sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Exportador volta aos derivativos

A queda persistente no dólar tem feito as maiores empresas exportadoras voltarem a vender a moeda americana no mercado futuro. O movimento é concentrado nas maiores companhias, as que têm mais crédito no mercado junto aos bancos e com gestão de risco e tesourarias mais sofisticadas. Mas os bancos mais atuantes já começam a perceber alongamento de prazos nas transações para além de alguns meses e volumes significativos sendo movimentados.

As vendas futuras mais oportunistas se concentram nos dias quando o dólar é puxado para cima por um evento como, por exemplo, o anúncio da criação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% sobre o investimento externo em renda fixa e ações. Nessas datas, grandes empresas chegam a vender dólar até para vencimento no final de 2010. Na maior parte, no entanto, as vendas acontecem nos prazos de dois a três meses.

"Foi no segundo semestre que as empresas passaram a ter maior convicção de que a crise tinha passado mesmo e voltaram a vender dólar", diz Marcelo Maziero, diretor doItaú BBA. Segundo ele, a demanda por "hedge" (proteção) contra oscilações no câmbio cresceu 10% no segundo semestre na comparação com o primeiro, mas ainda está 15% abaixo dos níveis de 2008, de antes da crise. Empresas médias e pequenas estão fora do mercado, muitas delas por falta de crédito, inclusive. Mas mesmo algumas empresas grandes continuam arredias ao produto.

Segundo ele, há exportadores que têm usado sua própria captação externa como "hedge" para seus ativos - se por um lado o exportador perde receitas futuras com a queda do dólar, tem também de pagar menos dívida. Maziero conta ainda que há empresas esperando para ver e pedindo para vender a R$ 2, o que é impossível hoje, dadas as projeções do mercado futuro. "Considerando-se as perspectivas para o real, o mercado era para estar bem mais ativo", considera.

"Os derivativos de câmbio mais usados são os 'plain vanilla', aqueles mais conhecidos, básicos e menos estruturados que podem ser cotados em diversas instituições financeiras", diz Hiroshi Ogawa, responsável pela mesa de derivativos para clientes doBNP Paribas. Segundo ele, os clientes têm preferido o tradicional "swap" (troca de indexadores do real para o dólar), o NDF (non-deliverable forward, a venda do dólar a termo sem entrega física da moeda) e as opções (direito de compra ou venda do dólar em uma data futuro por uma cotação pré-estabelecida).

Os "target forward" ou empréstimos com duplo indexador, tão usados em 2007 e 2008 e que levaram as empresas como Aracruz a grandes alavancagens e perdas significativas, não atraem interesse hoje. Ele conta que tem tentado vender produtos mais estruturados que reduzem o risco do cliente e não que aumentam sua alavancagem, mas sem sucesso.

O Valor teve acesso ao contrato de um produto nesse sentido, oferecido por um banco estrangeiro para as empresas recentemente, que imita um NDF, mas limita as perdas da companhia. Ele é chamado de "strip", e, segundo especialista, é montado com opções de venda e compra de dólar. Por meio dessa estrutura, considerando-se o dólar a R$ 1,75, por exemplo, o cliente vende o dólar a R$ 1,865 por três meses, sendo que o NDF para esse período estaria em R$ 1,775. Em quaisquer dos meses, sua perda é limitada a R$ 0,60 por dólar. Após três meses, o banco tem o direito de estender a transação por mais 9 meses com R$ 1,865 de cotação de venda e igual valor.

Maziero diz que há diversas empresas não-exportadoras que têm procura ainda fazer "hedge" (proteção) de suas dívidas externas em dólar, comprando a moeda no mercado futuro. "O mercado está mais equilibrado, mas pendendo mais para o vendedor", diz Ogawa.

Fonte: Valor Online

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