segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A nova montanha de lucros da VALE?

Mineradora quer se tornar a líder global do mercado de adubos. Para isso pagou US$ 3,8 bilhões pela Bunge Fertilizantes

Na quarta-feira 27, a Vale deu um passo importante para reduzir sua dependência do minério de ferro, que responde por cerca de metade de suas receitas globais de US$ 40 bilhões. Por US$ 3,8 bilhões, a companhia adquiriu os ativos da americana Bunge Limited na área de fertilizantes, numa transação que envolve minas de fosfato e plantas de processamento do produto. A cartada da Vale, que inclui a fatia de 42,3% da Bunge na Fosfertil, leva a empresa a uma posição destacada no agronegócio brasileiro, despontando como a principal fornecedora de insumos para a fabricação de adubos no País. “Essa operação é de fundamental importância para a consolidação da estratégia da Vale em focar o Brasil como o grande mercado para sua produção de fosfato”, disse, em comunicado, Roger Agnelli, diretorpresidente da Vale. O mercado financeiro reagiu bem à transação. Na avaliação de Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, a mineradora adquiriu um ativo de qualidade e com capacidade de gerar dividendos no médio prazo. “A demanda por produtos agrícolas deverá crescer, puxada principalmente pelo aumento do consumo em países emergentes como a China”, afirma Galdi. Além disso, a transação ajuda a reconstruir a “ponte” entre a direção da mineradora e o governo Lula, crítico contumaz dos investimentos recentes da companhia, que privilegiaram o mercado externo.
O montante desembolsado pela Vale embute um ágio de 3% sobre o valor de mercado da Fosfertil – isso num momento em que a empresa opera no vermelho. O balanço da Fosfertil no período janeiro-setembro de 2009 revela um prejuízo de US$ 36 milhões, cenário bem diferente do de 2008, quando fechou o ano com lucro líquido de US$ 436 milhões. Esse recuo se deve à queda na cotação dos fertilizantes no mercado global, ao longo de 2009. “Houve um ajuste natural de preços, mas nada que indique uma retração de consumo desses produtos no longo prazo”, afirma Alcides Torres, dono da Scot Consultoria, especializada em agronegócio. “O crescimento da fatia de fertilizantes no portfólio da Vale terá um impacto em seu fluxo de caixa, aumentando também o risco da companhia”, diz Rodrigo Ferraz, analista da Brascan Corretora. Para assumir totalmente a companhia, a mineradora terá de se entender com a Mosaic e a Yara – sócias da Fosfertil e que nos últimos tempos viviam às turras com a Bunge. O valor estimado das ações remanescentes é de US$ 1,8 bilhão.


Para a Bunge, o negócio está alinhado com sua nova estratégia. A companhia ficou livre do imbróglio com as exparceiras e engordou o caixa para apostar em áreas consideradas fundamentais: açúcar e etanol, nas quais já aplicou R$ 4,7 bilhões nos últimos anos. “Não pretendemos reduzir nossa atuação no Brasil. Queremos, sim, é fortalecer os setores prioritários para a companhia em termos globais”, diz o brasileiro Alberto Weisser, presidente mundial da Bunge, durante teleconferência com analistas. Mas isso não significa dizer que a Fosfertil seja um “mico”. Muito pelo contrário. A empresa tem posições importantes nos mercados de fósforo e nitrogênio, com fatias de 22% e 23,4%, respectivamente. Suas bases produtivas estão situadas em pontos estratégicos do eixo Cento-Oeste-Sudeste, onde se concentram 45% da produção de grãos e 40% do consumo de adubos. Do ponto de vista produtivo, os ativos da Fosfertil completam a primeira etapa da lista de aquisições da Vale, que já conta com minas de fosfato e potássio no Brasil e em mercados importantes como Argentina, Moçambique, Peru e Canadá. E a ambição da Vale é ser a maior do mundo neste setor.


Fonte: ISTOÉ Dinheiro

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