segunda-feira, 22 de março de 2010

Estrangeiro compra corretora no Brasil


O movimento não foi interrompido com a crise de 2008 e tende a se aprofundar neste ano: atraídos pela perspectiva de crescimento no mercado financeiro no Brasil, de ações e derivativos, bancos estrangeiros e as maiores corretoras do mundo têm mostrado interesse cada vez maior em comprar corretoras no país. É uma forma mais rápida para entrar no negócio. A autorização do Banco Central para a aquisição demora cerca de seis meses e seria necessário mais do que isso para começar do zero.
A forma mais rápida, no entanto, tem se mostrado cada vez mais cara. Os donos das corretoras no Brasil, ainda com bastante dinheiro no bolso recebido com a venda de suas participações na BM&F e na Bovespa no mercado, em emissão de ações de 2007, perceberam a oportunidade e passaram a pedir preços maiores por suas empresas. De quebra, há grupos nacionais interessados no negócio, como a Caixa Econômica Federal, o BTG Pactual e Banco do Brasil. A queda de braço entre compradores e vendedores está apenas começando.
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Explicitamente à venda ou em busca de parcerias, somente a corretora do português Banif, que contratou o Credit Suisse para assessorá-la na tarefa, e a independente Link, que contratou o Lazard. O preço pedido para o controle de uma empresa desse porte passou de R$ 150 milhões para R$ 200 milhões em seis meses. Mas há 146 corretoras registradas na BM&FBovespa, 64 na BM&F e 82 na Bovespa, com 97 atuando nos dois segmentos. Muitas delas podem vir a ser objeto de cobiça.
Segundo o Valor apurou, o grupo americano de corretagem no mercado de derivativos e ações GFI está olhando o mercado brasileiro, depois de cinco compras de corretoras por estrangeiros desde 2008. O GFI tem sede em Nova York e seu foco são os clientes institucionais, como bancos, fundos de hedge, empresas de seguros e corporações. Emprega mais de 1,7 mil pessoas e tem escritórios em Londres, Paris, Hong Kong, Seul, Tóquio, Cingapura, Sidney, Cidade do Cabo, Dubai, Tel Aviv e Dublin, entre outros.
Segundo escritórios de advocacia ouvidos pelo Valor, há pelo menos outras duas grandes corretoras globais e um banco interessados em desenvolver a atividade no Brasil e que podem entrar comprando.
Não é de hoje que veio à tona o interesse no negócio do francês BNP Paribas, do português Caixa Geral de Depósitos e do sul-africano com capital chinês Standard Bank. O suíço UBS, depois de vender no ano passado o Pactual para seus ex-sócios da BTG, se arrependeu e agora busca oportunidades.
O presidente do BNP Paribas, Louis Bazire, comentou, ainda em janeiro de 2008, que poderia fazer aquisição ou parceria no setor. Passada a crise, o interesse se manteve, mas nada foi fechado, pelo menos por enquanto. "Os preços estão muito altos e não descartamos fazer apenas uma parceria ou até partir para crescimento orgânico", disse ele.
Dirigentes de grupos estrangeiros têm preferido esperar que os preços das corretoras caiam, o que, acreditam, deva acontecer à medida que essas empresas forem percebendo a necessidade crescente de escala e perdendo clientes para corretoras maiores. Só as grandes, argumentam banqueiros, terão condições de investir em tecnologia para atender às necessidades do novo investidor.
Com a queda dos juros e o crescimento do número de milionários no país, a corretagem para a pessoa física, o chamado home broker, se tornou mais atrativa. Uma corretora de ações no mercado local é importante também para que o banco possa atuar com mais destaque no rentável mercado de emissões de novas ações. Mas, não é só isso. A internacionalização crescente da bolsa, suas parcerias com a Chicago Mercantil Exchange e a Nasdaq e a autorização para a participação crescente dos estrangeiros traz um giro diário de negócios novo, que tende a explodir, ampliando os ganhos de corretagem de atacado.
O novo recorde no volume transacionado nos mercados futuros foi na quinta-feira, com o giro de mais de 10 mil contratos (exatos 10.157.779), quase o dobro em comparação com os 5,7 mil contratos do recorde anterior, no dia 17. São os investidores dos fundos de negociação eletrônica ou algorítmica, cujas ordens de compra e venda são dadas por computador, que têm feito os volumes se ampliarem. Afinal, os computadores conseguem mandar ordens em volumes que um operador jamais conseguiria. As corretoras precisam de tecnologia cada vez mais sofisticada para esse investidor.
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, a Link confirmou que tem sido procurada com "frequência" por corretoras e bancos internacionais que querem aproveitar o bom momento do mercado brasileiro e crescer suas atividades. Mas quis salientar seu "compromisso com suas atividades no Brasil e seus clientes".

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