domingo, 10 de maio de 2009

Oferta menor e especulação puxam os preços

Quebra de 20% nas safras de soja e de milho da América do Sul desencadeou a valorização
recente valorização das commodities agrícolas, como soja, milho, açúcar e algodão é, segundo economistas, fruto da combinação de oferta menor dos produtos com movimentos especulativos.

No caso da dobradinha soja/milho, que responde por 45% da receita agrícola brasileira, a quebra de 20% da safra da América do Sul, que inclui Brasil e Argentina, e o atraso no plantio da safra dos Estados Unidos explicam parte da elevação de preços, diz o consultor da Safras&Mercados, Paulo Molinari.

"O que mais pesou foi a quebra na safra da América do Sul", diz Molinari. Mas ele aponta o novo nível do preço do petróleo, que beira US$ 60 o barril, como um fator que impulsiona a produção de biocombustíveis e alavanca os preços dos grãos, como o milho , que é usado nos EUA para produzir o álcool. A soja, por sua vez, que disputa área com milho nas lavouras americanas, pode perder espaço para o concorrente. Isso puxa os preços da soja no mercado internacional, diante da perspectiva de safra menor.

André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult, acrescenta outro ingrediente ao cenário de preços em alta. Segundo ele, a percepção cada vez mais nítida de que os países em desenvolvimento, como China e Índia, por exemplo, não vão apresentar queda no ritmo de atividade tão forte quanto os desenvolvidos reforça tendência de alta dos preços dos produtos agrícolas.

Já o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, chama a atenção para uma nova bolha de preços de commodities que se está formando no mercado, porém de menor proporção comparada com a do primeiro semestre de 2008.

O grande volume de recursos que o governo dos EUA injetou na economia americana para salvá-la da crise ampliou a quantidade de dinheiro em circulação, observa Silveira. Diante da baixa rentabilidade das aplicações financeiras, hoje com juros reais negativos, e da perspectiva de desvalorização do dólar em relação às outras moedas, o capital migra para as commodities. "Essa alta de preços das commodities não se explica fundamentalmente por questões setoriais de oferta e demanda", diz o economista. Ele ressalta que, pela lógica da recessão global, os preços deveriam desabar, inclusive os das commodities agrícolas, mas isso não está ocorrendo.

"Há muitos fatores especulativos hoje nesse mercado", concorda a economista Rosemeire Santos, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Ela diz que o fato de o preço futuro da soja ser menor que o atual pode sinalizar especulação. 

Além das controvérsias sobre a origem da alta dos preços, especialistas do setor têm dúvidas sobre o impacto do aumento da receita no uso de maior de tecnologia na próxima safra. "O fator limitante ainda é o crédito", diz Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos. 

Kátia Abreu, presidente da CNA, apresenta na quinta-feira ao Ministério da Agricultura um plano de safra que prevê que serão necessários R$ 150 bilhões para financiar o próximo plantio.


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