sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sistema vai melhorar troca de informações entre fundos

Uma característica peculiar do setor de fundos no Brasil é a divulgação do valor da cota diariamente. Informação que o investidor faz questão de ter, mas não imagina o trabalho que administradores têm para levantá-la - afinal, são mais de 10 mil fundos em atividade. A troca de mensagem entre gestor, administrador e custodiante, além de não seguir um padrão de mercado, é feita via e-mail, fax e até por telefone, quando ela demora a chegar. É um "caos organizado", porque funciona, mas ele está com os dias contados, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Pedro Guerra.
Na última semana, um grupo formado por 15 sócios, sendo 12 bancos, a BM&FBovespa e a Anbima, colocou em operação a primeira fase de um sistema de transferência de informações padronizadas para o mercado de capitais brasileiro, batizado de Galgo, em alusão ao famoso cão de caça conhecido pela habilidade em detectar movimentos rapidamente. Até agora, foram investidos R$ 40 milhões pelo grupo, sendo R$ 20 milhões só no sistema. A previsão é gastar mais R$ 15 milhões, conta Guerra, também diretor-executivo de serviços financeiros da América Latina do Citibank.
Nessa primeira fase, que levou três anos para ser concluída, a padronização da forma e conteúdo das mensagens deve incluir valor da cota, patrimônio líquido, registro do fundo e composição da carteira. Essa última informação, contudo, só deve estar disponível em setembro. "O sistema aumenta a eficiência, o controle e a segurança do setor", diz Guerra. Isso porque, além da padronização, altera a forma de trabalhar, do manual para um processo automatizado, preciso e com mais informações disponíveis em único ambiente.
Para se ter ideia, um administrador que tem de fechar a cota de um fundo de fundos precisa levantar os dados de todas as carteiras em que o veículo principal aplica. Só que cada uma dessas carteiras segue um método próprio para informar os dados. O Bradesco, para fechar os dados dos fundos que administra, precisa obter 700 cotas externas, conta o gerente responsável pela área comercial e de produtos locais do banco, Fabiano Kosaka. E isso não é "privilégio" do Bradesco, mas de todos os administradores de carteiras.
O grande problema é que esse processo, do jeito que vinha sendo feito, gerava muito retrabalho e, consequentemente, mais custos e riscos operacionais. Com a iniciativa, o provedor da informação alimentará o mercado uma única vez via sistema. Vale ressaltar que os dados terão acesso controlado, apenas para os que receberam uma licença. E toda a transação será cobrada.
Por enquanto, apenas os sócios do Galgo devem adotar o sistema. Mas a expectativa é que até o fim de julho toda a base de fundos já tenha migrado para o novo ambiente. O retorno do investimento para os sócios poderá vir com a transformação do sistema em uma empresa e sua posterior abertura de capital, conta o superintendente do Galgo, Aloísio Corrêa.
Na segunda fase do projeto, que deve ficar pronta em um ano e meio, o sistema também será usado para a liquidação das operações realizadas pelos fundos, como compra de ações e títulos públicos. Nesse processo, o custodiante, após confirmar as transações realizadas pelo gestor, usará o sistema para o pagamento.
"O projeto surgiu para resolver um problema do mercado local, preenchendo uma lacuna que havia na troca de mensagens entre os participantes, mas já nasce conectado com o mundo", diz Guerra. Tudo que foi desenvolvido até aqui segue um padrão internacional para serviços financeiros, cujo debate para atualização foi liderado pelo próprio Brasil, conta.
Tendo o sexto maior mercado de fundos do mundo, com patrimônio de R$ 1,7 trilhão, Guerra afirma que não fazia sentido para o país adotar um sistema apenas local, sem ligação com os outros mercados, nem seguir o atual padrão internacional, conhecido como ISO 15.022, que já está defasado e deve ser atualizado em poucos anos. "Decidimos montar um grupo brasileiro e conseguimos uma cadeira no Comitê de Padronização Internacional para Produtos e Serviços Financeiros para liderar as discussões", diz.
Com isso, o sistema que entra em operação no Brasil já nasce adaptado a vários idiomas e de acordo com a norma mais atual, batizada de ISO 20.022, afirma Corrêa. Os demais países que participam do comitê têm até 2012 para fazer a migração para o novo padrão. "A ISO 15.022 trazia uma padronização, mas era ruim, uma vez que não levava em conta as peculiaridades dos países", acrescenta Guerra. No debate para definir o novo padrão, o Brasil conseguiu emplacar algumas das regras adotadas por aqui, como o registro do fundo acompanhado de informações detalhadas como as que vão no prospecto.
Todo esse investimento tem um propósito, afirma Guerra: alcançar preços competitivos em nível internacional para transformar o Brasil em um importante centro de processamento de fundos e carteiras, como Luxemburgo. Para o investidor final, o ganho será de qualidade e segurança e, no longo prazo, espera-se que isso se transforme em economia de custos.
Fonte: Valor

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