sexta-feira, 8 de maio de 2009

Comentário Semanal: Ibovespa acumula 38,5% em suas nove semanas de alta

Por: Juliana Pall Farias
08/05/09 - 19h30
InfoMoney

SÃO PAULO - Aqueles que duvidavam do fôlego da renda variável após oito semanas seguidas de valorização da bolsa brasileira e teste de estresse e relatório de emprego nos EUA pela frente se surpreenderam positivamente.

Em uma estratégia elogiada por analistas de mercado, o Tesouro norte-americano trouxe ao público na quinta-feira (7) o resultado dos testes aos quais as 19 maiores instituições financeiras daquele país foram submetidas, com números amplamente em linha com as informações vazadas na mídia internacional. Um dia depois, o Employment Report mostraria perda de postos de trabalho na maioreconomia do mundo menor do que as deterioradas projeções.

Mas não ficou por aí. Enquanto a temporada de resultados corporativos trazia balanços de peso, porém sem convergência - uns acima, outros abaixo das expectativas -, a China viria resolver a questão. Indicador do setor industrial acima das projeções e sinalizando aceleração da atividade e declaração de membro do governo com bom prognóstico do desempenho econômico do gigante asiático selaram mais uma semana de ganhos às bolsas internacionais.

A euforia trouxe forte volume de recurso estrangeiro à BM&F Bovespa, com impacto também no mercado cambial. Haja vista que o dólar acumulou entre 4 e 8 de maio forte desvalorização de 5,27%, atingindo assim sua mínima desde 3 de outubro.

De estresse, quase nada
Os mercados globais começaram a primeira semana de maio com o pé direito. Logo pela manhã a notícia de que o PMI (Purchasing Managers Index) - indicador que mede o desempenho da indústria chinesa - marcara 50,1 pontos em sua medição de abril engrossou o coro dos que acreditam que o pior da crise financeira ficou para trás e a economia mundial caminha rumo à recuperação. Neste cenário, o mercado expressava confiança frente aos números que seriam revelados com o tão aguardado teste de estresse dos EUA.

Enquanto o principal evento da esfera corporativa não chegava, os investidores olhavam para uma carregada agenda de resultados corporativos, que tinha números de gigantes como General Motors, UBS, AIG, Adidas, Gmac, BMW, BNP Paribas, Cisco Systems e Wall Disney. Enquanto no âmbito corporativo as referências foram díspares, tendência positiva prevaleceu na agenda de indicadores econômicos.

Além do já citado desempenho da atividade industrial chinesa, nos EUA o número de contratos de compra e venda de casas usadas teve avanço de 3,2% em março, o setor de serviços teve desempenho melhor que o previsto no mês passado, o Initial Claims trouxe número de pedidos de auxílio desemprego abaixo do esperado e o ADP Employment apresentou perda menor que a projetada de postos de trabalho no setor privado.

Para consolidar o prognóstico favorável à economia, o presidente do Federal Reserve afirmou em discurso que a economia norte-americana está se estabilizando e irá iniciar uma retomada ainda este ano, embora gradual. O Banco Central chinês, por sua vez, traçou prognóstico favorável à segunda maior economia asiática. Por fim, Timothy Geithner adiantava o que viria no "stress test" ao afirmar que nenhum dos 19 bancos submetidos ao teste estava sob risco de insolvência.

Finalmente, na quinta-feira, após o fechamento das bolsas de Wall Street, viria a público o resultado dos testes de estresse. Dentro do que foi publicado pela mídia internacional ao longo da semana - com amplas citações a "fontes próximas ao caso" - em nada os dados surpreenderam. Dez das 19 instituições submetidas às simulações precisarão levantar, no total, US$ 74,6 bilhões em até seis meses. O Bank of America mostra-se na situação mais complicada, necessitando de US$ 33,9 bilhões.

Com números dentro do que foi especulado e uma estratégia de divulgação elogiada, o resultado, que outrora gerava apreensão nas bolsas globais, teve repercussão positiva. Para selar a semana, o Employment Report de abril apresentou perda de 539 mil postos de trabalho nos EUA, dado melhor do que as projeções de corte de 600 mil vagas em abril. A taxa de desemprego, por sua vez, foi para 8,9%. Abril marcou o décimo sexto mês consecutivo de perda de postos de emprego na maior economia do mundo.

Enquanto isso, no Brasil
Não bastasse todo o agito da cena internacional, os mercados brasileiros repercutiam ainda todas as suas particularidades. Seja na agenda econômica, seja na esfera corporativa, não faltaram referências aos negócios.

