quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Queda no preço é mais dolorosa para o balanço da Vale que cortes na produção

SÃO PAULO - O cenário para as ações da Vale (VALE5VALE3) mudou muito rápido da semana passada para cá. Em intervalo de dez dias, a companhia desistiu do reajuste junto às siderúrgicas chinesas, anunciou cortes de produção, reportou resultados recordes e divulgou seu programa de investimentos para 2009. Diante de todas estas variáveis, os analistas vêem a empresa enfrentando a nova realidade, ou melhor, se adequando a ela.

Na ocasião da apresentação de seu orçamento para 2009 e nos comentários de seu balanço trimestral, a mineradora já havia admitido o maior desafio que tem pela frente; mas confiante em sua capacidade e nos fundamentos do setor. No Vale Investor Day, realizado na véspera na Bolsa de Nova York, a brasileira trocou o discurso progressista pelo defensivo.

Um ano antes, o tema do evento havia sido perspectivas de crescimento. No encontro deste ano, o foco foi a adequação das operações à nova realidade, ao desafio que a turbulência econômica impõe. 

Da confiança demonstrada na apresentação dos resultados, o Investor Day transmitiu um tom mais conservador, com a empresa olhando para a volatilidade com calma, esperando maior consolidação do cenário para agir de maneira mais consistente.

Corte no preço dói mais que corte na produção
O corte na produção, quando recebido pelo mercado, foi tratado pelos analistas como ajuste; uma importante ferramenta para equilibrar a relação entre oferta e uma demanda mais modesta. Explicando a questão, o banco suíço UBS foi enfático: preços são mais importantes que volume para a empresa.

Também avaliando as declarações do Investor Day, a equipe do Citigroup tratou o mesmo tema afirmando que para os balanços, "cortes no preço são mais dolorosos que no volume de vendas". Completando o debate, a instituição buscou destacar que os clientes da Vale, no momento, estão pedindo menor quantidade, não menor preço.

Orçamento é só um número
Com relação ao portfólio de investimentos, a impressão deixada foi de que a cifra de US$ 14 bilhões divulgada para 2009 é apenas um número. Pelas declarações, este investimento vai acompanhar as condições de mercado, sendo direcionado de acordo com as possibilidades e andamento da crise.

Investimento orgânico é visto pela Vale como melhor pedida do que crescimento via aquisições, o que, para o Citi, é questionável. Ainda assim, foi levantada a possibilidade de consolidação nos 
mercados de cobre e carvão, exatamente os prováveis alvos da mineradora brasileira.

Ainda subvalorizadas
Quanto à perspectiva em relação ao preço do minério de ferro, que é a ponta "mais dolorosa", a aposta em redução no preço na próxima rodada de reajustes ganha força. Nesta semana, a Vale confirmou desistência na tentativa de obter uma elevação adicional de 12% no valor dos contratos firmados junto às siderúrgicas chinesas.

Ao comentar a desistência, a mineradora buscou destacar a boa relação que mantém com seus clientes asiáticos. O mercado interpretou como positiva a questão, pois reduz a ameaça de possíveis cortes no fornecimento para a China.

Para o Credit Suisse, os atuais preços das ações ainda precificam uma redução entre 40% e 45% no valor dos contratos em 2009. Para se ter uma idéia, a aposta do banco suíço varia no intervalo entre 5% de reajuste para cima e 5% para baixo.

Por: Rafael de Souza Ribeiro
05/11/08 - 16h14
InfoMoney


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