terça-feira, 8 de dezembro de 2009

União entre Casas Bahia e Pão de Açúcar gera vantagem competitiva "excepcional"

Especialistas em fusões e aquisições destacam ganhos de sinergia na formação da nova empresa
Por Eduardo Tavares e Verena Souza | 07.12.2009 | 08h36

Parece não haver no mercado quem diga que o acordo entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, originando uma gigante do varejo, foi um mau negócio. Segundo especialistas na área de fusões e aquisições, um dos principais benefícios da operação será o ganho "excepcional" de sinergia para as operações de vendas das duas empresas. Os analistas afirmam que as expectativas desse ganho chegam a 2 bilhões de reais.

Para Fernando Cymrot, consultor de fusões e aquisições da V2 Finance, um dos primeiros efeitos decorrentes da formação da nova empresa, que engloba ainda as marcas Extra, Ponto Frio e Compre Bem, será a possível unificação dos centros de compra. "Isso deve gerar ganhos de margem em um setor extremamente concorrido, em que cada ponto de lucratividade é motivo para esforço e comemoração".

Vale destacar ainda os benefícios da complementaridade nas áreas de atuação das duas empresas. O professor Cláudio Felisoni, presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar), lembra que há um grande ganho de sinergia também pela combinação da área de alimentos com a de eletro-eletrônicos.

A partir daí, o que se pode esperar é uma penetração muito eficiente da nova empresa no segmento de varejo em todas as classes sociais. "O que deve acontecer é a segmentação do público. O Ponto Frio, deve focar nas classes A e B, pois a Casas Bahia já têm força nas camadas C e D. Já o Extra deve focar no modelo das mega-lojas", diz Fernando Cymrot.

Barganha
A empresa formada a partir da compra da Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, pelo porte, também ganha notável poder de barganha com seus fornecedores, podendo negociar melhores preços. Entretanto, para o consultor da V2 Finance, é provável que a adaptação à essa nova situação, na qual os fornecedores veem sua margem de negociação reduzida, aconteça rapidamente. "Para os fornecedores, é importante que o produto esteja na prateleira. Pode até haver certa perda de margem, mas não dá para abrir mão de negociar com uma empresa desse porte".

Cymrot enumera algumas possibilidades vantajosas para os fornecedores, dentre elas, a oportunidade de fazer ações conjuntas de lançamento em lojas da rede. "Com certeza os concorrentes serão prejudicados. Lojas como Magazine Luíza, Walmart e Carrefour deverão ter bastante trabalho para brigar por preço e, inclusive, por espaço na mídia". O analista diz que a Casas Bahia entram "sob o guarda-chuva" do Pão de Açúcar, o que permite usar alguns canais do grupo para estender seu contato com os clientes. Como exemplo, ele cita uma hipotética ação que poderia ser feita pela Casas Bahia nas lojas dos supermercados da rede Compre Bem. "Isso é um diferencial que os concorrentes não têm. Walmart e Carrefour são conhecidos ainda como hipermercados, e não como lojas de eletroeletrônicos. O Pão de Açúcar tem uma enorme vantagem competitiva", diz Cymrot. (Continua)

Melhoras Operacionais
A associação deve promover também sobre a Casas Bahia uma pressão para aperfeiçoar seus processos operacionais, como os meios de pagamentos. O professor Cláudio Felisoni explica que o maior problema da empresa foi não saber lidar com a transição de um modelo de vendas financiadas pelo carnê (que chegou a ser 80% das vendas deles) para o de cartão de crédito.

O problema é que, com os carnês, a Casas Bahia, ganhava também cobrando juros sobre as compras. Com o cartão de crédito, eles deixam de lucrar com os juros - quem ganha são as operadoras. A dúvida que fica é se o Pão de Açúcar vai saber administrar melhor essa transição, e se terá fôlego para isso. Para Felisoni, a estrutura do Grupo Pão de Açúcar o torna mais eficiente que a Casas Bahia, o que deve garantir que a transição seja feita.

Segundo Fernando Cymrot, tal dificuldade na transição pode ser devida ao fato de que a "Casas Bahia nunca teve pressão por busca de rentabilidade e eficiência, por não ser uma companhia aberta. A obrigação de divulgar resultados e a resposta pronta que o valor das ações dá obriga a empresa a ter eficiência nas operações. A Casas Bahia. brigava por faturamento e tamanho, mas não necessariamente por rentabilidade. Não era algo que afetava diretamente o valor da companhia".

O problema, para o especialista, é que muitas coisas mudaram com o passar dos anos. Algumas coisas, dentre elas, a forma de pagamento, não geram mais os mesmos benefícios de 10 anos atrás. "A partir de agora, os ganhos devem começar a aparecer, tanto por escala, quanto os relativos a melhoras operacionais, como os meios de pagamentos. Uma empresa deste porte tem cacife para negociar sua carteira de pagamentos com qualquer banco", diz Cymrot.

Fonte: Portal Exame

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