quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Em dia de nervosismo global, Bovespa tem pior queda desde outubro


Há quase quatro meses o mercado brasileiro de ações não testemunhava um "tombo" da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) tão forte quanto o desta quinta-feira. O nervosismo com a situação de algumas economias europeias, junto com a expectativa pelos fundamentais números da economia americana (previstos para amanhã), formou a combinação que derrubou Bolsas de Valores na Ásia, na Europa e nos EUA. A taxa de câmbio doméstica encostou em R$ 1,90, ascendendo para seu maior preço desde setembro.

Neste ano, a cotação do dólar já subiu 8,2%, enquanto o índice Ibovespa já desabou 6,8%.
O Ibovespa, índice que reflete os preços das ações mais negociadas, teve forte queda de 4,73%, aos 63.934 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,95 bilhões, bem acima da média (R$ 6,67 bilhões/dia). Ainda operando, a Bolsa de Nova York perde 2,48%.
O nervosismo do mercado começou a se precipitar já a partir do continente asiático --onde a Bolsa japonesa cedeu 0,48% e a Bolsa de Hong Kong, 1,84%-- mas ganhou força nos mercados europeus, epicentro da crise atual. Em Londres, o índice FTSE caiu 2,19%, enquanto índice alemão Dax recuou 2,44%. Mas o pior foi visto nas Bolsas portuguesa e espanhola, que desabaram 4,98% e 5,94%, respectivamente.

Analistas e investidores acompanharam por meses a deterioração fiscal na Grécia, e se assustaram quando outros países da mesma região começaram a apresentar um cenário semelhante, de desastre das contas públicas, provocado, entre outros motivos, pelos altos gastos para conter a crise mundial de 2008. No radar, Itália e Irlanda também apresentam cenários preocupantes.
"No início de 2009, nós tínhamos o risco dos bancos, que poderiam quebrar, e por isso os governos precisaram acudir. E agora, no início desse ano, nós estamos vendo o risco dos governos", sintetiza Carlos Levorin, sócio e gestor da Grau Gestão de Ativos.

Para o analista, o mercado passou por um período de relativa "euforia", quando as más notícias tiveram uma pausa entre o final do ano passado e o ínício de 2010, e havia muito capital em circulação pelo mercado mundial, com gestores procurando alternativas aos juros muito baixos das economias desenvolvidas. "Parece que essa euforia acabou, ou pelo menos, está sendo revista. E acho que nós podemos ter outros dias com ajustes desse tipo nos próximos meses", acrescenta.
O mercado de câmbio doméstico refletiu em cheio esse "estado de nervos" das Bolsas de Valores: a cotação do dólar disparou 2,16%, a maior variação em quase dois meses, atingindo R$ 1,884. "Hoje, sem dúvida nós tivemos um índice muito forte, que é a Bolsa de Valores desabando quase 5%. Mas nós temos que ver também há um forte movimento especulativo nesse cenário. Acredito que se nós tivermos notícias um pouco melhores na China ou nos EUA, essa taxa pode voltar, talvez mais devagar do que deveria", comentou José Carlos Benites, gerente da corretora de câmbio Moeda.

A taxa de risco-país marca 240 pontos, número 8,07% acima da pontuação anterior.
Amanhã, o mercado deve ficar em suspense, à espera dos números do relatório "payroll", sobre a geração de empregos nos EUA. Números muito piores do que o previsto (criação de 15 mil postos de trabalho) provavelmente não devem ajudar na recuperação dos mercados mundiais.
Entre as principais notícias de hoje, o Departamento de Trabalho dos EUA revelou que o número de pedidos de auxílio-desemprego aumentou 480 mil até a semana, acima das expectativas do mercado. Às vésperas do "payroll", essa cifra reforçou o mau humor dos investidores.
Ainda no front externo, o BoE (banco central britânico) manteve a taxa de juros básica em 0,5% ao ano. Na mesma linha, o BCE (Banco Central Europeu) também 'congelou' o juro primário para os países da zona do euro em 1% ao ano. Ambas as decisões vieram em linha com as expectativas do mercado.
No Brasil, o Banco Central advertiu que a recuperação da demanda doméstica já implica em algum risco para a inflação deste ano e sugeriu que deve mexer nos juros nos próximos meses. Já a Anfavea (associação das montadoras) anunciou uma queda de 27,2% nas vendas de veículos em janeiro.

Empresas
O Santander Brasil anunciou um lucro líquido de R$ 5,508 bilhões para o exercício de 2009, aumento de 40,8% sobre os resultados de 2008. Somente no quarto trimestre do ano passado, a filial brasileira do banco espanhol teve ganho de R$ 1,591 bilhão, ante R$ 906 milhões no último trimestre de 2008. A "unit" (recibo de ações) do banco amargou perdas de 6,19%; outras ações de bancos seguiram pelo mesmo caminho: o ativo do Brasdesco caiu 2,19%; a ação do Itaú-Unibanco perdeu 3,85%; o papel do Banco do Brasil retrocedeu 1,84%.

Fonte: Folha Online

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