segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fusões e aquisições movimentam setor de TI


    Ryan Flinn, Serena Saitto e Tim Mullaney, Bloomberg, de San Francisco e Nova York
    05/04/2010
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Divulgação
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Mitchell, da Scale Venture Partners: bom momento para companhias iniciantes
As companhias do Vale do Silício com intenção de botar seu dinheiro para trabalhar poderão liderar uma onda de fusões este ano, segundo andam afirmando banqueiros e capitalistas de risco.
As empresas estão ansiosas por fazer aquisições porque muitas delas reduziram seus orçamentos de pesquisa e desenvolvimento, afirma Robert Ackerman, fundador e diretor da Allegis Capital de Palo Alto, Califórnia. Isso significa que as companhias não estão conseguindo recorrer à própria criatividade para alimentar o crescimento. Mais empresas estão dependendo das aquisições para encontrarem seus próximos produtos ou serviços, diz ele.
"O estoque de produtos está limitado, mas o mercado continua crescendo", disse Ackerman. "Em todo lugar que se vê uma arrancada de inovação pela frente, há um déficit de produtos para as companhias, e elas vão tentar preencher isso."
O Google, baseado em Mountain View, na Califórnia, é no momento uma das companhias maior apetite por aquisições, tendo comprado pelo menos cinco empresas em 2010. A companhia fechou no mês passado a compra da Picnik, que trabalha com ferramentas de edição de fotografias. A aquisição da DocVerse proporcionou a ela sistemas que permitem às pessoas compartilhar documentos pela internet. O valor desses negócios não foi revelado.
O maior negócio individual realizado na Califórnia este ano foi a compra pela Shiseidoda Bare Escentuals de San Francisco por cerca de US$ 1,7 bilhão.
O volume de negócios realizados na Califórnia caiu depois de 2007, quando mais de 2.670 transações no total de US$ 254 bilhões foram efetuadas. Neste ano, houve até agora cerca de 530 negócios avaliados em US$ 16,7 bilhões. É num número maior que o dos três primeiros meses do ano passado, embora o valor tenha sido maior em 2009, cerca de US$ 30 bilhões.
Os alvos locais de aquisição incluem a McAfee, de Santa Clara, a Tibco Software, de Palo Alto, e a ArcSight, de Cupertino, segundo afirma Brent Thill, analista do UBS em San Francisco. A McAfee e a ArcSight, que criam programas para a proteção de dados, poderiam envolver as maiores somas por causa do aumento das ameaças à segurança na internet. Os sistemas da Tibco ajudam programas de todos os tipos a compartilharem informações.
Goldman Sachs também cita a Salesforce.com, de San Francisco, e a VMware, de Palo Alto, como possibilidades - embora essas companhias não estejam entre os alvos mais prováveis, segundo o Goldman. A Salesforce.com fabrica softwares de relacionamento on-line com clientes, enquanto a VMware vende os chamados programas de virtualização, que ajudam os computadores a rodarem mais de um sistema operacional. Representantes de todos os possíveis alvos mencionados recusaram-se a comentar o assunto.
No norte da Califórnia, houve 45 negócios envolvendo companhias iniciantes apoiadas por capital de risco nos primeiros três meses de 2010, segundo a National Venture Capital Association. Este foi o maior número trimestral registrado em pelo menos cinco anos. Mais de 50 companhias da Califórnia possuem pelo menos US$ 1 bilhão em caixa e equivalentes, que elas poderiam usar para aquisições. Segundo dados da Bloomberg, elas são lideradas por um trio da área da Baía de San Francisco: o banco Wells Fargo & Co., de San Francisco, com US$ 68 bilhões; A Cisco Systems, de San Jose, com US$ 39,6 bilhões; e a Apple, de Cupertino, com US$ 24,8 bilhões.
"Há muito caixa nos balanços, de modo que eu acho que o momento é excelente para as companhias iniciantes", diz Kate Mitchell, diretora de operações da Scale Venture Partners, de Foster City, na Califórnia.
O valor dos negócios na Califórnia superou os US$ 378,1 bilhões em 2000, durante a bolha da internet, quando houve mais de 2,2 mil transações. Foi preciso cinco anos para que o número de negócios superasse esse pico anterior, e o volume em dólar nunca chegou perto de repetir o momento de glória da era pontocom.
A última recessão foi a pior desde a Grande Depressão, mas na verdade ela não foi tão devastadora para os negócios na Califórnia quanto o colapso da bolha pontocom. Depois do acesso fácil ao capital de risco e aos recursos obtidos com aberturas de capital, no fim dos anos 90 e 2000, o dinheiro secou. A indústria das fusões e aquisições atingiu o fundo do poço em 2000, quando apenas 1.505 transações, no valor de US$ 95,3 bilhões, foram realizadas.
Os negócios melhoraram aos poucos nos quatro anos seguintes, voltando a atingir um pico em 2006 e começo de 2007. No primeiro trimestre de 2007, foram realizados 665 negócios ao valor de US$ 59,8 bilhões. Isso é mais que o triplo do número de negócios realizados no trimestre passado.
Tor Braham, diretor de fusões e aquisições do Deutsche Bank para o setor de tecnologia em San Francisco, diz que as fusões deverão aumentar novamente por dois motivos. "As firmas de 'private equity' levantaram muito dinheiro antes da crise financeira e há pressões para que elas gastem esse dinheiro antes do vencimento dos compromissos", diz ele. Além disso, "os vendedores querem fazer negócio este ano, antes do esperado aumento dos impostos sobre ganhos de capital".
As firmas de private equity captaram US$ 538 bilhões em 2006 e US$ 587 bilhões em 2007, pouco antes da recessão, segundo o Private Equity Council de Washington. Enquanto isso, os impostos sobre ganhos de capital poderão passar dos 20% para pessoas que ganham mais de US$ 250 mil, sob as propostas orçamentárias apresentadas ao Congresso americano.
No primeiro trimestre, o Deutsche Bank aconselhou a Techwell na aquisição da IntersilCorp. por US$ 370 milhões. O banco também trabalhou com a Nimsoft em sua aquisição pela CA por US$ 350 milhões, e com a Francisco Partners na venda da Numonyx para aMicro Technology por cerca de US$ 1,3 bilhão.
Mesmo com a retomada das fusões, os níveis registrados em 2007 não deverão ser alcançados antes do ano que vem, afirma Braham. "A atividade de fusões e aquisições no setor de tecnologia esteve muito pacata no primeiro trimestre", diz ele.
Matt Murphy, sócio da Kleiner Perkins Caulfield & Byers, de Menlo Park, está mais otimista. O número de aquisições deste ano deverá ficar próximo do nível de 2005, aposta ele. "Parece que há uma demanda reprimida."
A área de tecnologia móvel é uma em que as grandes empresas querem crescer, o que levará a mais aquisições, afirma Murphy. "Definitivamente as fusões e aquisições estão reagindo", diz ele. "Será um ano excelente." (Tradução de Mário Zamarian)

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