quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Private equity volta à ebulição

O banco de capital francês BNP Paribas resolveu se associar à gestora Darby para atuar no mercado brasileiro de private equity, que pressupõe a compra de participações em empresas de capital fechado para depois tentar vendê-las com lucro. O anúncio da parceria, feito em entrevista exclusiva ao Valor, acontece um mês depois de oBradesco ter se unido ao BES para se lançar pela primeira vez na atividade de gestor desse tipo de fundo no país. A Rio Bravo se prepara para lançar, no início de 2010, um novo fundo no mercado interno. As iniciativas sinalizam claramente que a atividade está iniciando nova fase de ebulição.

Para alguns investidores, já há tantos recursos disponíveis captados no Brasil e no exterior que os preços das empresas estão ficando caros, e as oportunidades, cada vez menores. A tendência de fundos em dólar estabelecidos no exterior investirem no mercado interno, que caracterizava a atividade até hoje, está dando lugar a fundos em reais, usando a figura dos fundos de investimento em participação (FIPs), diz o presidente da Darby no Brasil, Fernando Gentil.

Além das perspectivas de valorização do real no longo prazo, a tendência de queda nas taxas de juros Selic estimula os investidores a buscarem alternativas mais rentáveis de aplicação. As novas regras para os fundos de pensão, que permitem o investimento de até 20% de seu patrimônio em FIPs, trazem ainda mais otimismo para gestores e distribuidores. Os fundos de pensão têm patrimônio líquido de R$ 450 bilhões. Mas, hoje, os maiores deles investem 2% em FIPs, segundo Luiz Eugênio Junqueira Figueiredo, presidente da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital). As regras anteriores para as fundações não especificavam o setor de private equity, que ficava incluído na categoria de "renda variável".

"O cenário de queda dos juros, crescimento mais estável do país e busca de diversificação dos fundos de previdência abre muitas oportunidades", diz Marcelo Giufrida, executivo responsável pela gestora do BNP Paribas no Brasil e presidente da Anbima, que reúne os agentes do mercado de capitais.

Luiz Sorge, diretor da gestora do BNP, acredita que também os investidores pessoa física do "private banking" e mesmo os investidores do que ele chamou de varejo qualificado poderão vir a investir uma parcela de recursos no segmento. "É uma cultura que precisa ser criada, mas os PGBLs e VGBLs da vida podem investir cada vez mais em participação em empresas", afirma. Segundo ele, o investidor externo também tem mostrado interesse nas empresas do Brasil.

Gentil lembra que um fundo de private equity pode entrar e sair de uma empresa de uma hora para outra, aproveitando oportunidades, mas avisa que o investidor tem um prazo de resgate de longo prazo, geralmente de dez anos. "A possibilidade de saída dos investimentos não apenas por meio de aquisições, mas também na bolsa, dá nova injeção de ânimo ao segmento", avalia Gentil, que vê oportunidades no setor de varejo, bens de consumo, imobiliário e educação, que são fragmentados e podem ter importante consolidação. "O grande tema é o crescimento do mercado doméstico", afirma.

"Desde agosto já deu para sentir uma mudança de postura dos aplicadores, que voltaram a procurar oportunidades nessa área", diz Paulo Silvestri, diretor de private equity da Rio Bravo.

O fundo número 3 do Pátria ainda tem US$ 550 milhões para investir, informa Alexandre Saigh, sócio. Ele diz que o total do fundo é de US$ 700 milhões, dos quais cerca de US$ 200 milhões foram captados no mercado interno, em reais, ainda no primeiro semestre de 2008. "São clientes de private banking que investem conosco."

Nesta onda de emissões públicas iniciais de ações do segundo semestre, o Pátria e oVotorantim Novos Negócios venderam parcela da Tivit. O Pátria aproveitou a alta na bolsa e conseguiu sair também de outro investimento: a participação de 2,5% na DASA, que adquiriu no mercado no final do ano passado. O Advent, que comprou 32% daCetip por R$ 375 milhões em maio, viu sua fatia (parte vendida) alcançar R$ 881,4 milhões com a abertura de capital, um retorno de 148% em cerca de seis meses. OTarpon prepara-se para vender participação na Direcional Engenharia.

A necessidade de investimentos do país em infraestrutura para a Copa do Mundo e Olimpíadas também ajuda a impulsionar os negócios, abrindo espaço para fundos específicos. O Darby tem um fundo de R$ 400 milhões em parceria com a Stratus só para o setor de infraestrutura.

Neste ano, até setembro, o patrimônio líquido dos fundos de investimento em participações cresceu 31,64%, totalizando um volume de R$ 33 bilhões, com captação de R$ 3,8 bilhões. No ano passado, no mesmo período, a captação havia sido de R$ 17 bilhões, de acordo com a Anbima. É importante notar que o FIP goza de benefícios fiscais e nem todo FIP é fundo de private equity. Para o investidor externo, o FIP é isento de Imposto de Renda. Para o local, estruturas que misturam Fundos de Investimento em Cotas (FICs) com FIPs podem reduzir e até zerar o imposto de renda pago. O governo de Cingapura, por exemplo, aplica reservas no Brasil por meio de FIPs.

"Apesar de fundos de participação em empresas serem aplicação de longo prazo, os investidores se retraíram diante da crise", diz Figueiredo, da Abvcap. "A expectativa é que aos poucos retornem."

Em junho, o sul-africano Standard Bank contratou Marcelo Di Lorenzo para cuidar de fundo de private equity de US$ 250 milhões, cujo foco será empresas de logística, produtoras de bens manufaturados de consumo, de distribuição e serviços, além dos setores de saúde, educação e construção civil.

Fonte: Valor Online

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