segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Lições de um investidor



LIRIO PARISOTTO TINHA 1,6 BILHÃO DE REAIS APLICADOS NA BOLSA BRASILEIRA QUANDO A CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL ABALOU O MERCADO. PERDEU 1 BILHÃO, MAS DOBROU A APOSTA - E SE DEU MUITO BEM



Por Eduardo Salgado | 05.02.2010 | 09h24
O gaúcho Lirio Parisotto - dono de um patrimônio de 2,1 bilhões de reais em ações - percorreu um longo caminho até se tornar um dos maiores investidores da bolsa de valores. Em 1971, com 18 anos, o filho de agricultores pobres tirou o primeiro lugar em um concurso de monografias organizado pelo Ministério do Exército, com um texto sobre o serviço militar obrigatório. Estudante do ensino secundário, recebeu como prêmio uma quantia equivalente a  um Fusca, o que parecia ser a solução ideal para quem dependia da carona dos amigos e do transporte público para se locomover. Animado pela alta da  bolsa, Parisotto decidiu investir tudo em ações. Em pouco tempo, o que tinha sido "o di nheiro do Fusca" não dava para comprar uma bicicleta. Desanimado  com o estouro da bolha, ele vendeu todas as ações. "Meu erro foi a ganância: sonhei ter dois Fuscas em seis meses e fiquei sem nenhum."
Quinze anos mais tarde, já como um bem-sucedido dono de loja de eletrodomésticos na Serra Gaúcha, Parisotto voltou à carga. O valor era outro - 500 000  dólares -, mas o desenlace foi o mesmo. Investiu no pico do Ibovespa, teve um prejuízo de 200 000 dólares e saiu da bolsa. "Cometi o segundo pecado de aplicar dinheiro que eu iria precisar no curto prazo." No início dos anos 90, o então perdedor serial quis virar o jogo. Aplicou o equivalente a 2  milhões de dólares. O Ibovespa estava em baixa e daquela vez ele seguiu a cartilha do mercado: fixou uma meta de ganho, mas sem prazo definido para  alcançá- la. Cerca de um ano depois, saiu com 8 milhões de dólares. Com o dinheiro, completou o que faltava para comprar a participação de 40% de seu sócio na Videolar, hoje líder no mercado brasileiro de DVDs, videocassetes e Blu-ray. "Sou um autodidata no mercado de ações", diz Parisotto.
A experiência acumulada em duas décadas de perdas e muita observação fez o empresário estabelecer regras. Parisotto procura não mudar a carteira a toda  hora. "Investidor que se mexe muito vira vinagre rapidinho", diz. Outro mandamento é dar preferência a ações de empresas lucrativas - e que distribuam dividendos. "Empresa que dá lucro não quebra", ensina. Quando decidiu recomeçar a aplicar na bolsa, em 1998,
Parisotto já tinha claro o que queria. Caso vendesse alguma ação, rea plicaria o valor. O mesmo destino teriam os dividendos distribuídos pelas empresas. E, sempre que possível, colocaria dinheiro novo para aumentar seu portfólio na bolsa. Quando veio a grande crise financeira de 2008, seu patrimônio em ações já tinha alcançado a marca de 1,6 bilhão de reais - não há estatísticas oficiais, mas especialistas são unânimes em dizer que se trata de um dos maiores valores individuais na bolsa. No segundo semestre daquele ano, no entanto, o mercado bateu no fundo do poço e arrastou Parisotto. Em cinco meses, o investidor viu quase 1 bilhão de reais de seu patrimônio evaporar. "Mas nem no auge da crise ele perdeu o bom humor", diz o amigo Julio Cardozo, ex-presidente da consultoria Ernst & Young. Parisotto se manteve fiel à sua crença de que não se deve investir em ações, mas sim em empresas - ou seja, mais importante do que o momento do mercado é o balanço da companhia. Com isso em mente, enxergou várias oportunidades nos piores meses da bolsa. Não tirou um centavo e aproveitou a queda para comprar. No período de cinco meses, entre outubro de 2008 e março de 2009, aplicou 300 milhões de reais - sua grande aposta foram os bancos brasileiros que, segundo sua avaliação, tinham sido injustamente castigados pela baixa do setor em  todo o mundo. Menos de um ano após o outubro negro, já tinha recuperado o 1 bilhão de reais e, nos meses seguintes, seguiu aumentando o patrimônio.  Hoje, após o fim de um período de grandes pechinchas na bolsa, Parisotto se prepara para tentar ganhar num cenário de crescimento econômico. A estratégia é aplicar em papéis de companhias dos setores de siderurgia e mineração, bancos e elétricas.


Uma ausência bastante visível em seu portfólio é a Petrobras, companhia que passou a ser mundialmente incensada após as descobertas do pré-sal. Parisotto vendeu seus últimos papéis da empresa em 2007, mas diz que todo dia acorda se perguntando por que não volta atrás. "Saí porque essa companhia é muito complicada, tem muita interferência política", diz. "Mas não dá para esquecer aquela máxima: o melhor negócio do mundo é uma empresa petrolífera bem gerida e o segundo melhor é uma mal gerida." Ele é um crítico dos planos de aumento de capital da Petrobras, previsto para este ano. Ainda assim, não riscou a ação da lista de possíveis investimentos.
Apesar de alguns gestores franzirem a testa diante da posição de Parisotto sobre a Petrobras, ninguém ousa dizer que ele não sabe escolher os papéis de  sua carteira. Após ter passado com louvor pela crise, o investidor, que não tem planos de sair da bolsa, aumentou a expectativa do mercado em relação a  seu futuro como aplicador. Diz o amigo e vizinho Albino Bacchi, fundador da Artefacto, uma rede de lojas de móveis: "O Lirio vai ser nosso Warren  Buffett". Para quem já teve como meta comprar dois Fuscas, dá para dizer que o sarrafo à frente de Parisotto ficou bem mais alto.
A CARTEIRA DE PARISOTTO
Para o investidor, siderurgia e mineração serão os setores que mais vão se beneficiar do crescimento econômico. Outros setores promissores são o  bancário e o elétrico. Confira como seus 2,1 bilhões de reais são investidos na bolsa.
Depois de ver 961 milhões de reais em ações virar pó em 2008, Lirio Parisotto aumentou suas aplicações e ganhou, principalmente, com a alta dos papéis dos bancos. Mesmo com a crise financeira mundial, seu patrimônio na bolsa de valores cresceu 50% desde outubro de 2007 (em reais)

Nenhum comentário:

Postar um comentário