terça-feira, 4 de novembro de 2008

Recuperação vem de várias maneiras, mas esta promete ser mais prolongada

SÃO PAULO - O debate se a economia global entrará ou não em recessão ainda está aberto. A mudança de cenário é inegável, mas a teoria define quadro recessivo como uma seqüência de dois trimestres de desaceleração econômica. Na semana passada, o PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano apontou retração de 0,3% na última passagem trimestral. Antes de esperar a confirmação ou não com o próximo trimestre, o mercado pode olhar de maneira mais prática; assumir que a tendência é negativa.

A bolsa é bom exemplo. Do topo, no final de maio, à mínima de 2008 do início na semana passada, o Índice Bovespa acumulou retração de 59%. Este movimento abrupto da bolsa mostra a primeira ponta da resposta em "V" característica dos mercados aos períodos de recessão econômica. 

Voltando no tempo, o período do pós-guerra marcou uma recessão com três trimestres consecutivos de queda próxima de 2% na atividade econômica norte-americana. A outra ponta do "V" vem com recuperação ainda mais expressiva. Dois trimestres seguidos e crescimento superior a 6%. O gráfico dos "V" frente às recessões históricas impressiona, mas este comportamento vem perdendo força. 

Grosso modo, os mercados sempre se recuperaram. Mas os últimos casos de recessão apontam recuperações em "L", mais prolongadas. A resposta passou a ser menos ágil, mais gradativa e demorada. Esta crise parece não ser diferente.

Caráter cíclico
Para fundamentar a afirmação de que os mercados sempre se recuperam, vale lembrar de seu caráter cíclico. O estourar da crise atual pode ser associado ao estouro de uma bolha, como ocorrido no mercado imobiliário norte-americano, sobre os contratos de petróleo ou na própria bolsa brasileira. 

Diante de tendência ascendente, o investidor atua como impulsionador do processo. A participação do capital especulativo ajuda a alimentar a bolha, que atinge seu ponto de inflexão. A partir daí, a tendência é contrária. A trajetória passa a ser de queda e acompanha um período de choque dos agentes, o que dá amplitude à virada da curva.

Passado o choque inicial, o comportamento dos agentes tende a se estabilizar, prevalecendo a tendência declinante. Mas como no caso de diversos ativos negociados na bolsa brasileira, a própria trajetória declinante assume tais proporções que torna o investimento novamente atrativo. Fica barato demais, como na relação entre o preço dos ativos e seus múltiplos. Na segunda-feira da semana passada, os múltiplos de muitos títulos privados negociados nos países emergentes atingiram mínimas históricas.

"L" ou "U"?
Chama atenção um release publicado pelo Société Générale no final da semana passada. Explicando este comportamento cíclico dos mercados, o banco de investimentos francês afirmou que, no momento, o consumidor ainda passa pelo momento de choque. "Quando este choque se dissipar, estarão melhor posicionados para os gastos". 

O release também sugeriu que esta crise ainda está em fase de manifestação, fator que prolonga a perspectiva de recuperação das economias. O economista turco Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, acredita que a recuperação a este colapso econômico deve apresentar composição em "U", sendo uma queda abrupta seguida de período de estabilização mais consistente para, posteriormente, a resposta positiva. 

Mas a aposta de Roubini para o "U" considera o sucesso da intervenção dos reguladores do mercado. Se não conseguirem controlar o sistema financeiro, acredita que a retomada virá em "L", ainda mais gradativa.

Os últimos dias têm sido relativamente mais tranqüilos, mas boa parte do mercado ainda joga o início da recuperação para o segundo semestre de 2009. Mesmo com diversas semelhanças aos precedentes históricos, a crise atual promete uma recuperação diferente. "Recoveries come in many shapes - this one is likely to be a long flat 'L' " - Recuperações chegam de diversas formas; esta deve ser um longo e horizontal "L", nas palavras do Société Générale.


Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
04/11/08 - 11h00
Fonte: InfoMoney

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