quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Aprenda com (ou como) Warren Buffett


A educação financeira deve começar cedo e se manter ao longo da vida. Analisar a vida de Warren Buffett, legendário fundador da Berkshire Hathaway, é um exercício interessante para compreender como esse hábito pode influenciar a trajetória de alguém.

Buffett, terceiro homem mais rico do mundo, veio de uma família de alguma posse. Seu pai, que foi eleito senador, tinha uma corretora de títulos mobiliários. Aos seis anos de idade, Buffett descobria sua veia empreendedora ao arrematar um lote de seis latas de refrigerante por 25 centavos e revender cada uma por 5 centavos de porta em porta. Mais tarde, se dedicou a ler livros e revistas sobre investimentos. Aos dez anos, numa viagem a Nova York com a família, insistiu em conhecer a bolsa. Um ano depois, adquiriu sua primeira ação. Na biblioteca de sua cidade, Omaha, no Nebraska, aprendeu o conceito de juros compostos e anunciou aos amigos que seria milionário antes dos 35 anos.

Formou-se aos 19 anos em administração pela Universidade de Nebraska e começou a trabalhar como corretor de ações na empresa do pai. Como o próprio Buffett disse, ele analisava gráficos e aplicava cálculos, mas a experiência era frustrante, porque ele não enxergava um método naquilo.

Em 1950, descobriu o livro que causaria uma revolução em sua educação financeira, “The Inteligent Investor”, de Benjamin Graham. Era algo que apelava aos princípios mais caros a Buffett: racionalidade e conservadorismo. Ele chama a obra de “o melhor livro sobre investimentos já escrito”. Vai além, ao afirmar que o conceito de margem de segurança, descrito pelo autor, é fundamental para qualquer investidor. Para Buffett, a ideia é investir em uma fração de uma empresa cujo negócio o investidor conheça muito bem, com razoável estabilidade e previsibilidade de geração de caixa. E fazê-lo a um preço baixo a ponto de, mesmo diante de eventuais erros de avaliação, alta volatilidade ou baixa liquidez, garantir margem de segurança ao investimento.

O intelecto de Buffett, turbinado pelas lições de Graham e por características pessoais marcantes, como ambição, determinação e disposição para pensar diferente da “manada”, já seria suficiente para torná-lo um grande investidor.

Mas a vocação de Buffett tornou-se ainda mais evidente quando ele conheceu, em 1959, o investidor Charlie Munger, com quem passou a ter conversas diárias. Munger sugeriu que ele lesse “Common Stocks and Uncommon Profits”, de Philip Fisher, outra obra importante na formação de Buffett, ao acrescentar a preocupação com a qualidade do negócio ao método quantitativo de Graham.

Munger diz que uma característica essencial de Buffett é que ele é “uma máquina de aprender”. Acreditar que já sabe tudo não parece fazer parte de seu “sistema operacional”. Por conta disso, a educação financeira do mago das finanças é uma espécie de obra em construção. Ele não se contenta apenas em aprender – também ensina. Desde o começo de sua carreira como gestor de recursos, Buffett nunca economizou tempo para explicar sua forma de pensar e agir.
Suas cartas aos investidores são lendárias e constituem, por si só, grandes lições de educação financeira. Mais ainda: o investidor dá atenção especial aos estudantes e costuma receber delegações de universidades – inclusive do Brasil – para sessões informais de perguntas e respostas. Se Graham foi um mestre generoso para Buffett, hoje Buffett o é para milhares de pessoas. Nas reuniões da Berkshire, ele e Munger, mesmo aos 80 e 87 anos de idade, respectivamente, recebem mais de 30 mil pessoas e passam o dia inteiro às voltas com as mais diversas indagações.
É evidente que não é fácil replicar o sucesso de Warren Buffett. Seu êxito profissional não se deve apenas a uma educação financeira primorosa. Ele também se conjuga com talento único, humildade, curiosidade e habilidade interpessoal. Não bastasse tudo isso, Buffett nasceu numa nação pródiga em oportunidades. Num país em crescimento como o Brasil, com um mercado em pleno processo de amadurecimento, que melhor exemplo do que Buffett para ajudar a entender melhor o mundo das probabilidades e possibilidades que nos cerca?

*Gustavo Ballvé é analista da Investidor Profissional, já esteve na assembleia da Berkshire Hathaway três vezes e há dez anos estuda a vida e a obra de Warren Buffett

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