quarta-feira, 10 de março de 2010

Sul-coreana Mirae acirra briga entre corretoras

Depois de receber em janeiro o aval do presidente brasileiro para abrir uma corretora de valores no país, o grupo sul-coreano Mirae está pronto para iniciar o negócio. A expectativa é de que, em duas semanas, esteja tudo funcionando, afirma Martin Lee, futuro diretor-presidente da instituição no Brasil. Nos planos estão a intermediação de investimentos no mercado financeiro local para clientes asiáticos e a estruturação de um home broker - sistema de negociação em bolsa via internet - para disputar o segmento de ações, em franca expansão.
À espera apenas do contrato social e do número no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), a Mirae não é o primeiro grupo estrangeiro de olho no crescimento do mercado brasileiro. Desde 2008, já desembarcaram no país as corretoras britânicas Icap, que ficou com a ArkheBGC, que comprou a LiquidezTullet Prebon, que assumiu a Convenção; a colombiana InterBolsa, que fechou negócio com a FinaBank; além do Citibank, que comprou a Intra Corretora.
O próprio grupo coreano chegou ao Brasil em meados de 2008 com seu braço de asset management. Os primeiros fundos locais foram abertos em dezembro daquele ano. Hoje, conta com cinco carteiras destinadas a investidores locais, entre ações e multimercados, além de ser o responsável pela gestão dos recursos de investidores asiáticos, principalmente coreanos, em ativos brasileiros por meio de fundos oferecidos lá fora. No total, o patrimônio sob gestão no país é de R$ 2 bilhões, o grosso dinheiro externo. No mundo, administra US$ 60 bilhões em fundos - com o negócio de corretagem, estima-se em US$ 100 bilhões o volume total.
No Brasil, a corretora vai atuar em duas frentes principais. A primeira a ser colocada em prática é a intermediação no mercado local de aplicações de investidores estrangeiros. "Os asiáticos estão muito interessados no mercado brasileiro", destaca Lee. Segundo ele, a primeira iniciativa será oferecer títulos públicos via Tesouro Direto para investidores estrangeiros do varejo. A expectativa é de atrair US$ 1 bilhão em aplicações no primeiro ano da corretora.
Ainda nesse segmento, a Mirae já começou um trabalho para divulgar o Brasil entre investidores institucionais asiáticos, como fundos de pensão. O plano é oferecer oportunidades de investimento nos mercados imobiliário e de infraestrutura, conta Lee. A aplicação poderá ser realizada diretamente em ações de empresas que atuam nesses setores ou por meio de operações estruturadas ou fundos de private equity.
"Por enquanto estamos munindo esses investidores com informações, tentando quebrar o gelo", diz Lee. A ideia é montar inicialmente um fundo voltado para o mercado imobiliário, que pode chegar a US$ 300 milhões no prazo de seis meses, e depois um private equity com foco no setor de infraestrutura, cujo patrimônio pode girar entre US$ 300 e US$ 500 milhões.
O outro braço da corretora será o home broker. Ainda em fase de desenvolvimento, a nova operação deve ter início em junho. Depois de conversas com provedores de sistemas locais, a Mirae decidiu que vai usar tecnologia própria, desenvolvida na Coreia. "Temos uma tecnologia melhor e isso será um dos nossos grandes diferenciais", diz Lee.
Mas não só. A grande aposta da Mirae para entrar forte na disputa pelo mercado de home broker será o baixo custo. Segundo o executivo, a empresa vai estrear com uma política de preços bastante agressiva, competitiva. Se o mínimo que se cobra hoje no mercado é de R$ 5 por transação, não será surpresa se a corretora oferecer um preço fixo ainda mais baixo.
A Mirae está de olho no potencial de crescimento desse segmento. O home broker, com 500 mil pessoas cadastradas, movimentou R$ 378,5 bilhões em 2009. A projeção da bolsa é de que a base de investidores supere os 5 milhões em cinco anos e o volume de negócios cresça cinco vezes, o que seria equivalente a um mercado potencial de mais de R$ 1 trilhão. "Vamos investir em publicidade, promoções, prêmios para clientes", diz Lee.
Segundo ele, a meta da Mirae é abocanhar uma participação de mercado de 5% - a líder Ágora tem cerca de 19%. Lee conta com a experiência do grupo no seu mercado de origem, onde é um dos líderes no segmento de corretoras. Na Coreia, de cada dez pessoas, seis investem em ações, informa a Mirae. "No Brasil, ainda veremos uma migração forte da renda fixa para a variável."
Para vencer a barreira cultural, a Mirae está montando uma equipe com profissionais locais. Já foram contratadas 16 pessoas, egressas de concorrentes como Ágora,GradualLinkMerrill Lynch e Título. Até o fim do ano, esse número deve chegar a 30. A corretora também será usada para distribuir os fundos da asset, que por restrição legal não pode fazer esforço de venda de carteiras próprias.
No grupo, a corretora ficará sob o guarda-chuva de uma holding para o setor financeiro. Para a estrutura, o grupo fez um aporte do equivalente a R$ 80 milhões e deve fazer mais uma injeção de outros R$ 80 milhões. Debaixo da mesma holding, ficará ainda o banco de investimento. A Mirae já recebeu o sinal verde do Banco Central para dar início ao processe de obtenção de licença - isso deve ocorrer em dois meses.
Segundo o diretor financeiro e de operações da Mirae, Gabriel Jung, o banco vai permitir que o grupo preste o serviço completo para os clientes asiáticos. "Ao montar a corretora, sentimos a necessidade de ter uma instituição financeira para poder abrir conta e fazer as operações de câmbio", diz. Essa foi a forma encontrada para manter o cliente dentro de casa. No futuro, o grupo pretende ampliar a área de atuação do banco de investimento, para a estruturação de ofertas públicas iniciais, fundos de private equity, entre outros.
A asset, que já conta com uma equipe de 33 pessoas, faz parte de uma outra estrutura que está sob o controle direto do grupo na Coreia do Sul. Seu capital social é de R$ 80 milhões.

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