segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sem tradição, XP lidera em ações


A corretora XP Investimentos, pouco tradicional no mercado, alcançou a liderança do ranking de negociação de ações da BM&F Bovespa no primeiro trimestre do ano, desbancando nomes de peso, como o Credit Suisse. Embora baseie sua estratégia em operações com pessoas físicas, o que alavancou a posição da XP foram operações de fundos quantitativos estrangeiros. Os 'quants', como são chamados, são fundos que fazem milhares de pequenas operações com ordens automáticas, conhecidas como 'algotrading'. Exploram diferenças mínimas de preços em pequenos lapsos de tempo. "Cerca de 70% do nosso giro neste início de ano veio desses fundos estrangeiros", conta o fundador e sócio da XP, Guilherme Benchimol.
A XP encerrou 2009 no sexto lugar do ranking de ações, com um volume transacionado de R$ 102 bilhões e "market share" de 4%. Nos três primeiros meses de 2010, sua participação foi a 6,4%, com giro de quase R$ 50 bilhões, metade de todo o ano passado. Apesar do enorme volume, o "algotrading" é pouco rentável. Os investidores institucionais pagam corretagem baixa e utilizam a estrutura já montada para as operações de seu principal público, o varejo.
Fundada por empresários hoje na faixa dos 30 anos, que começaram como agentes autônomos no Rio Grande do Sul e compraram uma pequena corretora carioca em 2007, a XP é ousada. A liderança assumida em tão pouco tempo provocou dúvidas entre corretores com longa experiência sobre que tipo de operação estaria gerando crescimento tão rápido, além de colocar a XP no centro de uma onda de boataria. Concorrentes levantam dúvidas sobre a rentabilidade das operações e questionam se a estratégia não privilegia volume para dar visibilidade em rankings. Algumas corretoras ampliam volume com giro em "day trade" - compra e venda ao longo do dia- , sem que isso signifique posições realmente assumidas no fim do dia ou ganhos de corretagem relevantes. Chama a atenção ainda que investidores estrangeiros optem por operar com uma corretora doméstica independente, o que alimentou boatos de que poderia haver um grupo estrangeiro por trás da arrancada da XP. Na sexta circulavam também especulações de que a XP poderia estar adquirindo uma concorrente.
Benchimol defende seu crescimento dizendo que é rentável. O ponto central do negócio é mesmo o varejo e a expansão baseia-se em agentes autônomos: 130 escritórios "associados" à corretora, que gerenciam ordens de 62 mil clientes cadastrados, dos quais 35 mil efetivamente negociam. A meta é chegar a 100 mil CPFs cadastrados e 60 mil ativos ainda este ano. A corretora vem explorando o nicho de investidores novatos e Benchimol acredita que a rede de autônomos é a única forma de capturar essa expansão da base. A Bovespa prevê que o número de pessoas cadastradas para operar vá deduplicar, de 500 mil hoje para 5 milhões, em cinco anos.
A expansão via agentes autônomos provoca críticas, principalmente de corretoras de bancos, que vêem risco em execução de ordens por pessoas fora das corretoras. Existe ainda uma série de limitações que devem ser cumpridas pelos agentes, como a proibição de indicar investimentos aos clientes, que requer uma qualificação diferenciada de gestor de recursos.
O executivo da XP reconhece que há riscos regulatórios. Se um cliente contesta uma ordem dada a um agente autônomo, a responsabilidade perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recai sobre a corretora. "É preciso ter um sistema de controle de risco, auditoria e compliance eficientes", afirma. Ele conta que os agentes associados à XP são obrigados a gravar as conversas com seus clientes. Os sistemas eletrônicos identificam operações que fogem dos padrões e isso dispara auditorias nos agentes autônomos. "Apesar de termos o maior número de autônomos do mercado, temos apenas três processos na CVM por problemas", diz. "Sabendo fazer direito, é o futuro do mercado. Os autônomos desempenham o mesmo papel dos correspondentes bancários para os grandes bancos", defende.
A maior parte dos clientes da XP é formada pela própria corretora em cursos sobre mercados de capitais, pelos quais já passaram cerca de 200 mil pessoas. O incentivo não é dado apenas a operações no mercado à vista de ações, mas também a estratégias de maior risco, tanto nos mercados futuros e de opções de ações, quanto em derivativos de café, boi e soja negociados na BM&F. "Os valores dos contratos são pequenos e isso permite alavancagem. Trinta por cento dos clientes já operam commodities agrícolas", conta o chefe da área de análise da XP, Rossano Oltramari.
Estimular pessoas que acabaram de entrar no mercado a se arriscar não é perigoso? Os sócios da XP dizem que o risco é controlado. Durante a crise, houve clientes que não suportaram a necessidade de ampliar as garantias depositadas e tiveram suas operações "zeradas" compulsoriamente pela bolsa, amargando perdas. Os prejuízos, diz a XP, foram administráveis.

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