terça-feira, 18 de novembro de 2008

Com lições da crise de 1929, Bernanke usa todas as armas no combate à crise

Por: Vitor Silveira Lima Oliveira
18/11/08 - 12h13
InfoMoney

SÃO PAULO - Cercado de questionamentos, o Federal Reserve tem promovido ações de política monetária fortemente expansionista, em sua busca incessante para conter a crise financeira.

Comparando o atual momento com as ações adotadas pela mesma instituição durante a crise de 1929, analistas do banco francês Société Générale elogiaram as medidas, mas ressaltaram: tão logo a normalidade volte, o Fed também deve mudar.

Durante a elaboração de seu relatório, os estudiosos tiveram em mente a situação incomum em que a economia dos Estados Unidos se encontra, evidenciada pela naturalidade com que se compara o momento atual à dramática depressão da década de 30.

Para se ter uma idéia da magnitude com que o Fed intervém no mercado monetário, o passivo da autoridade monetária norte-americana cresceu cerca de US$ 1,3 trilhão desde o início de setembro, sobre uma base inferior a US$ 1 trilhão. A fim de capitalizar as instituições financeiras, o Banco Central dos EUA também decidiu pagar juros sobre os depósitos compulsórios.

Uma análise comparada
Como o Fed conseguirá o dinheiro para arcar com tantas obrigações? "Imprimindo!", é a resposta da equipe do Société Générale. Em uma situação comum, a brutal injeção de dólares na economia norte-americana poderia causar arrepios nos falcões do Fed, ardorosos defensores do combate à inflação - Mas não. Desta vez, a luta é oposta.

"Para entendermos plenamente a motivação de Bernanke ao adotar medidas tão extremas, precisamos voltar cerca de 80 anos na história". Os analistas do Société Générale referem-se ao grande declínio dos preços vivenciado entre 1931 e 1933 - com deflação anual na casa de 10%.

"Os economistas concordam, em termos gerais, que a grande depressão foi produto de erros da política monetária", ressaltam. Prato cheio para Bernanke, presidente atual do Federal Reserve, considerado um dos maiores estudiosos das causas da crise de 1929. 

Segundo os analistas do Société Générale, a grande depressão foi disparada pelo estouro de bolha no preço dos ativos, mas boa parte da responsabilidade cai sobre as reações Fed. Dois erros básicos, em sua visão: "manteve a política monetária inapropriadamente rígida e não fez nada para prevenir corridas e falências bancárias".

Constrangimentos
É preciso, contudo, levar em consideração algumas restrições enfrentadas pela autoridade monetária à época, pois vigorava o padrão-ouro. Isto limitava a quantidade de moeda no mercado à manutenção de correspondente lastro em metal precioso pelo emissor.

Ademais, as cotações fixas das moedas deixavam o dólar muito suscetível a ataques especulativos - algo que de fato ocorreu em 1931 e foi enfrentado com um maior aperto monetário pelo Fed. À época, também se acreditava que a quebra de forças especulativas e de instituições frágeis serviria para fortalecer os mercados e o sistema financeiro. Tudo isto contribuiu para exacerbar o movimento de retração nos mercados.

Reação rápida
Deste modo, a meta atual do Federal Reserve é evitar a deflação e suprir a redução da oferta de moeda causada pela quebra dos agentes intermediários do sistema financeiro - ao emprestar parte dos recursos depositados em seus cofres, os bancos multiplicam o estoque de moedas emitido pela autoridade monetária.

Todavia, os analistas ressaltam que a situação é anormal. Em 1933, tão logo o padrão-ouro foi em parte deixado de lado e o Fed estabilizou o sistema bancário, a economia real recuperou-se e a deflação foi encerrada. "Se os incrementos massivos da base monetária não forem revertidos rapidamente, tão logo os mercados de crédito se recuperem, [a ação do Fed] poderá conduzir a outra onda de sérias pressões inflacionárias entre 2010 e 2011."

Nenhum comentário:

Postar um comentário