quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O boi é só um detalhe

Enquanto Aracruz, Sadia e Votorantim perdem dinheiro no mercado financeiro, o JBS-Friboi segue caminho inverso - os dez profissionais de sua mesa de operações são responsáveis por cerca de 20% do lucro.
Revista EXAME -Se serviu para alguma coisa, a crise de 2008 acabou por comprovar que falta às empresas a competência para navegar no turbulento oceano das finanças, repleto de derivativos tóxicos e outros venenos. Os casos de SadiaAracruz e Votorantimsão suficientes para demonstrar que mexer com finanças sofisticadas é coisa para financistas - ou, pode-se dizer, nem mesmo para eles. Diante disso, um caso chama a atenção justamente por ser uma incrível exceção. Em setembro, a mesa de operações financeiras do JBS-Friboi, maior frigorífico do mundo, espantou o mercado ao anunciar que obtivera um lucro de 722 milhões de dólares em suas operações de câmbio. Isso na mesma semana em que Sadia e Aracruz, demitiram os executivos apontados como responsáveis por afundá-las em prejuízos oriundos de apostas desastradas na variação do dólar. Claro, apostas são apostas, e a do Friboi poderia ser apenas um lance de sorte. Esse, porém, não parece ser o caso. Parte do ganho se refere a ajustes diários de operações com derivativos dos recursos disponíveis para aquisições no exterior. Segundo EXAME apurou, o time de dez profissionais da mesa de operações do Friboi será responsável por aproximadamente 20% do lucro total do grupo em 2008. Os outros 54 990 funcionários responderão pelos 80% restantes.
Os responsáveis por esse feito são executivos que ainda não chegaram aos 40 anos. O chefe da mesa de operações do Friboi é Emerson Loureiro, de 37 anos, que deixou o BankBoston há seis anos para se integrar à equipe. A mesa, uma espécie de treasury center ("centro de tesouraria", em inglês), funciona como uma estrutura à parte dos outros departamentos do grupo, principalmente no que se refere à remuneração por desempenho. Enquanto executivos de outras áreas recebem bônus de até 12 salários ao ano, na mesa a coisa é bem diferente - num bom ano, como 2008, os funcionários podem receber até 40 salários de bonificação. Criada em 2003, a mesa é responsável pela gestão dos riscos financeiros da companhia - que incluem oscilação de moedas, idas e vindas nas taxas de juro e exposição aos preços de commodities relacionadas ao negócio. Além de atuar no mercado futuro de boi, a mesa faz operações que nada têm a ver com o negócio, como compra e venda de contratos de soja e petróleo. Para prevenir prejuízos como os que acometeram Aracruz. e Sadia, os funcionários da mesa do Friboi são expressamente proibidos de se aventurar no terreno das operações alavancadas. O limite de perda por operador é de cerca de 20% do patrimônio negociado por dia, segundo fontes ligadas à mesa. Se eles chegam próximo disso, têm de zerar as posições. Mesmo com essas restrições, a mesa do JBS-Friboi movimenta cerca de 5 bilhões de reais por mês e é responsável por pelo menos 20% dos contratos futuros de boi da BM&F.

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