terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Drible no Ibovespa

O ano passado foi ruim para a maioria dos investidores em bolsa por causa de uma empresa: Petrobras. A estatal é parte integrante da maioria das carteiras dos investidores individuais e dos fundos e sua queda, de mais de 20%, derrubou os ganhos e fez o Índice Bovespa encerrar o ano com a alta pífia de 1,04%.
Mas um grupo considerável de fundos de ações conseguiu evitar a maldição da Petrobras e se saiu muito bem em 2010. Em geral, são fundos voltados para empresas de menor porte, as chamadas "small caps", e com patrimônios também limitados, em torno de R$ 100 milhões. Esses fundos ganharam com os setores ligados ao mercado interno. E têm em comum regras mais rígidas de resgate, para permitir estratégias de longo prazo.
Estudo feito pela Economática a pedido do Valor levantou o desempenho dos fundos de ações voltados para pessoas físicas, qualificadas (com mais de R$ 300 mil para investir) ou não, com patrimônio médio em 2010 superior a R$ 10 milhões e com mais de 50 cotistas. De uma lista de 269 fundos, apenas 117 conseguiram bater o rendimento da poupança, de 6,90% em 2010. E 89 carteiras ganharam acima do CDI, de 9,75% no ano. Acima do Ibovespa ficaram 169 carteiras.
Para Einar Rivero, da Economática, o estudo mostra que os gestores vão ter de fazer mais análises e operações mais sofisticadas, como o uso de modelos quantitativos, para ganhar.
A carência para resgates de 90 dias foi o que ajudou o fundo BNY Mellon ARX Long Term a conseguir um rendimento de 54% no ano passado. "Com a restrição de saques, podemos fazer aplicações menos líquidas", diz Bruno Garcia, que divide com os colegas Frederico Saraiva e Rogério Poppe as decisões da carteira. O fundo é voltado para investidores qualificados e tem aplicação mínima de R$ 20 mil.
Por sua estratégia, o tamanho do fundo também é reduzido, em torno de R$ 100 milhões. "E nosso limite é R$ 150 milhões", diz Garcia. Com essa carência, o fundo pode se dar ao luxo de comprar papéis menos líquidos com a tranquilidade de poder vendê-los com calma, sem derrubar os preços.
A grande aposta do fundo começou em 2009, quando os gestores viram que o Brasil ia sair da crise antes e que empresas estavam baratas. "Por isso fazia sentido montar uma carteira com empresas ligadas ao crescimento do país", afirma Garcia. "E tivemos a sorte de encontrar boas empresas em cada setor", lembra. O destaque da carteira foi Hering, em consumo, com ganho de mais de 180%, além de Marcopolo e Iochpe no segmento industrial cujas ações "estavam na lama", diz Garcia. O fundo ganhou também com logística, com OHL, e tecnologia, com Totvs.
No caso do Perfin Foresight, que rendeu 42,96% no ano passado, há uma mescla de visão de longo com curto prazo, explica Ralph Gustavo Rosenberg, gestor de renda variável da Perfin Investimentos. "O Foresight aplica 70% da carteira em outro fundo nosso, o Equity Brazil (que rendeu 31,82% em 2010), cuja estratégia é bem de médio e longo prazo, e os 30% restantes ficam para papéis atrativos no curto prazo ou com perspectivas de eventos, como fusões", afirma.
O fundo Equity Brasil pode se proteger no mercado futuro de Ibovespa, ou ficando vendido (apostando na baixa) em alguma ação, ou usando opções. Já o Foresight não faz proteção, no máximo aumenta seu caixa.
Os dois fundos têm restrições de resgate, o Foresight de 30 dias corridos e o Equity Brasil, de 27 úteis. A aplicação mínima de ambos é R$ 10 mil, mas o Foresight é só para qualificados.
Outro destaque da lista é BC Fundo de Investimento em Cotas (FIC), com 38,96% de ganho no ano passado. Segundo André Ribeiro, sócio gestor da Brasil Capital Investimentos - jovem gestora que tem entre seus sócios um dos herdeiros do Grupo Votorantim, José Eduardo Ermírio de Moraes -, o fundo busca boas empresas. Ao mesmo tempo, tem flexibilidade em procurar proteção no mercado futuro de índice Bovespa, por exemplo. O destaque no ano passado foram empresas de consumo, saúde, educação, infraestrutura e energia - Dufry, Ecorrodovias, Sulamérica Saúde, Kroton e SEB em educação, e Cosan Limited.
O ano passado foi mais de garimpar ações, lembra Sandra Petrovsky, superintendente de Investimentos da Votorantim Asset Management. Foi o que fez o fundo Votorantim Vision, que ganhou 36,72% em 2010. Ele é um típico fundo de "small caps", para investidores qualificados e com aplicação mínima de R$ 25 mil. Nele podem entrar apenas empresas com valor de mercado de até R$ 6 bilhões e pelo menos R$ 1,2 milhão de negociação média diária nos últimos 90 dias. "Pegamos empresas menores e que têm uma liquidez razoável", explica Sandra. O fundo tem 30 dias de carência.
Algumas posições do fundo são antigas, como Hering, comprada há três anos por R$ 4. O papel atingiu R$ 100. "Gostamos do papel, chegamos a ter 20% da carteira e agora temos 10%", diz.
O fundo com a maior perda em 2010 foi o GWI Leverage, uma carteira alavancada, ou seja, que multiplica as altas e baixas dos papéis. Não é por menos que o fundo perdeu 33,98% no ano passado, depois de ganhar 243,96% em 2009.
Na lista das carteiras com prejuízo elevado, a maioria são fundos Petrobras, na faixa de 20%. Ironicamente, grande parte dos maiores e mais populares fundos de ações do mercado são justamente os de Petrobras e de Vale. Mas outros tipos de fundos também sofreram com a estatal. Tirando as carteiras de Petrobras, o que se vê é que casas importantes, como Safra, ficaram no prejuízo. O Opportunity Lógica, um dos mais antigos e maiores fundos de ações ativos do mercado, perdeu 8,91%. Em outros casos, a taxa de administração também aumentou ainda mais as perdas, como os fundos PillaInvest e Alfa, que cobram 8% e 8,5% ao ano, respectivamente, dos investidores.
Fonte: Valor

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