segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Recorde mundial. E agora?

O espanhol Santander promove o maior lançamento de ações do mundo neste ano e mostra que o Brasil virou um dos principais palcos da competição entre bancos no mercado global.
Há exatamente um ano, Fabio Barbosa, presidente da operação brasileira do Santander, estava acuado. Seu chefe, o espanhol Emilio Botín, controlador do Santander, não escondia sua irritação. Em uma coletiva de imprensa organizada no hotel Grand Hyatt, na zona sul de São Paulo, em outubro de 2008, Botín declarou, com toda a pompa, que seu objetivo era transformar o Santander no "maior banco privado do Brasil". Numa daquelas coincidências históricas cheias de ironia, três dias depois o Itaú e o Unibanco anunciavam a maior fusão bancária do sistema financeiro brasileiro, tomavam a dianteira e se isolavam na liderança. Extremamente contrariado, Botín deixou claro aos membros do alto escalão do Santander no Brasil que eles deveriam ter descoberto a negociação a tempo de evitar o fiasco da coletiva -- no mercado, o anúncio no Grand Hyatt virou piada. Mas, no dia 7, a oferta inicial de ações da operação brasileira do Santander, feita simultaneamente na Bovespa e na bolsa de Nova York, lembrou que é prudente não zombar do banco espanhol. Após captar 14,1 bilhões de reais, a maior oferta inicial de ações de todos os tempos na Bovespa e a maior do mundo neste ano, o Santander mostrou que está fortalecido para brigar por espaço no mercado brasileiro.

Mesmo que o antigo plano de ocupar o primeiro lugar no ranking dos bancos privados pareça por ora quase impossível -- o líder Itaú Unibanco tem quase o dobro de ativos --, o Santander tem hoje tamanho, presença geográfica e dinheiro para, pelo menos, incomodar os três que estão à sua frente: Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco.

Passada a abertura na bolsa, Barbosa, um paulistano de 54 anos, enfrenta agora a pressão de milhares de acionistas, ávidos por saber como o Santander investirá seus 14,1 bilhões de reais e como os transformará numa riqueza ainda maior. Nas semanas que antecederam o lançamento dos papéis, Barbosa participou de uma maratona de encontros com investidores no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Deixou claro que sua meta é ganhar, em cinco anos, pelo menos 2 pontos percentuais de fatia de mercado nos principais segmentos em que atua -- entre eles estão o de crédito imobiliário e o de pequenas e médias empresas. A mensagem era que o banco não quer apenas se beneficiar do crescimento esperado do país. Ele promete fazer isso e, ao mesmo tempo, tirar clientes da concorrência. Também ficou claro que o Santander não estava vendendo suas ações com base no desempenho passado -- o histórico de rentabilidade do banco no Brasil, cerca de metade dos rivais em 2008, não impressiona. O preço de suas ações reflete as promessas de crescimento. Agora Barbosa e sua equipe têm o compromisso de entregar.

Mesmo em um setor povoado por egos mastodônticos, parte da concorrência reconhece em Barbosa um profissional de rara habilidade -- ele foi alçado ao comando do Santander mesmo depois de o banco que presidia, o ABN Amro Real, ter sido comprado pelos espanhóis, algo raro em qualquer mercado. Hoje comanda a segunda maior operação do Santander no mundo. Mas os adversários também dizem que seu maior teste está apenas no início. A competição para valer começa agora. Nos últimos tempos, os principais bancos brasileiros adotaram à risca a lei do mais forte -- em poucas palavras, os grandes engoliram os mais fracos. O Banco do Brasil, por exemplo, é resultado do acréscimo do Votorantim e da Nossa Caixa. O Itaú Unibanco, além dos dois bancos que o compõem, soma os antigos BankBoston, BBA e Nacional. E assim por diante. O resultado foi uma concentração sem precedentes na história do sistema financeiro. Atualmente, os dez maiores bancos do país respondem por 94% das agências bancárias. Há dez anos, essa participação era de 76%. A soma dos ativos dos quatro primeiros bancos do ranking quase dobrou desde 2007 -- em meio, é bom lembrar, à maior crise bancária internacional em sete décadas. Até 2007, não havia nenhum brasileiro na lista dos 20 primeiros do mundo por valor de mercado. No início de outubro, o Itaú Unibanco era o 11o e o Bradesco 17o. "As grandes instituições financeiras estão olhando para a frente e se preparando para o Brasil que virá", diz Aldemir Bendini, presidente do Banco do Brasil, que nos últimos meses empreendeu uma maratona expansionista. Embalados pela política anticíclica do governo e com uma agressividade incomum, os bancos públicos aumentaram sua fatia de mercado de 34% para 40% nos últimos 12 meses. "Todo mundo quer manter o que tem e conquistar novos espaços."

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