terça-feira, 3 de novembro de 2009

A saga de duas famílias: Dreyfus e Biagi


Durante décadas, a família Biagi foi sinônimo de etanol no Brasil. Filho de imigrantes italianos, Maurílio Biagi (1914-1978) construiu algumas das primeiras usinas de açúcar e álcool do País, e seus filhos se tornaram os reis de Ribeirão Preto. Do outro lado do Atlântico, em Paris, uma outra família, a dos banqueiros judeus Dreyfus, construiu uma reputação de sucesso empresarial e esteve também no centro de uma das maiores polêmicas da história da França - em 1898, a perseguição ao capitão Alfred Dreyfus inspirou o escritor Émile Zola a escrever o texto jornalístico mais conhecido de todos os tempos, o célebre J'accuse.


Na semana passada, a história dessas duas famílias se misturou. A Dreyfus assumiu o controle da Santelisa Vale, que pertencia aos Biagi, e se tornou controladora do segundo maior grupo sucroalcooleiro do País. "Nosso sentimento é de frustração", disse à DINHEIRO André Biagi, um dos excontroladores da companhia. "Essa venda foi a saída menos traumática."

Claramente, o que se vê nesse desenho é uma família derrotada e uma outra vencedora. "Em empresas familiares, sucessão é a maior causa de morte", avalia Wagner Teixeira, diretor da Bernhoeft Consultoria. Isso vale para os Biagi, mas não para os Dreyfus. Enquanto os brasileiros se desintegraram, os franceses são donos da mais antiga empresa familiar do mundo, com 150 anos de vida, faturamento de US$ 39 bilhões e 26,7 mil funcionários. E querem continuar assim por muito tempo. Pouco antes de morrer, há seis meses, o ex-presidente Robert Louis- Dreyfus constituiu um trust, que passou a gerir as ações de controle. "A diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa de gestão familiar está na capacidade de diferenciar herdeiro de sucessor", disse Pedro Adachi, diretor da Societàs, especializada em sucessão. Na família Dreyfus, de fato, negócio e família não se misturam.

Robert deixou 51% das ações da empresa sob o controle de Jacques Veyrat, um executivo da LDC. O trust desenhado pelo ex-presidente - que congela as ações pelos próximos 99 anos - não garante a perpetuação da prosperidade do clã. No entanto, deixa para a família o recado de que pelo próximo século a venda da empresa não será a solução de problemas. Apenas os dividendos poderão ser divididos entre a viúva e seus filhos. Entre os Biagi, o começo do fim teve origem em 2006. Rubens Ometto, controlador da Cosan, fez uma oferta de compra da Vale do Rosário. As famílias Biagi e Junqueira, no contra-ataque, fundiram a companhia com a Santa Elisa, tomando mais de US$ 800 milhões no mercado. Depois, eles pretendiam lançar ações da nova empresa para levantar recursos. Conflitos atrapalharam a abertura de capital e o endividamento explodiu. "Fomos induzidos ao erro por acreditar que o futuro dos combustíveis estava no etanol", reconheceu André Biagi. Pressionados por uma dívida de R$ 3 bilhões - seis vezes o faturamento -, os Biagi se viram obrigados a vender a Santelisa para a Louis Dreyfus Commodities. Era o fim de uma dinastia e a consolidação de outra. E, sob novo comando, a usina passou a se chamar LDC SEV e se tornou uma companhia de R$ 8 bilhões e capacidade de processar 40 milhões de toneladas de cana. "Vamos, agora, em busca da liderança", resumiu o CEO do grupo no Brasil, Bruno Melcher.

Fonte: IstoéDinheiro

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