quarta-feira, 26 de novembro de 2008

EUA lançam pacote para reativar crédito

Em sua quarta intervenção no mercado financeiro em três meses e a segunda em menos de 48 horas, o governo americano anunciou um pacote de US$ 800 bilhões para descongelar o crédito. Equivalente ao PIB da Holanda, é o maior valor empregado em iniciativas do tipo na história dos EUA, ultrapassando em US$ 100 bilhões o recorde anterior, do pacote de auxílio a instituições financeiras aprovado no Congresso.

O plano parte da constatação da administração do republicano George W. Bush de que, mesmo com todas as intervenções e injeções de dinheiro que fez ou se comprometeu a fazer até agora, os bancos ainda não voltaram a emprestar ao consumidor final no ritmo de antes da crise. Isso vem enfraquecendo como um todo uma economia em que o consumo responde por 70% do PIB.
Pelo pacote, anunciado ontem em Washington pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, o Federal Reserve de Nova York, a mais importante das 12 subdivisões do banco central americano, compromete-se a emprestar até US$ 200 bilhões a instituições financeiras com papéis baseados em títulos de dívidas de consumo, como financiamento de carro, dívidas de crédito e financiamento estudantil.

É uma das frentes principais, que ajuda diretamente consumidores e pequenas empresas endividados. O plano "dá liquidez às instituições, e parece claro que é o empréstimo direto que ajudará os consumidores", disse Henry Paulson.
Outra é a compra pelo Fed de até US$ 500 bilhões em títulos lastreados em hipotecas garantidas por Fannie Mae, Freddie Mac e Ginnie Mae, as três gigantes hipotecárias, parcialmente operadas pelo governo. Outros US$ 100 bilhões serão gastos em papéis de dívida emitidos por essas instituições. É a frente voltada a fazer o mercado imobiliário voltar a financiar.
O pacote foi divulgado no mesmo dia em que o Departamento de Comércio anunciou revisão dos dados do PIB dos EUA no terceiro trimestre. A economia recuou 0,5%, sua maior retração desde o terceiro trimestre de 2001, ano do ataque terrorista de 11 de Setembro. A avaliação anterior era de uma retração de 0,3% -a diferença é atribuída a uma queda maior nos gastos de consumo.
Chega ainda no momento em que o presidente eleito, Barack Obama, insinua-se mais na condução da economia, ao apressar-se em revelar seus responsáveis para o setor. Após anunciar na segunda-feira o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, apontou ontem o diretor de Orçamento da Casa Branca, Peter Orszag, e disse que faria uma reforma no plano de gastos do governo. O democrata convocou nova coletiva sobre economia para hoje.

Só o começo
Os valores envolvidos na transação impressionam. Com o pacote de ontem, o total gasto ou comprometido pelo governo norte-americano até agora chega a US$ 5,4 trilhões, ou 8% da riqueza produzida pelo mundo inteiro em um ano. Para efeito de comparação, o PIB brasileiro é de US$ 1,4 trilhão, ou pouco menos do que apenas dois dos pacotes principais do governo americano, o de ontem e o aprovado em outubro.
Ainda assim, é só o começo, como disse ontem Henry Paulson. "Vai levar um tempo para colocar esse programa de pé e funcionando, mas ele pode ser expandido e aumentado com o tempo", afirmou o secretário do Tesouro. O número 1 da economia norte-americana vem sendo criticado por mandar sinais contraditórios e erráticos em suas ações, o que assusta os mercados ao sugerir que o governo esgota suas opções.

Há pouco mais de uma semana, Paulson foi ao Congresso dizer que os mercados estavam estabilizados e ele não precisaria usar a segunda metade do pacote de US$ 700 bilhões aprovados pelo Legislativo. Disse também que havia mudado de idéia quanto à proposta original, de comprar os chamados papéis podres de instituições financeiras em dificuldade, e que injeções diretas de capital faziam mais sentido.
Poucos dias depois, o governo teve de aprontar às pressas novo pacote de resgate ao Citigroup, cujos detalhes foram revelados anteontem. O plano de salvamento do segundo maior banco norte-americano marcou um novo passo, que mistura os dois primeiros. Já o de ontem mostra um outro rumo.
"O governo parece não saber o que está fazendo", disse à Folha Simon Johnson, ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), hoje no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. "E o que está fazendo não está dando resultado."

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