quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Wall Street enviou uma mensagem clara a Geithner: não gostamos das medidas

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
10/02/09 - 21h51
InfoMoney

SÃO PAULO - Wall Street enviou uma mensagem muito clara ao presidente Obama: não gostamos das medidas anunciadas. O primeiro contato efetivo da nova equipe econômica com o mercado não poderia ter sido pior. Levou à maior queda das bolsas norte-americanas no ano. 

Cansado de especular, o investidor praticamente implorava pordetalhes sobre o novo modelo de ajuda aos bancos. Recebeu poucos, e estes poucos que recebeu desagradaram. Não teve o especulado 'Bad Bank', não foram apresentados valores concretos. "Mudança zero", resumiu o estrategista Michael Cohn à rede CNBC.

Para alguém que assumiu um dos postos mais importantes da maior economia do mundo com uma proposta de mudança, este primeiro contato frustrou o mercado. Além dos comentários relativamente vagos de Timothy Geithner, uma série de críticas era levantada em meio à venda maciça de ações.

Quem fará o trabalho sujo?
O principal motivo é que governo vai, pacote vem, ninguém encontra uma solução convincente para os famosos ativos podres em posse dos bancos. Sob a percepção de que a parte ruim na maior parte das vezes acaba contaminando a melhor, muito se especulou sobre a criação de uma instituição pública para adquirir este problema, mas não teve Bad Bank.

Partirá da iniciativa privada assumir estes ativos, com participação e estímulo público. Voltou ao problema de como estes ativos podres serão precificados, como serão mantidos. Por isso o Bad Bank era elogiado. Faria o trabalho sujo, como seu nome sugere.

Cavalo de tróia
Sobre a questão, o Nobel em economia Paul Krugman foi enfático: "não parece prever uma compra maciça de títulos podres a preços premium; também não parece garantir contra perdas privadas com estes ativos podres. (...) Então o que é este plano? Realmente não sei, pelo menos baseado no que vi hoje. Mas talvez, talvez, seja um cavalo de tróia que contrabandeie a política certa a seu devido lugar".

Mais pressão sobre os bancos
Se a crise colocou alguém sob pressão foram os bancos. Estes mesmos bancos que parecem essenciais para a recuperação da economia, com o novo plano, serão muito mais pressionados. Geithner afirmou que as instituições financeiras passarão por um teste de estresse, serão submetidas a novas regras de regulação. 

Dos bancos partiu boa parte da resposta negativa às medidas. O mercado interpretou esta pressão como motivo para se desfazer das ações dos bancos, que já mostraram fragilidade enorme e agora receberão mais pressão. Brian Bethune, da Global Insight, lembrou que o mercado precisa retomar primeiramente suas condições de crédito e permitir a rolagem de empréstimos.

Sabatina do Senado
A exposição pública de Geithner nesta terça-feira foi mesmo cansativa. No Senado, o secretário de Tesouro apresentou seu plano e ouviu do republicano Richard Shelby: "Acho que precisamos de mais informações (...) estamos lidando com trilhões de dólares".

O Senado finalmente aprovou o pacote de estímulo de Obama, para ele de US$ 838 bilhões. Não conseguiu amenizar o clima. Krugman também criticou o pacote do novo presidente, não diretamente o novo presidente: "Os moderados fizeram o melhor que puderam para tornar o plano pior e mais débil", disse na véspera, em sua coluna no The New York Times.

Expectativa e frustração
Por outro lado, há quem diga que o pessimismo do mercado foi exagerado. "Este descontentamento foi excessivo", afirmou Marco Annunziata, da UniCredit, ao Wall Street Journal. De argumento, citou que o problema é complexo mesmo, como Geithner ressaltou ao longo das entrevistas do dia. Se esforçando a equipe de Obama já demonstrou estar, isto também é importante.

O certo é que ainda é muito cedo para avaliar a postura do novo time econômico norte-americano. O problema é grande, os esforços parecem grandes, mas está cada vez mais difícil convencer o mercado. Deste primeiro contato efetivo, fica um velho ditado: quando maior a expectativa criada, maior a possibilidade de frustração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário