quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Fundos nos EUA deixam crise para trás

De todos os segmentos de negócios que operam dentro do setor financeiro internacional, o que sofreu os menores danos com o colapso "subprime/Lehman/grande recessão" de 2008 provavelmente foi o dos fundos mútuos nos Estados Unidos.
Como um todo, o setor registrou um crescimento sólido, ainda que menor, dos lucros em 2008. E os novos fluxos de recursos dos clientes tiveram uma recuperação, atingindo os níveis recordes de 2009, segundo a consultoria Strategic Insight. "E em 2010, os novos fluxos de dinheiro provavelmente ficarão perto de US$ 2 trilhões no mundo", afirma Avi Nachmany, diretor de pesquisas e um dos fundadores da companhia.
Os fundos mútuos há muito são uma indústria em crescimento: aproveitamento a força do mercado de ações, os ativos dos fundos mútuos nos EUA subiram de US$ 1 trilhão em 1990, crescendo em todos os anos, exceto 2002, para chegar a US$ 12 trilhões em 2007, segundo o Investment Company Institute (ICI), o grupo lobista e associação de classe.
Este ano, os novos fluxos de recursos para os fundos mútuos provavelmente ficarão perto de US$ 2 trilhões em todo o mundo
Os ativos totais caíram 25%, para US$ 9,6 trilhões, no fim de 2008, principalmente pelas quedas nas ações, mas recuperaram-se para cerca de US$ 11 trilhões em julho, segundo o comunicado mais recente do ICI. As ações ainda predominam, mas desde o começo de 2008 os investidores vêm liquidando fundos de ações em favorecimento dos bônus, levando o atual mix para cerca de metade em ações, um quarto em fundos de bônus e um quarto em fundos de títulos de curto prazo.
As margens de lucro das companhias de capital aberto caíram na crise financeira, mas se recuperaram bem de 2009 para cá - se é que uma lucratividade média no setor superior a 25% em um período de grande tensão financeira pode ser considerada de alguma forma ruim.
As margens chegaram a 28% em 2009 e a estimativa é de uma recuperação para 31% para todas elas em 2010, além de um ponto a mais em 2011. As margens esperadas individualmente para 2010 vão de cerca de 16% para a Affiliated Managers Group, Invesco e Janus Capital Group, para cerca de 35% na Eaton Vance, Franklin Resources e BlackRock, e 44% para a T Rowe Price. Gestoras de menor porte, como a Artio Global Investors e a Pzena, poderão ultrapassar os 50%, apesar da queda significativa dos ativos.
Em um período mais longo, retroagindo a 1986, a Strategic Insight calcula que a lucratividade do setor cresceu de maneira constante, de bem mais de 20% para pouco mais de 40%, por meio da alavancagem operacional sobre uma base de ativos crescente. O ganho de margem deu uma pausa depois de 2004, quando muitas administradoras de investimentos ampliaram suas atividades para o mercado global e enfrentaram sistemas de distribuição complexos no mercado americano.
Mesmo assim, as administradoras são mais lucrativas do que pode parecer à primeira vista, segundo afirma Robert Lee do KBW. Normalmente, as companhias declaram as receitas e despesas dos programas de distribuição a valores brutos em suas demonstrações financeiras.
Das 11 companhias abertas que administram mais de US$ 100 bi, 10 devem mostrar ganho superior a 15% nos lucros
Em grande parte, porém, elas se compensam e contribuem pouco para o resultado final, de modo que a análise do KBW computa os dois para desenvolver uma margem que represente melhor os lucros das firmas com as operações de gerenciamento de ativos. Essa margem ajustada tem ficado ultimamente de 6 a 8 pontos percentuais maior que a relação declarada pelas gestoras de recursos.
O crescimento das vendas de fundos de bônus pelas administradoras americanas, calculado pelo ICI em cerca de US$ 800 bilhões de 2006 até setembro de 2010, quase atingiu o valor líquido de US$ 1,1 trilhão que os investidores aplicaram nos fundos de ações nos cinco anos que levaram à bolha tecnológica.
Mesmo assim, os grupos tiveram que se mexer para se ajustar aos fluxos de saída das ações e às comissões normalmente menores obtidas com os seus fundos de renda fixa. Em média, de acordo com o KBW, os grupos responderam reduzindo a força de trabalho em 5% entre o pico de 2007 e a metade de 2009, embora com uma variação considerável entre eles.
A T Rowe Price reduziu o número de funcionários em 4% e a Franklin Resources em 9%, em resposta às quedas dos ativos de 2% e 11%, respectivamente. A AllianceBernstein compensou uma perda de ativos de 43%, de US$ 800 bilhões em 2007 para US$ 458 bilhões na metade de 2010, com uma redução de 24% no seu quadro de funcionários.
Por outro lado, a Eaton Vance conseguiu aumentar seus ativos em 13% entre 2007 e a metade deste ano, chegando aos US$ 173 bilhões. A resposta da empresa foi um aumento de 24% na força de trabalho.
De acordo com estimativas de analistas compiladas pelo sistema Thomson Reuters Starmine Professional, os gestores de investimentos americanos estão prevendo lucros vigorosos para o próximo ano.
Das 11 companhias abertas que administram mais de US$ 100 bilhões em ativos, 10 deverão mostrar ganhos de mais de 15% nos lucros. Já 7 delas vão apresentar um crescimento de mais de 20% nos próximos 12 meses. Três grupos - Eaton Vance, T. Rowe Price e BlackRock - parecem caminhar para superar os lucros recordes de 2007, embora a maioria dos demais ainda esteja longe disso.
Mas como os grupos estão posicionados para a inversão inevitável das taxas de juros e a possível deserção dos fundos de bônus? Há um precedente significativo: após comprar US$ 100 bilhões em fundos de bônus em 1986 - muito dinheiro na época -, o fluxo de caixa líquido caiu para zero por vários anos.
Após um aumento dos juros em 1994, os investidores liquidaram cerca de US$ 70 bilhões em 1995 e 1996 - igual a um ano forte de vendas.
Em 1987, os preços das ações das administradoras de investimentos, que na época eram ações importantes com perspectivas de crescimento, caíram pela metade com a queda das vendas de fundos de bônus, mesmo antes do crash do mercado de ações. "Naquele tempo, os negócios com bônus eram muito mais cíclicos e os gerentes financeiros vendiam bônus que pareciam bons apenas em um cenário de queda dos juros", afirma Nachmany da Strategic Insight, um veterano desses choque de juros. "Acredito que a demanda pelos fundos de bônus passou de cíclica para secular", acrescenta ele. (Tradução Mario Zamarian)

Nenhum comentário:

Postar um comentário