quarta-feira, 7 de abril de 2010

Petrobras: para analistas, desempenho abaixo do Ibovespa é temporário


SÃO PAULO – Passados seis meses da notícia oficial de capitalização da Petrobras (PETR3PETR4), a incerteza permanece como a principal palavra para definir a operação.
Enquanto os quatro projetos de lei envolvendo tanto a capitalização da petrolífera quanto todas as questões relativas a exploração do pré-sal não avançam no Congresso Nacional, o mercado reage com cautela nas negociações com as ações da Petrobras.
Prova disso são os números de valorização acumulados ao longo deste ano e nos últimos doze meses, que evidenciam a performance de PETR3 e PETR4 abaixo do Ibovespa.

Desempenho

7 dias30 dias2010365 dias
Ibovespa+0,54%+3,18%+3,16%+61,45%
PETR3+1,54+0,85%-3,22%+9,80%
PETR4+1,24%+0,36%-2,34%+23,54%
Fonte: BM&F Bovespa

“Não é só uma capitalização pura e simples. É um volume muito grande de recursos que está sendo estimado. Considerando o valor estimado de capitalização entre os minoritários, como o diretor de Relações com Investidores comentou, seria uma capitalização total de US$ 50 bilhões. É uma capitalização sem precedentes na história. É só isso e ao mesmo tempo é tudo isso”, comenta o analista Vitor Figueiredo, da Planner.
Segundo Figueiredo, enquanto as questões relativas ao levantamento de recursos para investimentos por parte da Petrobras não tomarem uma direção clara, os papéis da petrolífera devem continuar sendo pressionados.
“Em um curto prazo, eu esperaria até definir essas questões principalmente sobre a valoração dos 5 bilhões de barris, e depois me posicionar sobre o investimento em Petrobras. Acho que cautela é o nome do jogo agora”, fala.
Para o analista da Planner, à medida que ficam mais claras as informações, principalmente em relação ao volume e o timing, a tendência é de que a Petrobras ganhe um novo fôlego. "Até serem definidas essas questões, o papel vai continuar sofrendo”, fala.





Momento: Curto x Longo
Ao mesmo tempo em que Vitor Figueiredo destaca que a curto prazo as ações da Petrobras pedem atenção e cautela, a longo prazo ele concorda com Nelson Rodrigues Matos, analista do Bando do Brasil, sobre o potencial que a gigante do petróleo tem.

“Pensando em termos de longo prazo, a Petrobras vai ser até 2020 o dobro do que é hoje e a escalada de produção vai ser sempre crescente. Ela tem uma curva de produção futura, com poços já determinados, localizados, que não tem parâmetros em outras companhias de capital aberto. Ela tem reserva para poder crescer. No setor de petróleo você tem que ter reservas para poder crescer”, explica Rodrigues, do BB.
Ele afirma que esse movimento menos intenso visto nos papéis da Petrobras também é natural entre as empresas que estão com ofertas em vista. Ele explica que a pressão deve permanecer até que as regras sejam esclarecidas e os investidores consigam visualizar no que exatamente estão apostando.
“Com o potencial que ela tem a recomendação é de compra. O problema é que no curto prazo ela vai sofrer as incertezas do mercado. Mas a recomendação é de compra”, reitera.
Por isso, o analista destaca que deste janeiro a empresa deixou a carteira de recomendações mensal do Banco do Brasil, dando lugar a um novo player: a OGX (OGXP3). "Uma das razões é que a OGX está no mesmo segmento de Petrobras, embora não seja operacional ainda. Mas, para quem investe em petróleo, energia, nesse segmento,  agora há outra opção de investimento, outro veículo que é a OGX, que está mais ou menos entregando tudo o que prometeu", explica.
 Porém, o analista destaca que tirar a Petrobras da carteira de top picks não significa que a recomendação deixa de ser de compra. "Acreditamos muito no potencial da empresa a longo prazo. Ela só está passando por um momento difícil agora", falou. 
Também apostando no “outperform” estão os analistas da Itaú Corretora (Paula Kovarsky, Diego Mendes e Giovana Araújo). Para incorporar novas premissas em relação à projeção de resultados da empresa em 2010 (vendas mais fortes e melhor controle de custos), eles elevaram o preço-alvo para as ações PETR4 de R$ 53,20 para R$ 53,70 para o final do ano.


Cenário nebuloso
Nelson Rodrigues, do Banco do Brasi,l explica que o mercado vem desde o ano passado reagindo às incertezas da companhia, primeiramente com a expectativa sobre o que o governo iria apresentar ao Congresso e depois sobre as indefinições relativas ao preço da reserva de 5 bilhões de barris a ser avaliada.

