sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Nossa Caixa é sorte grande para acionista

Se os acionistas do banco Nossa Caixa já tinham tirado a sorte grande, com as ações ordinárias (ON, com direito a voto) subindo 75,22% no ano, até quarta-feira, enquanto o Índice Bovespa amarga queda de 40,86%, agora, com a possibilidade de a venda da instituição para o Banco do Brasil enfim sair do papel, as perspectivas parecem ainda mais alvissareiras. Ontem, as ON do banco refletiram esse clima de euforia. Elas subiram 13,06%, num dia de depressão nas bolsas de valores do mundo inteiro, com o Ibovespa registrando queda de 3,77%, para 36.361 pontos. Em dois dias, o Ibovespa perdeu 9,67%. Com o desempenho de ontem, a valorização do papel do banco no ano já é de 98,11% ante uma queda de 43,08% do Ibovespa.  
O mercado começou a quinta-feira com a notícia de que os governos do Estado de São Paulo e o Federal já teriam acertado o preço de compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil - algo em torno de R$ 6,4 bilhões. Ele equivale a cerca de duas vezes o patrimônio líquido de R$ 3,2 bilhões da Nossa Caixa, com base no balanço do segundo trimestre. Se os investidores gostaram da cifra, imagine então quando souberem que o governo de São Paulo sinalizou que acha pouco e está disposto a pedir mais. 
Alguns analistas, no entanto, não compartilham com essa idéia de que a oferta do Banco do Brasil é de se jogar fora. Muito pelo contrário. Eles acreditam que pode ser um negócio da China para a Nossa Caixa, especialmente num momento em que o mundo passa por uma profunda crise financeira, com seqüelas preocupantes para o setor bancário.  
O analista da Lopes Filho Associados João Augusto Salles é do grupo dos que acreditam que esse valor está até um pouco salgado. Ele lembra que, na operação entre Itaú e Unibanco, este último foi avaliado por duas vezes o seu valor patrimonial. "Não faz sentido Unibanco e Nossa Caixa terem exatamente a mesma avaliação, sendo que os fundamentos do Unibanco são superiores", diz Salles. Pelas suas projeções, já estaria muito bom se o Banco do Brasil comprasse a Nossa Caixa por 1,5 vez o seu valor patrimonial. 

Vários motivos diferenciam a eficiência das duas instituições financeiras. O fato de a Nossa Caixa ter pago R$ 2 bilhões, no início do ano passado, para ficar com a folha de pagamento dos funcionários públicos de São Paulo, foi um divisor de águas bastante negativo na forma de o mercado enxergar o banco. "Ele pagou caro demais por algo que 50% já era dele (a outra metade estava com o Santander) e, a partir de então, passou a ter prejuízo em todos os trimestres, com a amortização do pagamento", diz o analista da Lopes Filho.  
O argumento de que as ações dos bancos que fizeram ofertas públicas inicias (IPOs, na sigla em inglês) no ano passado foram vendidas valendo entre 2,5 a 3 vezes o valor patrimonial dessas instituições também é no mínimo discutível. Quando esses IPOs ocorreram, o mercado ainda era muito bom e o apetite dos investidores estrangeiros por ativos de risco estava num dos maiores níveis dos últimos tempos. Hoje, muitos desses investidores estão bem machucados com a crise internacional e não querem nem ouvir falar em papéis de países emergentes. 
Considerando a oferta de R$ 6,4 bilhões e a quantidade total de ações do capital da Nossa Caixa, de 107,036 milhões, o Banco do Brasil estaria pagando cerca de R$ 60 para cada uma delas, lembra Salles. Portanto, é mais do que natural supor que os papéis devem buscar esse valor no pregão da Bovespa. Até porque, como o banco faz parte do Novo Mercado, o Banco do Brasil será obrigado a oferecer aos minoritários da Nossa Caixa o mesmo valor pago ao controlador, ou seja, 100% de "tag along". As ações já estão no meio do caminho. Ontem fecharam cotadas a R$ 45. Para Salles, este (os R$ 45) é exatamente o valor que ele considera justo para as ações da Nossa Caixa, nem um centavo a mais, nem um centavo a menos.  
As ações ordinárias do futuro possível comprador não tiveram a mesma sorte. Ontem, os papéis do BB fecharam em queda de 6,54%. A explicação é simples. Se os acionistas da Nossa Caixa ficaram felizes porque podem receber mais do que de fato merecem, os do BB não devem ter gostado nada de serem tão bondosos. 

Queda sem fim  
Não bastasse as ações do setor imobiliário estarem entre as maiores quedas do ano, elas continuam caindo. Ontem, as ON da Gafisa se desvalorizaram 19%, as da Cyrela Realty, 17,79% e as da Rossi Residencial outros 8,75%. "Os papéis estão refletindo o início da desaceleração da economia, que acerta em cheio a confiança do consumidor, consequentemente, a sua vontade de fazer um financiamento para comprar um imóvel", diz o chefe de análise da BullTick Capital Markets, Sérgio Goldman. Ele acredita, no entanto, que o setor irá se recuperar, juntamente com a economia real, provavelmente a partir de 2010. 

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