quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Revisão de crescimento chinês dá fôlego às bolsas

Por que os mercados emergentes, em especial a China, têm apresentado melhor performance do que as bolsas das economias desenvolvidas? Depois de os fãs e cinéfilos desvendarem os mistérios de um homem que nasce velho e morre bebê em "O Curioso Caso de Benjamin Button", protagonizado por Brad Pitt, no relatório "O curioso Caso dos Mercados Emergentes", os analistas Michael Hartnett e Michael Penn, do time de estratégia do Bank of America Merrill Lynch, enumeram os fatores que têm proporcionado o relativo descolamento desse grupo de países, embora não o vejam como movimento duradouro.  

O posicionamento dos investidores globais em ativos emergentes em níveis historicamente baixos, o fato de os bancos dessas economias continuarem a ter bom desempenho, o afrouxamento das políticas monetárias, além da sensível melhora em relação às expectativas de crescimento da economia chinesa explicam o movimento. Só que a espiral de debacle financeira nos Estados Unidos representa uma ameaça pujante que pode levar os preços a revisitarem as baixas de 2008.  
A despeito do colapso macroeconômico global e dos mercados, as ações dos emergentes têm superado em larga escala as bolsas das economias desenvolvidas: nos últimos três meses, a diferença atingiu 12 pontos percentuais. Uma primeira razão para isso é o fato de a exposição tanto em ações quanto moedas e títulos de dívida ter ficado muito abaixo dos níveis observados antes de o mundo chacoalhar com a quebra do Lehman Brothers, em setembro. Com menos ativos tóxicos em seus balanços e uma menor alavancagem, os papéis dos bancos de emergentes continuaram a ter performance melhor do que seus pares localizados em mercados desenvolvidos. O setor financeiro é de longe o que tem maior peso, com 21%, no MSCI Index. 

Indicadores chineses que proporcionaram a revisão das expectativas de crescimento para o país e demais emergentes também forçaram os "ursos" ("vendidos", que apostam na baixa) a "tirarem o pé da garganta" da maioria dos países desse grupo, com exceção de Rússia e Leste Europeu. Além disso, no agregado dos emergentes, os ciclos de relaxamento monetário fizeram com que o juro médio caísse abaixo de 7% ao ano pela primeira vez na década. Taxas baixas e queda nos preços das commodities podem ser alavancas para demanda doméstica ao baratear insumos e estimular alguns setores relacionados a bens de consumo.  
Só que na visão de Hartnett e Penn, não há dúvidas de que a debilidade financeira americana levará os emergentes a novas baixas. Esse movimento pode se estender até os investidores se depararem com um mercado de dívida pública dramaticamente líquido nos Estados Unidos, em antecipação a uma solução com consequências inflacionária para os setores imobiliário e financeiro. "Isso ainda não aconteceu", escrevem. Conforme explicam, os recentes suportes das taxas dos "treasuries" refletem um pequeno salto nas expectativas de inflação.  
Na China, cujo índice acionário já subiu 24% neste ano, apesar do enfraquecimento da economia, o excesso de liquidez é a explicação mais confiável. O piso no mercado de Xangai foi observado em 9 de novembro, dias antes de o governo anunciar um ambicioso plano de estímulo fiscal da ordem de US$ 600 bilhões. 

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