“Quanto maior a operação, mais provável é a diluição dos minoritários porque a União vai entrar com os barris de petróleo e o minoritário com o dinheiro. Pode ser que essa diferença econômica pese para os minoritários. Quanto maior for a operação maior a chance de diluir o capital’, adiciona Rodrigues às discussões.
O analista também comenta que a pouca importância dada pelo legislativo em relação ao pedido de urgência do governo para a aprovação dos projetos de lei também tem contribuído para o menor desempenho dos papéis da Petrobras.
“O processo legislativo está atrasado. Toda aquela urgência do governo para aprovar os projetos não está valendo. E agora, a Petrobras voltou falar em um plano B, com o presidente [José Sergio] Gabrielli falando da necessidade de capitalizar esse ano e o diretor de RI [Relação com Investidores] falando que Plano B seria vender para os minoritários um valor entre US$ 15 bilhões a US$ 25 bilhões”, conta.
Na opinião de Rodrigues, do BB, até mesmo a possibilidade de um plano B traz mais incertezas aos investidores à medida que nada é dado como certeza e os próprios dirigentes da empresa o apresentam apenas como uma alternativa.
“Ninguém sabe se vai o plano B dar certo porque o governo já mostrou sua intenção de aumentar sua participação na empresa para não dar tanta participação a investidores estrangeiros. Mas se você fizer apenas uma capitalização entre minoritários você vai diluir o próprio governo”, aponta o analista do Banco do Brasil.
Rodrigues explica que isso aconteceria porque uma oferta entre minoritários faria com que apenas ações preferenciais fossem emitidas, o que diluiria a fatia em posse do governo em termos de capital total.
“Eu tenho dúvidas se essa proposta passaria pelos acionistas ordinários porque diluiria a participação do governo. Depois que o RI falou isso, o próprio presidente falou que essa é apenas uma opção à capitalização e que ele está confiante na proposta que está no Senado”, completa.

Uma ideia
Em meio a todas essas pendências sobre a capitalização, os analistas da corretora do grupo Itaú já apostam em uma ideia para o levantamento de capital da Petrobras.

“Reforçamos nossa perspectiva de que a avaliação dos 5 bilhões de boe [barris de óleo equivalente] será mais justa do que aquilo que o mercado está precificando, e que, se nosso palpite estiver correto, o mercado ficará à vontade com a tese de investimento no final das contas”, afirmam.
Segundo suas projeções a estrutura da capitalização compreenderá: os 5 bilhões de barris avaliados em um intervalo entre US$ 4-5 por boe, incluindo pagamento de participação especial; o aumento de capital proposto em US$ 62-78 bilhões; subscrição, pelo governo, de US$ 20-25 bilhões, coincidindo com o orçamento para adquirir os 5 bilhões de boe e subscrição, pelas minorias, de US$ 10-20 bilhões.
Essas estimativas permitiram que a subscrição efetiva ficaria em torno de US$ 30-45 bilhões, sendo que as ações não subscritas seriam canceladas. Além disso, eles acreditam que o aumento de capital respeitaria o desdobramento atual das ações ON e PN, sendo que ambos os tipos de papéis seriam emitidos.
“Os preços seriam equivalentes aos atuais para fins de subscrição”, complementa a equipe do Itaú. Contudo, todo esse processo, em sua visão, traria uma diluição para os acionistas minoritários da ordem de 14% a 21%.
“Em consequência disso, os múltiplos de P/L [preço por lucro] se expandiriam substancialmente”, destaca o time de research. De fato, em suas análises, o atual múltiplo P/L de 10,7x passaria a um intervalo estimado de 12,6x a 14,1x, o que tornaria a ação cara.

Cronograma
Contudo, apesar do otimismo em torno do plano a ser ainda definido, os analistas do Itaú afirmam que o atraso no cronograma dos projetos no Congresso brasileiro pode ser prejudicial ao desempenho da empresa este ano na comparação com seus pares internacionais.

“Enquanto a maior parte das companhias internacionais de petróleo deverá desfrutar de expansões das margens em função dos preços mais elevados do petróleo, o aumento possível nos preços desse produto pela Petrobras é bastante limitado, em nossa opinião”, avaliam.
Eles falam que mesmo que o preço do barril da commodity ultrapasse US$ 75,00, há pouco espaço para que as ações da Petrobras se beneficiem da elevação do produto, uma vez que o governo não deve autorizar repasse integral desse valor. “Pelo menos não às vésperas das eleições”, concluem.

Eleições
É justamente o fator eleitoral que deve impedir que o votação dos projetos de capitalização da Petrobras se estendam ao segundo semestre, na visão de Vitor Figueiredo, da Planner.

“O governo, leia-se Petrobras, está bastante confiante que vai ser votado e ela vai poder fazer essa capitalização esse ano. Mas, na minha visão, o prazo está um pouco apertado, já que o governo estava trabalhando com a ideia de fazer no primeiro semestre ainda”, comenta o analista.
Para ele, há muitas dúvidas se o governo estaria disposto a tocar duas agendas importantes a partir de julho: as eleições e a capitalização da petrolífera.
“Depois de os projetos serem aprovados no Congresso, ainda precisam ir para a sanção do presidente e depois a oferta ser colocada na rua, com roadshows no exterior, como previstos, que demoram entre 30 a 90 dias. O problema é que em agosto tem férias nos Estados Unidos, então isso teria que acontecer até julho”, fala Figueiredo.
Com isso, o analista da Planner acha que a agenda está apertada ainda mais porque a votação está pendente no Senado, casa que pode modificar alguns termos, o que traria novamente à avaliação da Câmara dos Deputados na segunda rodada.

Recomendação
CorretoraPETR3  preço-justo*  PETR4  preço-justo*  
Itaú Corretora--outperformR$ 53,70
Banco do Brasil compraR$ 58,50compraR$ 52,40
Link InvestimentosoutperformR$ 55,50outperformR$ 48,20
PlannercompraR$ 51,80compraR$ 51,80
Gradual Corretora--compraR$ 48,20 

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