Dentro da temporada de resultados corporativos com base no primeiro trimestre do ano, blue chips como Vale, Gerdau, Bradesco, Itaú Unibanco e TAM reportaram seus desempenhos. A mineradora e a siderúrgica tiveram números avaliados como fracos pelos analistas de mercado, ao contrário da empresa aérea, que assistiu a forte rali de suas ações após a publicação de seu resultado trimestral. A extensa relação de empresas que reportaram seus números nesta semana conta ainda com Suzano Papel e Celulose, Profarma, Cia Hering, M. Dias Branco, ABnote, Cremer, Klabin, Log-In, Kroton, TIM, AmBev, Contax, Braskem, Banco Daycoval, Tractebel, Paraná Banco, CCR, Vivo, Lojas Americanas, B2W, Br Malls, Iguatemi, BrasilAgro e Randon.

O Tesouro Nacional voltou a realizar uma emissão de títulos públicos brasileiros no exterior. Com a operação, foram captados US$ 750 milhões nos mercados europeu e norte-americano. Os títulos emitidos são denominados Global 2019 N, possuindo vencimento em 15 de janeiro de 2019. De acordo com informações do órgão público, os papéis possuem cupom de juros de 5,875% ao ano. O preço foi de 100,539% do valor de face.

Após oito meses, o Banco Central realizou leilão de swap cambial reverso: todos os 67,6 mil contratos ofertados na terça-feira, com vencimento dia 1 de junho, foram adquiridos pelo mercado, numa operação que movimentou R$ 3,412 bilhões. Além disso, a autoridade monetária efetuou um leilão de compra de dólar à vista na última sessão da semana, em operação que não era realizada desde setembro de 2008.

Falando em câmbio, o resultado acumulado de abril do fluxo cambial teve um saldo positivo de US$ 1,43 bilhão, melhor desempenho desde setembro de 2008. Essa cifra inverte o fluxo negativo reportado no mês anterior, quando teve déficit de R$ 797 milhões.

No lado econômico, atenção maior foi dada à divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que demonstrou certo ceticismo quanto à recuperação da economia global. Também teve ampla repercussão o desempenho da indústria brasileira no mês de março, com recuo de 10% frente o reportado no terceiro mês de 2008.

relatório Focus trouxe como destaque a previsão de um ritmo menor de contração do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2009, agora em 0,30%. Já a balança comercial registrou um saldo positivo de US$ 1,167 bilhão na última semana de abril.

Os índices de preços, de maneira geral, sinalizaram aceleração da inflação. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medida oficial da inflação doméstica, registrou alta de 0,48% no mês passado, acima do esperado. O índice apurou taxa 0,28 ponto percentual superior à medição do mês de março (+0,20%). Em 12 meses, a alta foi de 5,53%, inferior à observada nos 12 meses anteriores (5,61%). Também divulgado pelo IBGE, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) registrou alta de 0,55% em abril, taxa 0,35 ponto percentual acima da apurada um mês antes. Também já foi anunciado que o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) registrou inflação de 0,04% no mês de abril, após a variação negativa de 0,84% vista em março.

As variações de Ibovespa, dólar e renda fixa
Com apenas um dia de queda nos cinco pregões da semana, o Ibovespa acumulou valorização de 8,68% e encerrou sua nona semana consecutiva de ganhos aos 51.395 pontos. Neste período de nove semanas, o índice soma ganho de 38,5%.

As intervenções do Banco Central não foram suficientes para conter o forte fluxo de investimento estrangeiro nos mercados brasileiros. Sendo assim, o dólar comercial manteve a trajetória declinante das duas últimas semanas e apresentou queda de 5,27%. Assim, a divisa norte-americana encerrou o período cotada a R$ 2,068 na venda.

No mercado de renda fixa, a taxa dos contratos de DI futuro com vencimento em janeiro de 2010, entre os líderes de liquidez, ficou em 9,47% na quinta-feira, queda de 0,23 ponto percentual diante do valor do final da semana passada. Por sua vez, a taxa anual do CDB pré-fixado de 30 dias fechou a 10,02%, com leve queda entre as semanas.

Destaques da agenda econômica da próxima semana
Dentro da agenda para a segunda semana de maio, os investidores estarão atentos, sobretudo, às vendas do varejo durante o mês de abril e aos indicadores de inflação norte-americanos.

No cenário nacional, destaque também para os índices de preços a serem publicados, com ênfase no IGP-10 referente ao mês de maio.

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