segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ele nem chegou e já assusta os concorrentes

Jean-Bernard Lévy, CEO da Vivendi, pagou R$ 7 bilhões para comprar a GVT e entrar no mercado brasileiro de telefonia. À DINHEIRO, ele revelou seus planos e prometeu tirar o sono das outras operadoras.

Nos últimos três meses, dois dos maiores grupos empresariais do mundo estiveram em guerra. De um lado, a armada espanhola, da Telefônica, que comandava suas tropas a partir de Madri - de lá, o chefe global César Alierta orientava o presidente da subsidiária brasileira, Antônio Carlos Valente, a barrar qualquer avanço do exército inimigo. De outro, a francesa Vivendi, sediada em Paris, onde o CEO Jean-Bernard Lévy seguia os preceitos de Sun Tzu, autor do clássico A Arte da Guerra. Principalmente o que ensina que as virtudes cardeais de um bom general são "o segredo, a dissimulação e a surpresa". Foram essas as armas que ele colocou em ação para fechar uma das aquisições mais caras já realizadas no setor de telecomunicações no mundo - numa operação de R$ 7 bilhões, a Vivendi terá 100% das ações da brasileira GVT. "Ganhamos porque a disputa não girava só em torno do preço", disse Lévy, com exclusividade, à DINHEIRO.


Nesse embate, a vitória da Vivendi contrariou expectativas. Os principais executivos da Telefônica, que haviam dormido com a certeza de ter comprado a GVT, souberam da reviravolta pela internet. E embora a operadora brasileira esteja listada no Novo Mercado da Bovespa, Lévy conseguiu amarrar a compra do controle fora de uma oferta pública, realizando transações privadas - e secretas - com os maiores acionistas da compa- nhia. O principal deles, o israelense Saul Shani, que controla a GVT e vive fora do Brasil. Shani foi capaz de valorizar tremendamente seu ativo porque soube se colocar no meio de uma guerra entre dois projetos contraditórios, mas estratégicos. À Telefônica, interessava impedir a chegada de um concorrente.

A Vivendi, por sua vez, vislumbrou na GVT a oportunidade de adquirir uma fatia do bolo das telecomunicações no País. O CEO Levy avalia que a expansão da classe média e o perfil demográfico brasileiro fazem do mercado nacional um dos mais promissores do mundo. É essa a base sobre a qual ele desenhou seu plano de ação para o Brasil. Um plano que inclui serviços de telefonia, banda larga e tevê por assinatura - em pacotes mais econômicos do que os da concorrência. Confiante, ele pagou até mais do que os controladores da Oi haviam desembolsado para adquirir a Brasil Telecom - em março de 2008, a BrT foi vendida por R$ 5,4 bilhões. "A Vivendi pagou um prêmio para assegurar seu crescimento, que terá de vir de países emergentes como o Brasil", avalia Nicolas Cote-Colisson, analista do banco HSBC, focado no setor de telecomunicações.

Por trás desse meganegócio, há também um ex-soldado do exército israelense, chamado Amos Genish, que chegou há dez anos ao Brasil falando poucas palavras do português. Para adquirir a concessão que deu origem à GVT, ele desembolsou apenas R$ 100 mil. Com a licença, ganhou direito de ser a empresa espelho da Brasil Telecom, numa área que vai do Rio Grande do Sul ao Amazonas, englobando as regiões Sul, Norte e Centro-Oeste. Neste ano, a GVT já deve faturar mais de R$ 1,5 bilhão e, depois da venda, Genish será o mais novo bilionário da economia brasileira (leia mais sobre ele à página 60). A transação também tende a mudar de formal radical o panorama das telecomunicações no Brasil.
"Teremos mais qualidade, um melhor atendimento, preços menores e mais competição", festejou o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, Ronaldo Sardenberg.

"Tenho preocupação com gente nova chegando por aqui, detonando preço e depois indo embora" Luiz falco, presidente da oi
"Quando se faz exigências, tem que ser democraticamente para todos, e não para só um dos compradores" Hélio Costa, que defendeu contrapartidas da Vivendi
"Se as empresas de telefonia e o governo não gostaram, é porque isso deve ser bom para o consumidor" Virgílio Freire, consultor em telecomunicações

Condições para mudar o jogo da competição no Brasil é algo que a Vivendi tem de sobra. Hoje, o mercado nacional é dividido em quatro grandes blocos - o ibérico, da Telefônica e da Vivo; o italiano, da TIM; o mexicano, com Claro e Embratel; e mais o nacional, com a supertele. A Vivendi, que fechará este ano com, uma receita global de E 27 bilhões, equivalente a US$ 38 bilhões, tem fôlego para enfrentar todas essas empresas (leia gráfico abaixo). E um dos principais alvos de Lévy é o mercado de banda larga no Brasil. Na França, o principal pacote da Vivendi inclui 20 megas de internet, ligações telefônicas ilimitadas e mais 140 canais de tevê a cabo. Custa cerca de R$ 77, praticamente o mesmo que a Telefônica cobra para oferecer dois megas de internet por meio do Speedy, sem serviços adicionais de cabo ou telefonia. Não por acaso, o analista Cote-Colisson, do HSBC, rebaixou sua recomendação para as ações da Telesp, a subsidiária da Telefônica no Brasil. "A GVT será um concorrente importante da Telefônica ainda já em 2010", diz ele. E essa percepção é praticamente consensual no mercado financeiro. "A notícia foi muito boa para os consumidores, mas muito negativa para as empresas que já estão no Brasil", avalia Stephen Graham, analista de telecomunicações da Goldman Sachs.

Fonte: IstoéDinheiro

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