Índice Bovespa recupera perdas pós-quebra do Lehman Brothers, mas volatilidade é a maior desde 1999 e aumenta o risco para o investidor.
Em menos de um ano, o Índice Bovespa zerou as perdas da crise iniciada em setembro do ano passado com a quebra do banco americano
Se serve de consolo, o investidor brasileiro não está sozinho nessa jornada. O mercado americano também está com níveis de volatilidade nunca vistos, compatíveis com a maior crise desde 1929, lembra Einar Rivero, da Economática. "É o eletrocardiograma do mercado, mostra que o coração está batendo em ritmo alucinante", diz.
Com tanta volatilidade, o mercado busca se adaptar, procurando oportunidades em prazos mais curtos, aproveitando as oscilações e distorções de preços, observa Einar. "Muita gente está ganhando dinheiro no dia a dia, deixando o longo prazo um pouco de lado", observa. Com isso, a análise fundamentalista, do desempenho da empresa, acaba ficando de lado e os investidores buscam se orientar pela análise gráfica, que indica os movimentos de curtíssimo prazo. Para Einar, talvez no segundo semestre, com a volta dos bons resultados das empresas, os prazos se estiquem um pouco mais.
A volatilidade na Bovespa é ainda muito intensa e o investidor custa a se acostumar aos vaivéns. "Faz parte de um processo de aprendizado, pois com juros abaixo de 10% ao ano, o aplicador vai ter de entender que não dá para ganhar dinheiro sem sobressaltos", diz o diretor da
"Investir em ações é para toda a vida, é para poupar parte da renda mensal, e não se preocupar com as oscilações de curto prazo, é entender que, quando a bolsa cai, é uma oportunidade para investir mais", diz Lois. O executivo reconhece, porém, que esse não é um comportamento óbvio porque quando o Ibovespa aponta sistematicamente para baixo, a exemplo do que ocorreu após a quebra do Lehman Brothers, o investidor se sente mais pobre.
Para um período de 12 meses, o Ibovespa ainda deve dar retornos acima do custo de oportunidade - a Selic projetada -, espera o diretor de Renda Variável do
A única coisa que pode reduzir a volatilidade da bolsa é uma maior visibilidade sobre o futuro da economia mundial, cenário que ainda parece estar distante, diz Lika Takahashi, chefe da área de Análise da
Uma das variáveis que tornam o futuro do mercado mais incerto é a ligação do Brasil com a economia chinesa, grande consumidora de commodities. "E a China é uma grande incógnita, não só pelas questões econômicas mundiais em si, mas pela baixa confiabilidade dos dados", diz.
Lika vê com ressalvas a forte alta do Ibovespa nos últimos dias, fruto muito mais do fluxo de investidores externos do que da melhora das condições das companhias. "Olhando os números das empresas, as ações já não estão baratas e as apostas se tornaram menos óbvias", afirma. Por isso, no curto prazo, o mercado vai depender muito mais do fluxo de estrangeiros. Até dia 24, o saldo dos investidores externos na Bovespa no mês estava positivo em R$ 1,598 bilhão, depois de ter chegado a ficar negativo em R$ 2 bilhões. No ano, o saldo é de R$ 11,705 bilhões.
A recuperação rápida das ações criou também uma situação em que grandes investidores externos, que perderam a recente alta, ficam à espera de quedas para comprar. Com isso, quando há um recuo dos preços, há novamente um movimento de alta, mesmo sem muitos motivos macroeconômicos. "Isso impede uma queda maior", diz Lika.
Para ela, a visibilidade no mercado deve melhorar no fim deste ano ou no começo do ano que vem. "Mas só vamos ter uma ideia boa do efeito das medidas contra a crise na economia mundial em meados de 2010", diz Lika. Até lá, a bolsa deve continuar em função das notícias e do fluxo de investidores externos. Lika ainda mantém a estimativa de um Ibovespa na casa dos 51 mil pontos neste ano e de 60 mil para junho do ano que vem. "Mas vamos ver até o fim deste mês."
Apesar da alta de 45% neste ano, o Índice Bovespa ainda está longe e precisaria subir mais 35% para voltar ao pico de 73.516 pontos, de 20 de maio de 2008, pouco depois de o país atingir o selo de investimento de baixo risco. Mas espaço para ganhos existe, dizem analistas. Pedro Martins, estrategista para América Latina da
A diversificação dos investidores locais, que pode jogar US$ 22 bilhões por ano dos fundos de renda fixa para ações, forçará um aumento dos preços das ações. Com isso, a relação Preço/Lucro - P/L, referencial que estima em anos o tempo de retorno do investimento na ação e, portanto, quanto menor, melhor - do mercado brasileiro deve aumentar, para se equiparar aos mercados globais. "O P/L médio do Brasil tem um desconto de 13% em relação ao P/L global que deverá desaparecer com esse 're-rating'", acredita Martins. Ao mesmo tempo, esse dinheiro local servirá para aliviar o impacto da saída dos estrangeiros em momentos de turbulência.
Fonte: ValorOnline
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