terça-feira, 9 de junho de 2009

Na Europa, Lily Safra assinou contrato por e-mail

Até a última sexta-feira, o Magazine Luiza, da empresária Luiza Trajano, ainda tinha chances concretas de vencer a disputa em torno da aquisição da rede Ponto Frio, controlada por Lily Safra e seu filho, Carlos Monteverde. A empresária estava empenhadíssima em concretizar a compra e meses atrás havia se deslocado até a Europa para uma reunião cara a cara com Lily. Mesma iniciativa teve o empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar.
Assessorado pelo banco JP Morgan, o Magazine tinha tudo certo para uma proposta de pagamento 100% em dinheiro, com preferiam os vendedores. O fundo americano Capital, que já é sócio do Magazine, faria uma injeção de capital. Um empréstimo bancário também já estava fechado para ajudar a financiar a compra. O Unibanco, sócio na financeira LuizaCred (e também parceiro financeiro do Ponto Frio), estava disposto a colaborar no pacote ao ampliar o valor pago pela parceria. O aporte de capital do fundo americano diluiria Luiza Trajano no negócio, mas esse não era um obstáculo.
O banqueiro André Esteves havia desistido de tentar adquirir o Ponto Frio depois de acertar a recompra do Banco Pactual e, com isso, a rede nordestina Insinuante perdera seu parceiro e ficara sem o fôlego financeiro necessário. Logo, a concorrência havia diminuído.
Depois de conversas que pareceram promissoras na sexta-feira, o Goldman Sachs, assessor financeiro de Lily Safra na transação, silenciou durante o fim de semana. A equipe do Magazine Luiza não sabia, embora pudesse desconfiar, mas a explicação para o silêncio é que os vendedores haviam decidido fechar com o Pão de Açúcar. Goldman Sachs e e o escritório de advocacia Mattos Filho, que também assessorou os vendedores, trabalharam sem parar no sábado e no domingo para concluir a operação anunciada ontem.
O Magazine Luiza foi atropelado pelo Pão de Açúcar, que nos últimos dez dias acelerou as negociações, disposto a levar a rede de eletroeletrônicos.

A operação foi fechada no domingo de forma bastante inusitada para uma aquisição desse porte. Com os controladores morando na Europa e não dispostos a se deslocar até o Brasil para a assinatura dos contratos, o jeito foi fazer tudo de forma remota, com auxílio da internet. Se optassem por enviar os documentos à Europa, o fechamento da operação poderia ser retardado em até uma semana. Esse era um risco que ninguém estava disposto a correr, especialmente o comprador.
Os representantes do Pão de Açúcar e seus advogados do escritório Souza Cescon reuniram-se no domingo na sede da boutique de assessoria financeira Estáter, que costuma trabalhar para a rede de varejo nessas operações, e lá fizeram a assinatura dos contratos. Do outro lado do Atlântico, os vendedores assinaram os documentos na Suíça e enviaram, por e-mail, as cópias em formato PDF. A troca dos originais devidamente assinados só ocorrerá nos próximos dias.
As negociações para a venda da rede Ponto Frio foram marcadas por outro aspecto bastante inusitado. Embora controlassem a rede Ponto Frio, Lily Safra e Carlos Monteverde não tinham nenhuma participação na gestão da empresa. A completa falta de ingerência dos controladores ficou clara, em março, no episódio em que a companhia optou por revelar, à revelia deles, a existência das negociações para venda do controle. Fatos como esse levaram alguns interessados a supor que a gestão da empresa estava alinhada com algum dos grupos compradores. A companhia tinha, inclusive, um escritório de advocacia independente dos controladores na negociação, o Barbosa, Müssnich & Aragão.
A segregação afetou profundamente as negociações, gerando boa dose de estresse. Principalmente porque os controladores não quiseram se responsabilizar por eventuais problemas ou contingências que pudessem ser encontrados posteriormente pelo eventual comprador, algo comum em qualquer aquisição. O argumento dos vendedores era que não podiam responder por atos praticados pela diretoria do Ponto Frio.
A situação exigiu extrema cautela dos compradores e pode ter sido decisiva para o Pão de Açúcar vencer a disputa. Com um sócio americano a seu lado, menos familiarizado com o mercado brasileiro e os riscos envolvidos, o Magazine Luiza tinha menos flexibilidade para a elaboração dos contratos nos termos em que queriam os vendedores. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário