terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Bilhões de motivos para investir

Conhecido como o "Buffett canadense", o presidente do grupo Brookfield conseguiu reforçar o caixa durante a crise mundial. Agora chegou a hora de gastar, e o alvo é o Brasil.

Embora seja um completo desconhecido dos brasileiros, o executivo na foto ao lado mantém uma antiga relação com o Brasil. Desde 2002, quando assumiu o comando mundial da Brookfield Asset Management (ex-Brascan), o canadense Bruce Flatt esteve no país pelo menos 40 vezes, segundo suas contas. Para conhecer de perto os projetos da empresa no país, já circulou por canteiros de obras no Rio de Janeiro, vistoriou plantações de cana-de-açúcar em São Paulo e sobrevoou hidrelétricas em Minas Gerais. Em sua última visita, Flatt viveu uma experiência inédita. Pouco antes da meia-noite de 10 de novembro, foi surpreendido em São Paulo pelo apagão que atingiu 18 estados enquanto tentava realizar uma teleconferência com seus executivos no Canadá. Horas antes, diante da falta de luz no restaurante onde conversava com a reportagem de EXAME, Flatt reagiu com uma piadinha: "Isso não é luz da Brookfield!" A empresa tem 34 hidrelétricas no Brasil e pretende construir mais cinco a partir do ano que vem. As novas usinas são parte do plano de Flatt para o Brasil. Dos 90 bilhões de dólares que a Brookfield administra em 15 países, hoje 9 bilhões estão no Brasil. Trata-se de um investimento que, segundo Flatt, deve ser multiplicado por três nos próximos dez anos. "De todos os países do Bric, o Brasil foi onde escolhemos investir", diz.

O projeto de Flatt só é possível graças ao bom momento vivido pela Brookfield. Aos 44 anos de idade, conhecido em seu país como o "Warren Buffett canadense" por investir basicamente no longo prazo, ter um bom histórico de resultados concretos e por não aderir a modismos do mercado financeiro, Flatt fez jus à comparação ao desenhar sua reação à crise. Em meados de 2007, ao enxergar indícios de que estava se formando uma bolha, decidiu suspender as grandes aquisições e começou a vender negócios. Desde então, já passou adiante florestas nos Estados Unidos, edifícios comerciais no Canadá e linhas de transmissão de energia no Brasil, reforçando o caixa enquanto concorrentes, como os fundos americanos Blackstone e GGP, sangravam. Uma das exceções a essa regra ocorreu justamente no Brasil, onde aplicou 200 milhões de dólares na compra da incorporadora paulista Company e na capitalização da nova empresa. Nos últimos meses, Flatt voltou a pensar em grandes aquisições. Em outubro, já com 3,8 bilhões de dólares em caixa, a Brookfield concluiu a compra, por 1,1 bilhão de dólares, de parte da Babcock & Brown Infrastructure, gigante australiana de infraestrutura que faliu em março. Os investidores premiaram sua estratégia aplicando 12 bilhões de dólares em novos fundos da empresa. "A crise foi uma das melhores coisas que nos aconteceu", diz Flatt. "Ele foi um dos poucos executivos que conseguiram se preparar para a crise, e saiu dela mais forte do que os concorrentes", afirma a analista Rossa O'Reilly, do CBIC Capital Markets, um dos maiores bancos de investimento do Canadá.

Como o Brasil foi um dos que menos sofreram com a turbulência internacional, o "Buffett canadense" sabe que, no país, as chances de comprar negócios combalidos a preços atraentes são menores. Mas sua aposta aqui é de outra natureza. "O momento é de investir em infraestrutura, algo que sabemos fazer bem. Além disso, os nossos maiores clientes estão muito interessados no Brasil", afirma Flatt. Nos próximos três anos, o grupo vai aplicar pelo menos 1,6 bilhão de reais em hidrelétricas. Outros 2 bilhões de reais devem ser captados lá fora para investir em linhas de transmissão de energia, portos e rodovias. O movimento deve ser acompanhado de muito perto por Flatt, que, em mais uma de suas semelhanças com Warren Buffett, não abre mão de conhecer em detalhes o funcionamento dos negócios. Em 2007, durante uma reunião do grupo em São Paulo, ele surpreendeu os executivos ao relatar a visita que havia feito sozinho ao Raposo Shopping, na rodovia Raposo Tavares, que liga a capital ao oeste do estado. O shopping center havia sido comprado meses antes. "Interessante o shopping, mas o banheiro é inaceitável. Temos de melhorar", disse. Em sua última vinda ao Brasil, entre reuniões internas e conversas com banqueiros, vistoriou pessoalmente as obras de expansão de outro shopping, o Itaú Power, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A cada visita sua, a agenda fica mais concorrida, e falta tempo para praticar seu hobby, a corrida. Mas Flatt não reclama. "As oportunidades aqui são impressionantes. Há muitas coisas a serem feitas." Bilhões de coisas.

Fonte: Portal Exame

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