quinta-feira, 18 de março de 2010

'Risco X' pesa e afasta investidores


O gigantismo dos negócios do empresário Eike Batista, dono de uma fortuna calculada em US$ 27 bilhões pela revista "Forbes", acabou pesando negativamente para o sucesso da abertura de capital da quinta empresa do grupo EBX, a companhia do setor naval OSX.
Analistas dizem que o receio de concentração excessiva da carteira no "risco X", letra que se repete nos nomes de todas as companhias criadas por Eike, deixou os investidores reticentes em aumentar ainda mais a exposição a esses projetos, que estão de alguma forma interligados.
Isso se somou ao mau momento para as empresas estreantes na bolsa, já que nas quatro ofertas iniciais feitas até agora em 2010 as companhias tiveram que cortar o preço inicialmente previsto para venda de suas ações. Também com oferta prevista para fechar ontem, a Renova Energia decidiu adiar o processo.
Para conseguir atrair os investidores, a OSX e os bancos coordenadores tiveram que reduzir o tamanho da oferta em mais de 40% em relação à estimativa mínima, conforme antecipou ontem o Valor. A operação será de US$ 1,8 bilhão, sendo que Eike Batista entrará com US$ 300 milhões. Antes das mudanças, a companhia captaria US$ 3,15 bilhões em um cenário conservador e mais de US$ 5,5 bilhões caso o preço saísse pelo teto e os lotes extras fossem colocados.
Há que se notar, no entanto, que a fortuna do empresário também o ajudou a garantir ao menos que a oferta da OSX fosse concluída, o que não foi o caso de outras empresas que enfrentaram falta de demanda por suas ações.
Eike Batista peitou o mercado e entrou com dinheiro próprio, apostando na companhia. Além dos US$ 300 milhões da oferta, foi acertado que a OSX terá uma opção de venda de suas ações no valor de US$ 1 bilhão que poderá ser exercida contra empresas controladas integralmente por Eike. A opção terá validade até 2013 e terá como referência o preço da ação na oferta, de R$ 800 por papel.
Isso significa que, quando a OSX precisar de mais recursos para seus projetos, ela poderá obrigar Eike a injetar essa quantia via aumento de capital.
Quando se fala em concentração no "risco X", a OGX Petróleo é a que mais compete por recursos com a OSX. Nas apresentações da oferta desta última para os potenciais investidores, boa parte do tempo era dedicada a explicar as operações da OGX. A OSX, que está em fase pré-operacional, surgiu com a necessidade de investimentos da OGX em unidades de exploração e produção de petróleo. Ela tem como principal ativo a garantia de demanda por seus produtos, por meio de um contrato já assinado de cooperação estratégica com a OGX, em que as companhias se comprometem a dar prioridade uma a outra nas contratações.
A OGX, dona de 29 blocos de petróleo e gás em fase de pesquisa, prevê a necessidade de 48 unidades de exploração e produção nos próximos dez anos, com custo estimado de US$ 30 bilhões.
Para montar as embarcações que prestarão esse serviço, a OSX vai usar parte do dinheiro captado na oferta para construir um estaleiro no litoral de Santa Catarina.
Da maneira como seu modelo está estruturado, o risco de investir em OSX seria equivalente ao de investir em OGX, sendo que o mercado já está inundado de papéis da petrolífera, que faz parte do Ibovespa. Segundo um analista ouvido pelo Valor, muitos escolheram ficar com as ações da empresa de petróleo, onde haveria mais potencial de valorização.
Uma evidência de que há correlação entre as empresas do grupo EBX é que as ações de todas as suas controladas fecharam em baixa ontem, dia em que metade dos papéis do Ibovespa subiu e a outra metade perdeu valor. OGX teve desvalorização de 0,52%, LLX Logística caiu 2,76%, MPX Energia recuou 4% e MMX Mineração cedeu 2,23%.
Um analista afirma que a exigência de desconto no mercado é sinal de que os investidores estão fazendo mais contas e pedindo um retorno mais adequado para o tipo de risco que a OSX representa. Ele avalia que, apesar de Eike ser um empresário arrojado e com trajetória positiva, projetos desse tipo têm risco e o investidor tem que ter prêmio para participar. Algumas contas de mercado concluíam que a ação deveria ser vendida a R$ 500.
De qualquer forma, o desconto já foi grande. Considerando as condições previstas para a operação, a OSX vai estrear na bolsa com valor de mercado de R$ 9,7 bilhões. Com base nos preços e quantidades de ações indicados inicialmente no prospecto, o valor da companhia oscilaria entre R$ 13,6 bilhões e R$ 20,8 bilhões.
Para Eike Batista, no entanto, a oferta será suficiente para somar US$ 4 bilhões a sua fortuna, pouco menos do que os US$ 4,6 bilhões que teria em um cenário conservador nos termos antigos da oferta. A diferença não é tão grande porque ele venderá uma fatia menor da companhia, sendo menos diluído. Se o sucesso fosse total, a fatia dele na OSX valeria US$ 6,2 bilhões.

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