R$ 5,5 bilhões, para equipamentos. Essa divisão considera a captação de recursos pela média do intervalo de preço das ações.
Como não tem experiência no ramo, a OSX firmou parceria com a Hyundai, maior construtora naval do mundo. A multinacional transferirá tecnologia e conhecimento ao grupo EBX em troca de uma participação de até 10% na empresa brasileira. O acordo ainda aguarda aval do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Os contratos entre partes relacionadas costumam levantar suspeitas de investidores, que procuram ficar atentos para que não haja transferência indevida de recursos nessas operações. Para reduzir as chances de mal-estar com essa estrutura, o acordo com a OGX rege até mesmo as margens da OSX. A nova companhia do grupo prevê margem de 15% na atividade de construção naval, retorno de 15% no afretamento de unidades (contratos semelhantes ao leasing) e ganho de 5% nos serviços de operação e manutenção.
O documento foi assinado em 26 de fevereiro. A acordo foi aprovada pelo conselho de administração da OGX com abstenção dos representantes indicados pela EBX.
Entre os investidores, a simbiose entre as companhias não parece, até o momento, trazer incômodo. Contudo, a consciência de que o risco do investimento é praticamente o mesmo - o sucesso da OSX depende quase totalmente da execução dos projetos da OGX - deve levar parte dos investidores a vender uma fatia da posição detida na companhia de exploração de petróleo para comprar os papéis da novata. Não por acaso, a dependência da OGX aparece como risco no prospecto da oferta da OSX.
No começo de fevereiro, as ações da OGX giravam uma média de R$ 350 milhões ao dia ou mais, e as ações chegaram a R$ 19. Os papéis encerraram o pregão de ontem a R$ 16,05, e a negociação diária recuou cerca de 30%, para perto de R$ 250 milhões.
Embora a demanda de sua "irmão mais velha" seja o único ativo que tem a apresentar aos investidores, a OSX também vê grandes oportunidades com a estatal Petrobras, devido à necessidade de infraestrutura para exploração do óleo do pré-sal.
O estudo de viabilidade da companhia - documento exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para negócios em fase pré-operacional - aponta que haverá demanda para 171 unidades de exploração no Brasil nos próximos dez anos, equivalentes a US$ 141 bilhões. As pesquisas apresentadas pela OSX aos investidores foram realizadas pelas empresas Verax Consultoria, Planave Engenharia e Technip.
A companhia acredita que a exigência da Agência Nacional de Petróleo (ANP) de conteúdo local de cerca de 70% nos equipamentos beneficiará seu negócio.

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