terça-feira, 27 de outubro de 2009

Com investida em negociação de ativos, Cetip enfrenta BM&F

A Cetip estreia amanhã na bolsa de valores com a proposta de deixar de ser um mero "cartório financeiro" que faz o registro e a custódia de títulos de renda fixa e se lançar como plataforma de negociação de ativos e derivativos. Com esse novo posicionamento estratégico, tudo indica que se colocará como concorrente da BM&FBovespa, que vem avançando recentemente nesses segmentos de negócios. A perspectiva de acrescentar competição a esses mercados agrada o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Desde maio, quando o fundo de participações em empresas Advent comprou 31,93% da Cetip, a companhia tem sinalizado que pretende turbinar seus negócios. Antes do Advent, a própria BM&F Bovespa chegou a negociar a compra da Cetip, o que deixa clara a tendência de convergência dos negócios de ambas.

Foto Destaque

A concorrência entre BM&FBovespa e Cetip se dá em alguns mercados. Nos títulos públicos, a Cetip está em desvantagem para a BM&F e o Selic. Já nas debêntures e nos derivativos de balcão, a vantagem é da Cetip, que tem como adversário a BM&FBovespa.

Hoje, a custódia e o registro são sua atividade principal, segmento na qual é praticamente uma monopolista. Responde por 96% da custódia de títulos de dívida privados (os públicos integram o sistema Selic) e por 78% do mercado de registro de derivativos de balcão. Esses dois negócios, somados às mensalidades pagas pelas instituições financeiras para uso do sistema, representam 75% da sua receita, que no primeiro semestre foi de R$ 99 milhões. A BM&FBovespa faturou no mesmo período R$ 695 milhões.

O processamento das chamadas TEDs (Transferência Eletrônica Disponível), em contrato fechado com a Câmara Interbancária de Pagamentos, agrega outros 11% da receita da empresa. E as negociações de ativos, feitas pela plataforma CetipNET, equivalem hoje a 12% da receita. Por isso, alguns agentes do mercado veem a Cetip como uma espécie de cartório.

Para reverter essa imagem, a Cetip aposta em alguns pilares. Um deles é o próprio crescimento do mercado de títulos de dívida privada e de derivativos de balcão. Segundo dados da consultoria Oliver Wyman, divulgados no prospecto da oferta da Cetip, os volumes de dívida corporativa e de negociações de derivativos em relação ao Produto Interno Bruto brasileiro ainda é baixo na comparação com outros mercados emergentes.

Ao mesmo tempo, o balcão organizado pretende lançar novos produtos, como o registro de diferentes derivativos agrícolas, além de certificar as cédulas de crédito bancário, título recém-autorizado pelo governo para permitir a captação de bancos.

Entretanto, é por meio da melhoria da sua plataforma de negociação que a Cetip espera obter o crescimento mais expressivo. Isso poderá se dar com a integração com outras empresas do mundo. É um caminho que já vem sendo trilhado pela BM&FBovespa, que ganhou como sócio em 2007 o CME Group, de Chicago, a maior bolsa de derivativos do mundo. Isso permitiu que os investidores tanto daqui quanto do exterior pudessem negociar derivativos de ambas as bolsas. A bolsa também está em tratativas para fechar uma parceria com a Nasdaq OMX Group.

Outro movimento que poderia incrementar sua receita seria a redução do valor mínimo das TEDs, que hoje está em R$ 5 mil. Se o piso caísse a R$ 1 mil, como defendem alguns bancos e a própria Cetip, estima-se que a empresa ganharia 100 milhões de operações por dia.

Para colocar seus projetos de pé, a Cetip não captará recursos em uma oferta primária de ações em bolsa. A avaliação é que os R$ 214 milhões que estão em caixa são suficientes.

A operação servirá apenas para permitir a saída parcial de dois dos três principais acionistas: o fundo de investimento em participações Advent, cuja fatia cairá de 31,93% para 18,07% do seu capital, e o banco Bradesco, que reduzirá a participação de 6,79% para 4,43%. O Itaú Unibanco, segundo maior acionista após a fusão dos dois bancos, permanece com uma fatia inalterada, de 10,06%.

Por enquanto, são os acionistas vendedores os maiores beneficiados dos novos planos de negócios da Cetip, principalmente o Advent. Em maio, o fundo comprou 31,93% de participação na empresa por R$ 375 milhões. O preço equivaleu a R$ 5,25 por ação. Agora, os investidores adquiriram cada papel por R$ 13.

Para alguns investidores, a mudança de preço em um espaço de tempo tão pequeno levanta questionamentos, como: o que mudou na Cetip em cinco meses? Nas apresentações para investidores por conta da oferta de ações, a Cetip valorizou seu plano de negócios para concorrer com a BM&FBovespa, sinalizando, inclusive, a intenção de fazer parceria com uma bolsa estrangeira.

Fonte: Valor Online

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