quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A China está viva e as commodities idem

Os Estados Unidos foram e sempre serão o lugar mais observado pelos investidores para saber o que o mercado promete. Esse acompanhamento se tornou ainda mais obsessivo com a crise deflagrada exatamente no sistema bancário americano. Nos últimos meses, não há sequer um dia que a situação americana não esteja nas páginas dos jornais. 

De vez em quando, as pessoas se lembram da importância da China para o bom funcionamento do grande motor chamado economia mundial. Ontem foi um dia desses. Várias notícias sinalizaram que o gigante chinês está vivo. Essa percepção trouxe um gás novo aos mercados, especialmente aos dos países grandes produtores de commodities. Isso porque a China é um dos maiores consumidores de matérias-primas do mundo. E o Brasil se inclui nessa lista.  

Não por acaso, o Índice Bovespa chegou a subir 4,39% durante os negócios, impulsionado principalmente pelos grandes papéis de commodities. No entanto, a alta perdeu força e o índice fechou com valorização de 0,96%, aos 40.129 pontos. As ações da Vale e as da Bradespar (holding que controla a mineradora) foram as mais influenciadas, já que a China é o maior comprador do minério de ferro da companhia. As preferenciais (PN, sem direito a voto) série A da Vale subiram 3,62% e as ordinárias (ON, com voto), 4,42%. Já as PN da Bradespar se valorizaram 7,03%. 

O Índice de Compras dos Gerentes (Purchasing Managers Index, PMI) da China divulgado ontem em 45,3, enquanto se esperava 41,2. Apesar de ainda estar abaixo de 50, o que significa retração, o fato de sair acima do previsto foi interpretado como um excelente sinal de que a grande locomotiva das commodities continua em movimento. "Esse indicador é bastante importante e o resultado animou as expectativas com relação aos preços das commodities", diz o diretor de uma gestora de recursos independente.

O indicador se somou ao cenário benigno de queda gradual nos estoques de minério de ferro na China, que no fim do ano passado chegou a níveis elevadíssimos. Esse também é um sinal de que as siderúrgicas chinesas voltaram a vender, consequentemente, retomaram a produção. Ou seja, voltaram a comprar minério. Nos últimos dias, os preços do minério e do aço no mercado à vista (spot) começaram a se valorizar. Como uma reação em cadeia, esse movimento vem melhorando as expectativas com relação à negociação de preços do minério entre mineradoras e siderúrgicas.  
Algumas semanas atrás se cogitava uma redução média de 40% nos preços do minério da Vale. Hoje em dia, as projeções são de cortes entre 10% e 20%. É bom lembrar que do outro lado desta queda de braço estão as fortes siderúrgicas chinesas, que lutam a todo custo por uma queda de pelo menos 45%. 

O movimento pró commodities beneficiou também as ações de siderurgia. As PNA da Usiminas subiram 5,26%, as PN da Gerdau Metalúrgica, 4,88%, e as PN da Gerdau se valorizaram 4,68%. Já as ON da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) tiveram alta de 3,24%. As perspectivas mais animadoras para a economia chinesa vêm provocando um claro movimento de realocação na Bovespa. 

Os investidores estão vendendo os papéis mais ligados ao mercado interno, como varejo e consumo, para comprar os de commodities. Isso, em parte, explica a superioridade da bolsa brasileira se comparado ao desempenho de outros mercados neste ano. No ano, o Ibovespa acumula alta de 6,86%. As ações de mineração, petróleo (leia-se Petrobras) e siderurgia, juntas, têm a maior participação dentro do Ibovespa. 

Pior do que o pior  

Perto do fim do pregão, as ações ordinárias da Rossi Residencial começaram a cair, cair, de uma forma que parecia não parar mais. Elas fecharam em queda de 16,70%, a maior baixa do Ibovespa e a segunda maior da bolsa inteira. O tombo só não foi maior porque o dia acabou. 

Nas mesas de operações todos estavam atarantados em busca de um fato que pudesse explicar um movimento tão repentino, acentuado e isolado, já que os papéis das outras construtoras não acompanharam essa baixa. Enfim, a explicação. O UBS Pactual divulgou que as vendas contratadas da companhia no quarto trimestre de 2008 devem cair 45% ante o trimestre anterior. Recentemente, a própria Rossi divulgou uma projeção ("guidance") de queda de 25%. 
 
O que já parecia bastante ruim conseguiu ficar ainda pior. Em meio à tanto burburinho, a Rossi divulgou após o fechamento da bolsa uma prévia do balanço, com uma queda de 49% nas vendas contratadas no último trimestre. Conclusão: o que era 25%, passou a ser 45% e no fim das contas deve ser 49%. A expectativa é de que as ações da Rossi possam cair ainda mais no pregão de hoje.

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