quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A difícil tarefa de substituir Steve Jobs


Tim Cook, que substitui Steve Jobs no comando da Apple pela terceira vez em sete anos, vai enfrentar o desafio de manter o ritmo do desenvolvimento de produtos da companhia e de preparar a fabricante do iPhone e do iPad para competir com o Google.
Cook, um guru operacional de 50 anos de idade, assumiu o posto na segunda-feira, depois de Jobs - que já passou por um tratamento de câncer e um transplante de fígado - anunciar outra licença médica. Em um e-mail aos funcionários, Jobs disse que permanece como executivo-chefe e que continuará envolvido nas principais decisões estratégicas, embora não tenha dito quando poderá voltar.
Como principal executivo operacional, Cook comanda o dia a dia dos negócios. Em 2009, quando assumiu o comando da Apple por quase seis meses, durante o transplante de Jobs, as ações da Apple aumentaram quase 70%. Enquanto Jobs, de 55 anos, orienta a visão criativa dos produtos da Apple, Cook supervisiona as áreas de vendas, manufatura e distribuição. Ele pode assumir o comando de maneira hábil novamente, diz Peter Misek, um analista do banco de investimento Jefferies & Co.
"Ele é uma estrela, apenas um tipo de estrela diferente de Steve", afirma Misek. "Comprovadamente, é um dos melhores administradores de cadeia de suprimentos do mundo, se você observar a administração do capital de giro, do fluxo de caixa e dos ciclos de conversão de caixa - todos grandes indicadores."
A saúde de Jobs deteriorou-se nas últimas semanas e ele tem ido ao escritório poucas vezes por semana, de acordo com uma pessoa que conhece o fundador da Apple e não quis se identificar porque o assunto é particular.
A capacidade de Cook para dirigir os negócios não é questionada, mas há dúvidas se ele poderá se tornar um visionário
As ações da companhia caíram 2,25% ontem, para US$ 340,65, na bolsa eletrônica Nasdaq. Mas, no mês a valorização foi de 5,61%.
Embora a Apple não tenha publicamente nomeado Cook como sucessor de Jobs, o executivo é o herdeiro legítimo, diz Avi Greengart, diretor de pesquisa de dispositivos de consumo da Current Analysis, uma empresa de pesquisa de mercado. Ele afirma que a Apple continuará a ser bem-sucedida em seus mercados atuais, mas questiona como a companhia vai se sair, sem Jobs, na tarefa de encontrar novas direções.
"Jobs tem uma habilidade quase mágica para identificar mercados que sejam pequenos e segmentados, e entender o que é preciso fazer para torná-los grandes negócios", diz Greengart. "Só há um Steve Jobs."
Cook está assumindo uma companhia cujo valor de mercado mais que duplicou, para US$ 321 bilhões, desde que ele substituiu Jobs pela última vez. A expansão foi impulsionada pelo iPhone, cujas vendas quase dobraram no ano fiscal encerrado em setembro, e pelo computador tablet iPad, que começou a ser vendido em abril nos Estados Unidos.
"Tim Cook pode, obviamente, conduzir [a empresa]", diz Michael Yoshikami, estrategista-chefe de investimento da YCMNet Advisors, empresa de administração de recursos. "A questão é: ele pode ser um visionário? Disso não temos certeza ainda."
A Apple enfrenta um adversário formidável - os smartphones baseados no sistema operacional Android, do Google. O sistema tornou-se o mais vendido nos Estados Unidos, de acordo com a empresa de pesquisa comScore, somando uma participação de 26% do mercado em novembro, frente aos 25% do iPhone.
A companhia está tentando alcançar o Google na área de publicidade móvel. A estimativa é de que a Apple tenha encerrado o ano passado com 59% do mercado americano de anúncios móveis, enquanto a Apple teria terminado o período com menos de 10%, informou a consultoria IDC , no mês passado. As duas empresas também disputam o mercado de softwares capazes de colocar conteúdo da internet na TV.
Jobs é meticuloso não só no cuidado com o desenho e o desenvolvimento dos produtos, mas também na maneira como os novos aparelhos são lançados e vendidos. Ele ensaia suas apresentações de cinco a dez vezes antes de fazê-las ao público, segundo uma pessoa que trabalhou com Jobs. Cook ainda tem de provar sua habilidade de revelar novos equipamentos com o mesmo sucesso, diz essa pessoa, que pediu para não ser identificada porque não está autorizada a falar pela Apple.
Cook, que consome barras energéticas para suportar maratonas de reuniões que podem durar a noite toda, é um mestre no método socrático, inquirindo executivos que se reportam a ele e expondo-os quando eles estão despreparados, disse Mike Janes, que trabalhou com ele por cinco anos na loja on-line da Apple, em uma entrevista em 2009.
Nascido em Mobile, no Alabama, Cook é solteiro e formou-se em engenharia pela Auburn University, em seu Estado natal. Ele tem mestrado em administração de negócios pela Duke University, da Carolina do Norte. Em 1998, foi contratado pela Apple para alcançar a eficiência de rivais como Dell e Hewlett-Packard (HP).
No ano fiscal 2010, Cook recebeu US$ 59,1 milhões da Apple, incluindo um bônus especial de US$ 5 milhões e US$ 52,3 milhões em ações, que ganhou em reconhecimento ao "seu excelente desempenho" no período, segundo a Apple.
Fonte: Valor

Nenhum comentário:

Postar um comentário